São 78 milhões de euros para aplicar num grande consórcio “de inteligência artificial responsável” que vai envolver empresas, hospitais e centros de investigação de todo país, incluindo o Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência de Computadores (LIACC) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). O anúncio foi feito no decorrer da edição da Web Summit 2022, em Lisboa, por Paulo Dimas, responsável de inovação e produto da Unbabel, a plataforma portuguesa baseada em inteligência artificial que lidera aquele que é “provavelmente o maior consórcio à escala mundial nesta área”.
Composto por 10 startups – Feedzai, Sword Health, Apres, Automaise, Emotai, NeuralShift, Priberam, Visor.ai, Ydata, Yoonik – oito centros de investigação espalhados por Lisboa, Porto e Coimbra – FEUP, Fundação Champalimaud, CISUC, Fraunhoffer Portugal AICOS, INESC-ID, Instituto Superior Técnico e Instituto de Telecomunicações – e ainda parceiros da área da saúde (Bial, Centro Hospitalar São João, Luz Saúde), do Turismo (Grupo Pestana) e Retalho (Sonae), este consórcio configura uma grande oportunidade, uma vez que irá permitir criar mais de 210 novos postos de trabalho altamente qualificados. Por outro lado, reveste-se de enorme importância estratégica face aos riscos apresentados pela área de inteligência artificial, atualmente. E que riscos são estes?
“Com a popularização das tecnologias de Inteligência Artificial e Machine Learning, rapidamente nos apercebemos de que, como com qualquer tecnologia, a par com o valor que a sua utilização correta cria, a sua utilização indevida pode promover o preconceito, em termos de género, raça e outras dimensões”, começa por explicar Carlos Soares, professor do Departamento de Engenharia Informática da FEUP.
Por “utilização indevida” não se depreende apenas o uso mal-intencionado de determinada ferramenta, até porque, como explica o especialista da FEUP em Data Science, muitas vezes é “consequência de uso bem-intencionado mas errado, por falta das competências adequadas”.
“Da mesma forma que todos os medicamentos têm uma bula com informação sobre a sua composição, utilização correta e riscos associados, nós acreditamos que os modelos e algoritmos de IA terão que ser acompanhados de uma ficha técnica (um “model card” ou “algorithm card“) com toda a informação relevante para a sua utilização correta”, exemplifica Carlos Soares.
A União Europeia tem estado atenta a estes riscos e tem-se mostrado interessada na regulação do setor. Prova disso são os 51 milhões de incentivo provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no consórcio. A previsão aponta para um impacto na economia portuguesa na ordem dos 250 milhões de euros em exportações até 2030, resultado do desenvolvimento de 21 novos produtos de inteligência artificial.
A importância das tecnologias de machine learning
A participação da FEUP vai acontecer a partir do Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência de Computadores (LIACC). No topo das prioridades está o desenvolvimento de técnicas de metalearning (meta-aprendizagem, ou seja, a utilização de técnicas de machine learning para analisarem o comportamento de outras técnicas de machine learning) para suportar o desenvolvimento semi-automático de “model cards” e “algorithm cards”.
Para isso, está prevista a criação de uma equipa composta por doutorados e mestres, que “permita manter a FEUP e o LIACC na vanguarda da inteligência artificial responsável, assim como empresas parceiras que contratam na FEUP os recursos humanos avançados nestas áreas”, esclarece Carlos Soares.