Do Porto a Manaus, no Brasil, vão mais de 7.000 quilómetros, dois rios mágicos e um oceano de distância. Mas, na tarde de 27 de junho, as distâncias esfumaram-se para assinalar os 30 anos de colaboração entre a Universidade do Porto e a Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Um encontro a distância que teve como ponto alto a atribuição do Doutoramento Honoris Causa da UFAM a Alberto Amaral, antigo Reitor da U.Porto, professor jubilado da Faculdade de Ciências (FCUP) e figura seminal na internacionalização da Universidade.
“A criação de relações privilegiadas com os países de língua portuguesa foi sempre um desígnio fundamental da Universidade do Porto. (…) Esta cerimónia é a celebração do encontro de duas cidades, cidades tão diversas onde, no entanto, nos sentimos sempre em casa, cidades irmãs de países irmãos, unidas pela história, pela língua e pela cultura”, começou por referir o homenageado, num discurso proferido a partir do Salão Nobre da Reitoria da U.Porto.
Evocando as suas viagens ao Brasil, Alberto Amaral frisou que “quem, como eu, teve o privilégio de estar na Amazónia nunca mais a esquecerá”. Palavras que deram o mote para uma reflexão sobre os desafios que as instituições de ensino superior enfrentam atualmente.
“Infelizmente, e como a Amazónia, também a Universidade terá que ser protegida desses movimentos que a querem tornar num instrumentos da sociedade capitalista, mera ferramenta para treinar a mão de obra necessária para as empresas, reduzida de instituição social a uma organização prestadora de serviços”, exortou.
Para o antigo diretor do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), “o novo mantra do ensino superior transforma os estudantes em consumidores ou clientes, forçando as instituições a garantir a sua satisfação”. E alerta: “A retórica da universidade, que até recentemente era baseada na qualidade científica e na liberdade académica, está a ser substituída pela da gestão e da eficiência. O resultado é a diminuição da liberdade académica e a redução do espírito critico”.
Lembrando que “as universidades devem educar os seus estudantes para serem indivíduos prontos a aprender e não prontos a trabalhar”, Alberto Amaral terminou com um desafio: “Sugiro que esta cerimónia de cooperação entre a UFAM e a U.Porto seja usada como ponto de partida para a criação de um movimento das nossas universidades em prol, quer da defesa da Amazónia, quer da defesa da própria Universidade”.
Por mais 30 anos “férteis em conquistas conjuntas”
A concessão do maior título honorífico da UFAM a Alberto Amaral marcou assim uma cerimónia que serviu para celebrar e renovar os laços de cooperação entre a U.Porto e aquela universidade brasileira.
“É com muita honra e satisfação que celebramos estes 30 anos de parceria entre a Universidade do Porto e a Universidade Federal do Amazonas. Não posso deixar de felicitar a justa homenagem que a Ufam concede ao professor Alberto Amaral, um dos reitores mais determinantes da Universidade do Porto”, enalteceu o Reitor da U.Porto, António de Sousa Pereira.
Discursando a partir do Salão Nobre da Reitoria, onde também marcou presença o Secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Teixeira, o Reitor recordou que “o Brasil é uma prioridade na cooperação internacional da Universidade”, pelo que” é do nosso interesse continuar esta parceria que hoje reconhecemos”. Para o futuro, ficou o desejo: “que os próximos 30 anos sejam muito mais férteis em conquistas conjuntas!”.
Já o Reitor da Universidade Federal do Amazonas, Sylvio Puga, destacou a parceria com a Universidade do Porto como “a mais antiga cooperação internacional em vigência na UFAM”.
“Tive a oportunidade de testemunhar a assinatura desse acordo no Conselho Universitário da Ufam, enquanto eu era representante discente. Agora, como Reitor, assinarei, com muita alegria, a renovação desta parceria que gera importantes contribuições no âmbito da pesquisa e da inovação, além da qualificação de diversos docentes e discentes da Universidade Federal do Amazonas, contribuindo para o desenvolvimento da ciência brasileira e amazónica, nas mais diversas áreas”, assinalou o representante da UFAM.
Além dos reitores das duas universidades, intervieram na sessão as vice-reitoras Maria Joana de Carvalho (U.Porto) e Therezinha Fraxe (UFAM), bem como o presidente do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas, Conselheiro Érico Desterro.
Sobre Alberto Amaral
Natural de Fafe, Alberto Amaral (1942) é licenciado em Engenharia Químico-Industrial pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (1965), tendo-se doutorado, em 1968, em Química Quântica na Universidade de Cambridge (Reino Unido). Nesse mesmo ano integra o corpo docente da FCUP, faculdade que viria a dirigir de 1978 a 1985 e onde se tornou professor catedrático do Departamento de Química e Bioquímica.
Eleito Reitor da Universidade do Porto em 1985, Alberto Amaral teve um dos reitorados mais longos da história da instituição, tendo renovado o mandato por duas vezes, em, 1990 e 1994. Sob a sua égide, a Universidade viveu uma profunda expansão, de que resultou, entre outros momentos, a integração da Escola Superior – e futura Faculdade – de Medicina Dentária (1989) e da ESBAP, convertida em Faculdade de Belas Artes (1992), a criação da Faculdade de Direito (1994), ou a construção dos novos edifícios das faculdades de Ciências, Letras, Arquitetura, Desporto, Medicina Dentária e Engenharia, a par de várias residências universitárias e centros de investigação.
Editor ou coeditor de diversos livros e autor de artigos em revistas internacionais, Alberto Amaral foi ainda o responsável por trazer para Portugal um conjunto de novas metodologias de avaliação primeiramente aplicadas dentro da U.Porto e depois generalizadas às universidades públicas, num processo do qual viria a resultar a criação do CNAVES (Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior).
Após terminar o terceiro mandato como Reitor, passou a dirigir o Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), organismo que se tornou num centro de referência na produção de conhecimento acerca das políticas do ensino superior. Foi também presidente do Conselho de Administração da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior.
Por ter contribuído para o prestígio da Faculdade de Ciências e da Universidade do Porto, Alberto Amaral recebeu, em 2012 (ano da sua jubilação), o Prémio Centenário da FCUP e a Medalha de Mérito da U.Porto.