“Arquitetura, Arte e Utopia – U.PORTO Alumni Little Books” é uma nova coleção que nasce com a chancela da U.Porto Press, que assim se associa à scopio Editions com o intuito de publicar pequenos livros (os book zines / little books) a partir de trabalhos de dissertação de mestrado de estudantes da Universidade do Porto.

A seleção das dissertações de mestrado, efetuada anualmente, baseia-se na qualidade dos trabalhos apresentados e na aproximação temática às áreas de Arquitetura, Arte e Utopia.

Constituída por publicações com um formato especificamente concebido para o efeito, esta nova coleção, projetada para ser simultaneamente em papel e online, é uma iniciativa conjunta do grupo de investigação Arquitectura, Arte e Imagem (AAI), integrado no Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo (CEAU) da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), e do Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (CETAPS/FLUP).

Os primeiros “pequenos livros” são de (agora) antigos estudantes da FAUP, estando previsto que sejam lançados em breve, nesta mesma coleção novos livros resultantes de dissertações de mestrado da FLUP e da FBAUP.

Os primeiros little books

Da autoria de Chloé Darmon, mestre em Arquitetura pela FAUP, Mulheres no Espaço Público | Arquivo, Fotografia e Imagem debruça-se sobre a experiência das mulheres na cidade moderna entre o final do século XIX e o início do século XX, especificamente nos lavadouros públicos da cidade do Porto. Como defende a autora, os lavadouros públicos são “a espacialização da condição das mulheres no sul da Europa e, no caso deste trabalho, na cidade do Porto, durante o processo de urbanização da cidade moderna”.

A higiene é vista como uma necessidade vital, sendo os lavadouros antigos vistos como espaços transmissores de doenças e epidemias. Com a criação dos SMAS (Serviços Municipalizados de Água e Saneamento) do Porto, a cidade transforma-se “num laboratório de experimentação de tipologias de lavadouros (…), o lavadouro como espaço comunitário desaparece dando lugar ao lavadouro como espaço de controlo do corpo das mulheres no espaço urbano”.

A autora propõe, assim, uma investigação historiográfica, urbana e arquitectónica destes espaços agora abandonados, à medida que se tornaram obsoletos a partir dos anos 90 do século XX, mas ainda muito presentes na memória popular dos bairros da cidade do Porto.

O segundo livro desta coleção Heterotopias Visuais | O Revelar do Rizoma Humano é da autoria de Diana Aires Senra. A mestre em Arquitetura pela FAUP, que nasceu e iniciou o seu percurso académico no Rio de Janeiro, avança que esta “publicação alternativa” resultou “de um questionamento pessoal acerca do espaço de cidade com o qual comunicamos e interagimos por meio dos sentidos, os quais nos influenciam e consequentemente nos tornam participantes ativos da vida das cidades”.

A autora refere-se a aspetos como “as vertigens tecnológicas da comunicação” que, na sua opinião, promovem “uma dicotomia da contemporaneidade”: se, por um lado, “o êxtase imagético” nos proporciona uma “nitidez excessiva, ao mesmo tempo (…) esteriliza a nossa experiência real do espaço e a própria conceção que dele temos”. Diana Senra remete-nos também para os cyborgs, “ajustados para caminhar (…), o que lhes retira a experiência direta com o espaço de arquitetura”, e sublinha as implicações de se tentar encaixar a arquitetura nos padrões visuais e tecnológicos.

Segundo a autora, o contexto contemporâneo reflete-se na compreensão que o indivíduo tem do seu próprio habitat, na medida em que a arquitetura (corpo imóvel) dialoga com o mundo através do corpo humano (corpo móvel).

Fragmentos da Cidade | Imagens de Arquitetura, do Espaço e da Memória é a terceira obra desta coleção. Desenvolvida entre o real e a ficção, esta dissertação de Raquel Lagoa – arquiteta pela FAUP, com experiências de estudo em Paris e na Tailândia – deu início a uma investigação que alia o raciocínio através da escrita à comunicação através da imagem. Assim, contribui para a construção de um discurso crítico e inovador sobre a arquitetura e a sua circunstância atual com o propósito de descodificar o enigma do real, onde arquitetura e cidade convergem através dos seus fragmentos.

Concebida como “um arquivo do presente”, a obra abre um espaço invisível entre o real e a ficção, denunciando que o seu fim não é sinónimo de conclusão, mas de pausa, como um ponto de situação que antecede uma futura prática de arquitetura.

Segundo Raquel Lagoa, os fragmentos vão “da forma ao conteúdo, da estrutura ao método e intenção, provisoriamente divididos em quatro momentos materializados em quatro caixas ou boîtes, numa analogia à organização de um arquivo”. Exibem-se experiências fragmentárias, “entre a teia de contradições do real”, que refletem a exigência multidisciplinar de um projeto de arquitetura.

A paisagem é o tema central de Memória | Território| Desenho, da autoria de Pedro Gonçalves de Barros, arquiteto que, paralelamente à sua atividade profissional, desenvolve investigações sobre a arquitetura e o urbanismo na Madeira.

O autor foi desenvolvendo este trabalho entre “a ontologia do presente” e a evocação de autores que “ajudaram a ler essa realidade e a (re)construí-la continuamente, com avanços e recuos”, tendo em vista a construção de um pensamento.

Para Pedro Gonçalves, enquanto sistemas complexos de acumulação das marcas da vida ao longo do tempo, “as paisagens são feitas de várias coisas”, sendo, em cada momento, “a realidade física que desse processo resultou”. Especificamente no que se refere à da ilha da Madeira, diz ser “profundamente marcada pela relação da obra do ser humano com o território, uma realidade instável e transitória (…)”.

Tomando a paisagem como invenção do ser humano, o autor assume-a como um conceito central na geografia e, também, como “património cultural, elemento imprescindível da identidade de um povo”, sendo que “todas as mudanças bruscas e aceleradas praticadas num território põem em causa a identidade dos lugares”.

Estes quatro títulos estão disponíveis na loja online da U.Porto Press.