Inaugura no próximo dia 21 de julho, pelas 17h00, no Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR) a exposição temporária DEPOSITORIUM 3 – Encontro(s) às Cegas. Trata-se de um trabalho colaborativo de curadoria desenvolvido por estudantes de áreas tão distintas como Gestão, Direito, Veterinária, Engenharia, Arquitetura ou Belas Artes. O que têm em comum? Integraram, ao longo do último semestre, a Unidade Curricular “Cultura, Arte e Património: O Museu como lugar de fruição”, inserida no programa de oferta formativa de Competências Transversais e Transferíveis.
Do Museu, os estudantes fizeram a sua nova casa. Foi uma experiência multidisciplinar e de aprendizagens múltiplas. Um espaço onde a fruição das formas, das cores, das técnicas e das prioridades originou ideias novas. Descobriram diferentes formas de observar e de pensar.
Para esta terceira edição do ciclo DEPOSITORIUM, as peças foram selecionadas das reservas de pintura, escultura, joalharia, cerâmica e têxtil. Foi um Encontro às Cegas.
“Conhecer o museu por dentro. Todos os corredores secretos, todo o acervo… Aquilo que ninguém conhece” foi o que mais entusiasmou Abril, estudante do Mestrado Integrado em Arquitetura da FAUP. Desde a discussão sobre “o bolor”, o restauro das peças, até ao “resultado final que se vai ver, foi uma experiência fantástica”. Sentiu-se “por dentro de tudo o que se passa dentro de um museu”. Sentiu-se “parte da casa”.
Já Jéssica Novais, estudante da Licenciatura em Ciências da Educação da FPCEUP, destaca o contacto transversal com todas as áreas, especialmente a educativa, ou seja, a relação que o museu estabelece com as escolas. “Foi uma oportunidade única a de viver esta experiência e perceber como é que realmente funciona, no dia-a-dia, o setor educativo de um museu”, diz.
É também na FPCEUP que Edysandra Frisoli está a desenvolver o Mestrado em Ciências da Educação. Da experiência vivida no MNSR, a estudante brasileira diz levar daqui uma “imensa aprendizagem” que acabou por “abraçar todas as áreas e dimensões do conhecimento” do seu percurso.
Clarisse Pamplona, a fazer um mestrado em História de Arte, Património e Cultura Visual na FLUP, sublinha, por sua vez, a oportunidade de “perceber como um museu funciona por dentro”, todo o processo de bastidores e tudo o que está “por trás da apresentação de uma exposição”.
Particularmente radiante está Daniela Geraldes que, depois desta experiência decidiu candidatar-te a um estágio no MNSR. E conseguiu!
Um encontro com as obras escolhidas pelos estudantes
Hugo Barreira, docente responsável pela Unidade Curricular, não esconde o entusiasmo com a forma como a mesma culminou. “Conseguimos materializar o projeto numa exposição com peças do museu, com base numa proposta de curadoria conjunta dos estudantes, orientados por mim e pelas museólogas Adelaide Carvalho e Paula Azeredo”.
A ideia foi-se trabalhando, partindo da premissa, “de um encontro às cegas com obras do museu escolhidas pelos estudantes”. O que temos é uma exposição “pensada por uma geração das redes sociais, do virtual, para essa mesma geração, mas proporcionando simultaneamente uma fuga às mesmas, daí o título Encontros às cegas. O diretor e a equipa do Museu foram absolutamente excecionais e deixaram-se contagiar pelo entusiasmo dos estudantes”, destaca o docente do Departamento de Ciências e Técnicas do Património da FLUP.
São 15 “peças”, em alguns casos compostas por vários objetos, distribuídas no espaço “de modo a proporcionar alguns núcleos” que se relacionam entre si. O visitante recebe um questionário que o convida a encontrar a “sua” peça, aquela com a qual mais se identifica. A exposição apresenta ainda “textos partilhados pelos estudantes” com “uma versão expandida acessível através de um código QR”, explica Hugo Barreira.
Foi um projeto totalmente colaborativo, inter, trans e multidisciplinar, combinando sensibilidades de estudantes das mais variadas áreas, permitindo-lhes “adquirir e desenvolver as chamadas softskills” já que estiveram em ambiente real de funcionamento do museu e “contactaram com a gestão de trabalho em equipas, a comunicação, metodologias colaborativas, etc., todo um conjunto de competências que serão úteis em qualquer área. Foram amplamente estimulados na sua capacidade de comunicar, valorizar e fruir do património artístico e cultural”, acrescenta o docente da FLUP.
Motivos que levam Hugo Barreira a considerar que os objetivos da UC foram “plenamente cumpridos, nomeadamente no acesso à literacia artística, cultural e patrimonial, bem como aos conhecimentos sobre cultura visual e possibilidade de compreensão do back-office do museu e sua decorrente fruição mais completa enquanto espaço cultural.
O encontro da Universidade com o Museu
Este Encontro às Cegas é elucidativo “do encontro da Universidade com o Museu”, diz-nos Fátima Vieira, Vice-Reitora para a Cultura e Museus da U.Porto. E dele “resultará sem dúvida uma relação com futuro”.
Para a responsável, “o futuro das universidades passa pela sua capacidade para oferecerem aos estudantes um currículo que vá para lá da formação especializada, introduzindo-os em novos mundos, sensibilidades artísticas e cosmovisões”, assim como, o futuro dos Museus passará também pela “capacidade para se afirmarem como instituições públicas de conhecimento e plataformas de inovação social”. Ambos “têm de crescer de mãos dadas – e confesso que me deixo comover quando penso no futuro desta nova relação”.
Para além da “riqueza da diversidade de vocações e percursos, é essencial comunicar, sair do lugar, confrontar uma realidade diferente” remata Hugo Barreira. Desafio que foi abraçado por estes estudantes “pioneiros” que entraram na Unidade Curricular de Cultura, Arte e Património – O Museu Como Lugar de Fruição.
Para o Diretor do MNSR, a exposição materializa “a concretização de um trabalho feito em conjunto. As peças foram escolhidas pelos estudantes, que estiveram em contacto com todos os serviços do museu” e a própria curadoria “traz uma nova experiência à forma como as exposições podem ser comunicadas, criando relações entre o objeto de arte e o publico que o assiste”. Avaliando a experiência e aquilo que foi necessário rever António Ponte sublinha que “o museu está completamente disponível para repetir a experiência no próximo ano letivo”.
A exposição DEPOSITORIUM 3 – Encontro(s) às Cegas pode ser visitada de acordo com o horário de funcionamento do Museu: De terça a domingo, das 10h00 às 18h00 horas, encontrando-se fechado às segundas, 1º de janeiro, Domingo de Ressurreição, 1º de maio e 25 de dezembro. Tem um custo de entrada de 3 euros e encerra a 16 de Outubro.
Pensar “fora da caixa”
O Museu como Lugar de Fruição foi uma das cinco novas unidades curriculares transversais lançadas este semestre pela U.Porto, em parceria com algumas das principais instituições culturais da cidade, com o objetivo de ajudar os seus estudantes a pensar “fora da caixa”.
Além do Museu Nacional Soares dos Reis, fazem parte deste projeto pioneiro a Casa da Música, o Teatro Nacional São João, o Jardim Botânico e a Faculdade de Belas Artes (FBAUP).