Foi com um auditório praticamente cheio que a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) recebeu, no passado dia 29 de junho, o “ChatGPT: que modelos de aprendizagem para o ensino superior?”, um seminário que juntou professores, investigadores e estudantes para debater as implicações desta ferramenta no âmbito académico.

Na sessão de abertura, Altamiro da Costa Pereira, diretor da Faculdade de Medicina da U.Porto, abriu a sessão destacando a importância do evento para debater o papel de uma plataforma que poderá “ter impacto no destino da Humanidade”, apontou.

José Francisco Meirinhos, presidente da Comissão de Ética da U.Porto, entidade copromotora deste evento, salientou, por sua vez, a velocidade da adesão ao ChatGPT, plataforma que ultrapassou, em cinco semanas, metas que redes sociais como o Facebook, Twitter e TikTok demoraram meses a alcançar.

José Castro Lopes, vice-reitor da Universidade do Porto, abordou a integração do ChatGPT no Ensino Superior, assegurando ainda que a U.Porto irá sempre garantir “a qualidade de excelência do seu ensino”.

“A máquina e a tecnologia vieram para ficar”

Moderada por Mário Fernandes, presidente do Conselho Pedagógico da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), a primeira mesa do simpósio arrancou com a intervenção de Ricardo Correia, docente da FMUP, que destacou o papel do ChatGPT no ensino de Medicina, acrescentando que a ferramenta poderá facilitar a compreensão de conceitos-base do setor.

Durante a segunda intervenção, Diniz Cayolla Ribeiro, docente da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP), refletiu sobre os desafios que o ChatGPT coloca ao ensino e à avaliação dos estudantes, vendo-o como “uma oportunidade”. “O ChatGPT obrigou-me a repensar a forma como avalio e a forma como ensino”, afirmou. Para responder ao desafio, concebeu “um fluxo de trabalho” que garante, por exemplo, que os estudantes saibam a diferença entre os vários tipos de fontes. “É muito importante que os alunos saibam aqueles que efetivamente contribuíram e aqueles que andam a repetir o que os outros disseram”.

Seguiu-se Diana Urbano, professora da Faculdade de Engenharia (FEUP), que apontou que as plataformas de inteligência artificial “deverão ser utilizadas para promover o pensamento crítico”.

“Quando questionamos a máquina, para obter uma resposta adequada, temos de ser extremamente específicos e já ter algum conhecimento sobre a temática”, explicou a docente , defendendo que a utilização destas ferramentas “deve ser promovida em sala de aula” para “motivar os estudantes e prepará-los para o futuro”.

Rui Sousa Silva, linguista e professor da FLUP, defendeu que “a máquina e a tecnologia vieram para ficar” e afirmou que a Inteligência Artificial poderá, por exemplo, incentivar a aprendizagem de novos idiomas, uma vez que o ser humano evita o constrangimento de errar perante os seus pares, mas destaca que, no Ensino Superior, “deve ser garantida uma escrita de qualidade”.

Emília Dias da Costa, docente da FBAUP, abordou o papel da Inteligência Artificial (IA) na criação de imagens adulteradas e no desenvolvimento de material visual. De acordo com a palestrante, “há uma diferença entre “imaginação e criação” sendo a imaginação apenas garantida, segundo a mesma, pelo ser humano. No entanto, reconhece que a IA poderá apoiar os estudantes “na fase de criação”.

“Temos que explorar mais as capacidades humanas”

Seguiu-se um debate moderado por Rui Nunes, professor catedrático da FMUP e presidente da Comissão de Ética da mesma Faculdade. Um momento em que Ana Margarida Ferreira, investigadora da FMUP, refletiu sobre os desafios que a tecnologia levanta ao nível da partilha de dados e desinformação. Segundo a especialista em Tecnologias da Informação, “temos que explorar mais as capacidades humanas, como o espírito crítico, a atenção e a criatividade”.

Pedro Ferreira, docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP), defendeu o desenvolvimento de uma maior literacia sobre a IA, e destaca que plataformas como o ChatGPT utilizam filtros que poderão levar à perda de alguma informação.

Ana Paula Rocha, da Faculdade de Ciências (FCUP), abordou as consequências da plataforma nos direitos de autor de trabalhos académicos e científicos, tema que, na visão de Maria Nazaré Teixeira, responsável pelos Serviços Jurídicos da U.Porto, também exige alguma “sensibilidade por parte dos estudantes”, que “devem seguir os códigos de ética que a Universidade preconiza”.

Carlos Alves, vice-presidente da Federação Académica do Porto (FAP), acredita que, no futuro, o Ensino Superior “vai promover o uso de tecnologias e inteligência artificial”, processo que, segundo o mesmo, “vai colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem”.

O seminário “ChatGPT: que modelos de aprendizagem para o ensino superior?” encerrou com a intervenção de Guilhermina Rêgo, do Conselho Executivo da FMUP, e Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da Universidade do Porto.