A investigadora Teresa Canedo, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), e as alunas do Programa Doutoral MCBiology da U.Porto, Ana Isabel Silva e Ana Filipa Terceiro, também a fazerem investigação no i3S, foram distinguidas no congresso Neuro 2022 em Okinawa, Japão, com o primeiro, segundo e quarto prémios, respetivamente. As três investigadoras estudam a ação no cérebro da metanfetamina, uma droga de abuso psicostimulante muito potente.
A desenvolverem trabalho científico no grupo «Addiction Biology», liderado por Teresa Summavielle, Teresa Canedo, Ana Isabel Silva e Ana Filipa Terceiro receberam prémios Travel Awards no valor das viagens, estadias e inscrições no referido evento. «Mais do que o valor dos prémios, que também foi muito importante e tem bastante impacto nas contas do grupo, foi muito gratificante este reconhecimento internacional do trabalho que desenvolvemos em Portugal e especificamente no nosso grupo», explicam.
O trabalho de Teresa Canedo, já publicado no final de 2021 na revista Neuropsychopharmacology, demonstra o efeito inflamatório no cérebro causado por um consumo agudo de metanfetaminas, explica como este mecanismo é desencadeado e mostra que, conseguindo travar esse mecanismo, é possível agir preventivamente e evitar comportamentos que normalmente estão na origem de recaídas. A investigadora descobriu que as metanfetaminas ativam um tipo específico de células da glia, os astrócitos, e que são estes estes que desencadeiam o processo neuroinflamatório, ao libertar glutamato de forma excessiva, um neurotransmissor, que ativa a microglia, as principais células imunitárias do cérebro.
Tendo igualmente como objetivo «descobrir terapêuticas de desabituação mais eficientes», Ana Isabel Silva recorre a ratinhos mutantes para explorar a IL-10, uma citocina anti-inflamatória, com potencial ação terapêutica no quadro inflamatório provocado pela metanfetamina. «Neste caso, tentamos prevenir alguns dos comportamentos causados pelo consumo desta droga e que são promotores de recaídas, como as alterações de ansiedade e a perda de avaliação de risco, que anteriormente demonstrámos estarem relacionadas com a neuroinflamação causada pela metanfetamina», explica.
Já Ana Filipa Terceiro estuda os neurónios do hipocampo, uma região importante na formação de memórias, e por isso, no desenvolvimento da adição a drogas de abuso. A metanfetamina, sublinha, «altera a morfologia dos neurónios e a forma como comunicam entre si, pelo que é essencial conhecer os mecanismos pelos quais esta alteração acontece para se poder recorrer a novas abordagens terapêuticas».
Sobre a metanfetamina
A metanfetamina faz parte das anfetaminas e pertence à categoria das substâncias psicoestimulantes, como a cocaína. Trata-se de uma substância química (sintética) potente, perigosa e que causa dependência extrema de forma muito rápida. Tudo porque tem um efeito estimulante no sistema nervoso central e cria uma falsa sensação de energia, euforia, reduzindo a ansiedade, aumentando a autoconfiança e a agressividade.
O Gabinete das Nações Unidas sobre as Drogas e Crimes estima que existam atualmente mais de 24,7 milhões de consumidores, 80% dos quais com menos de 30 anos. Dados recentes apontam, inclusivamente, para um aumento do uso de psicotrópicos até mesmo entre pessoas com mais de 50 anos.
Não é a droga mais consumida a nível mundial, mas é a que merece maior preocupação, não só por integrar a composição de alguns medicamentos, mas também por ser vista como uma droga de recreação e ser muito utilizada por estudantes em altura de exames.