Em Torno de Walter Scott. Problemáticas de Identidade faz-nos mergulhar na novelística histórica do romancista, poeta, dramaturgo e historiador, nascido em Edimburgo em 1771. A edição acaba de ser publicada pela U.Porto Press., a editora da Universidade do Porto.
Questões relacionadas com a identidade e com e a forma como o Ocidente e o Oriente, muçulmanos e cristãos, autóctones e estrangeiros se relacionam nas mais diversas circunstâncias históricas são o enfoque desta reflexão apresentada por Jorge Bastos da Silva, docente da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP).
O Rosto Velado de Moisés: Religião e Orientalismo em Obras de Thomas Moore e Walter Scott; Duplicidades: Sujeitos Velados na Obra de Walter Scott e Identidades Fluidas em Walter Scott: O Caso de Count Robert of Paris são os capítulos desta análise, feita à luz do quadro psicológico das personagens, da identificação dos fundamentos históricos, da narrativa e da imagética do romance histórico de Walter Scott.
Nativo do lado de lá da fronteira
Filho de advogado, Walter Scott teve, efetivamente, uma carreira na área do Direito, mas acabou por ser a literatura que o distinguiu. É a ele, de resto, que se atribui a paternidade da criação do romance histórico moderno.
À “documentação escrita, escrupulosamente apurada”, refere Jorge Bastos da Silva, “o romancista junta a memória de testemunhos pessoais”. Assim é o caso de Rob Roy, um romance histórico sobre Frank Osbaldistone, o filho de um comerciante inglês que viaja às terras altas da Escócia para coletar um débito roubado de seu pai.
Rob Roy MacGregor, que dá título ao livro, é um lendário herói com “um inegável poder de sedução”. Surge no romance, afirma o docente da FLUP, num exercício que Scott faz de “figuração de si mesmo”, ou seja, como “etnógrafo, folclorista e autor de ficção à qual subjaz o seu perfil de antiquário escocês”. Era “nativo do lado de lá de uma fronteira que estremava dois hemisférios assíncronos”, a cada um correspondiam “tipologias díspares de mentalidades e personalidades, correspondentes a estádios civilizacionais diferentes”. E é assim que nos surge, no horizonte, uma Escócia como “terra de figuras românticas e pertenças tribais” que constitui, só por si, “um anacronismo” que era necessário “exorcizar”.
O capítulo sobre Identidades Fluidas em Walter Scott, especificamente dedicado ao Caso de Count Robert of Paris, Jorge Bastos da Silva identifica “o explorador de ideias desafiadoras, capaz de conferir densidade ao romance que relata aventuras para assim o converter no palco de uma aventura intelectual”.
Nesta análise de Jorge Bastos da Silva, Walter Scott emerge como um “nacionalista nostálgico, cujo fascínio pela identidade escocesa prescinde da independência política”. O primeiro romance de Walter Scott, Waverley, cuja ação decorre durante o levantamento jacobita de 1745, foi um imediato sucesso. Obras como Ivanhoe, O Talismã ou Rob Roy, entre muitas outras, tiveram várias adaptações ao cinema e ao teatro. Os seus romances históricos contribuíram para um maior conhecimento do passado de Inglaterra e da Escócia.
Em Torno de Walter Scott. Problemáticas de Identidade, publicado pela U.Porto Press, está disponível aqui.
O autor
Docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Jorge Bastos da Silva tem como principais áreas de trabalho a Literatura e a Cultura Inglesas, os Estudos sobre a Utopia e os Estudos de Tradução e Receção. Entre os seus livros encontram-se Utopias de Cordel e Textos Afins (Quasi Edições, 2004) e Shakespeare no Romantismo Português (Campo das Letras, 2005). É
membro de dois centros de investigação sediados na Universidade do Porto: o Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies (CETAPS) e o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa.