Numa fase inicial das pneumonias mais comuns em crianças e idosos, as células conseguem reparar os danos e manter a sua integridade travando a propagação da bactéria pelo organismo. Mas numa fase mais avançada de infeção, as células acabam mesmo por morrer e a infeção alastra. Nesta capacidade da célula conseguir responder precocemente poderá estar a chave para a descoberta de novas estratégias para combater a pneumonia. E é com base neste pressuposto que Joana Maria Pereira está a desenvolver o trabalho de doutoramento recentemente premiado com EMBO Scientific Exchange Grant, que lhe permitirá completar a sua investigação em Boston, durante três meses.
A frequentar o Programa Doutoral em Biologia Molecular e Celular do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Joana Maria Pereira está a desenvolver o seu trabalho sob orientação científica de Sandra Sousa, líder do grupo do “Cell Biology of Bacterial Infections” do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S). É ali que a jovem investigadora pretende “desvendar os mecanismos de reparação da membrana plasmática das células em resposta ao dano provocado pela pneumolisina, uma toxina formadora de poros libertada durante diferentes estadios da infeção por Streptococcus pneumonia, a bactéria responsável pelo maior número de casos de pneumonia em todo o mundo, especialmente em crianças e idosos”.
Numa fase avançada da infeção, explica a estudante, “esta bactéria liberta grandes quantidades de pneumolisina que causa morte celular e permite a disseminação da infeção pelo organismo”. No entanto, acrescenta, “durante o meu doutoramento, descobri que, em resposta a baixos níveis de pneumolisina, ou seja, numa fase inicial da infeção, as células “recrutam” proteínas específicas para reparar os danos da membrana plasmática que permitem a sobrevivência das células e travam a disseminação da bactéria pelo organismo”.
Novas estratégias de combate à pneumonia
No laboratório do investigador John Leong, da Universidade Tufts, em Boston, Joana Maria Pereira terá a oportunidade de validar os seus resultados “usando modelos de infeção complexos que incluem diferentes estirpes bacterianas expressando ou não a pneumolisina e células em interface ar-líquido que mimetizam toda a complexidade do epitélio pulmonar”.
Esta colaboração, acrescenta a jovem investigadora, “permitir-me-á cumprir todos os objetivos do meu trabalho de doutoramento e será essencial para validar os mecanismos de reparação da membrana plasmática descritos até agora num contexto de infeção e a sua importância na resistência do hospedeiro à infeção. A longo prazo, o conhecimento molecular destes mecanismos, poderá ser útil para o desenvolvimento de novas estratégias de combate à pneumonia em conjugação com antibióticos”.
A nível profissional, o estágio nos EUA permitirá a Joana Maria Pereira desenvolver novas competências técnicas que serão uma mais-valia para o grupo de investigação do i3S, uma vez que, sublinha, “irei adquirir conhecimentos e experiência na realização de infeções em modelos pulmonares mais complexos e relevantes que permitirão reduzir o uso de modelos animais”.
Além disso, sustenta, “ter uma bolsa financiada pela EMBO e ter o meu trabalho reconhecido por uma instituição tão prestigiada e de renome a nível mundial é um privilégio e um reconhecimento do meu projeto. Ter a oportunidade de desenvolver parte do meu doutoramento em Boston, num laboratório especializado em infeção, de integrar uma cultura tão diferente e de ter uma experiência internacional, será certamente uma experiência enriquecedora e inesquecível, tanto a nível científico como pessoal”.