Antes de entrar, um aviso: Esta é uma exposição de desenho e não uma exposição de arte! Da Engenharia às Ciências, das Letras a Medicina, do Desporto à Arquitetura Ver, querer ver, dar a ver / Desenhar entre fronteiras na Universidade do Porto apresenta mais de 250 desenhos produzidos por estudantes, docentes e investigadores das mais diversas áreas do saber, com exceção de Belas Artes. Abre portas dia 15 de julho, nas Galerias da Casa Comum (Reitoria).
Este pensar visualmente já se vem materializando desde Leonardo Da Vinci e posiciona-se como um forte aliado da pedagogia. Capaz de cruzar perceção ativa, cognição e criatividade o desenho torna visíveis interpretações do real, clarifica o que é complexo, facilita a memorização e materializa ideias. O que esta exposição propõe é, precisamente, uma viagem pelo poderoso instrumento pedagógico que é o desenho. A representação visual do que existe, do que ainda, ou já não e do que nunca existiu. Vamos aprender a olhar com o lápis na mão?
Como pode o desenho estimular a aprendizagem, a produção e a comunicação de conhecimento? Vamos às respostas!
Um instrumento ao serviço da investigação e da pedagogia
Desde cortes de ovários de peixes, esporos de parasitas, cabeças de pássaros, fetos de ratinhos e medusas, foi preciso ver com atenção para desenhar. Porque se quer realmente ver, mas não só. Também porque se quer dar a ver. Porque há um conhecimento para partilhar. Dispersos pelas Galerias da Casa Comum vamos encontrar desenhos e ilustrações, mas também diagramas e anotações que se fazem nos quadros das salas de aula, projetos de arquitetura e engenharia, microcosmos (biologia), mapas (geografia, cartografia e morfologia urbana), registo de vestígios do passado (arqueologia, geologia) e construções do futuro (arquitetura, engenharia e ciências)…
Ver, querer ver, dar a ver / Desenhar entre fronteiras na Universidade do Porto quis afastar-se do território das artes e, como tal, oferece o desenho como um como um meio que permite ver e dar a ver. É o desenho como “instrumento pedagógico e de investigação”, diz-nos Mário Bismarck, professor da Faculdade de Belas Artes (FBAUP) e um dos curadores da exposição.
Queres que te faça um desenho?
A partir das recolhas de desenhos produzidos por estudantes, docentes e investigadores das diversas faculdades, departamentos, cursos e unidades de investigação, o recurso a esta ferramenta que treina o olhar revelou-se transversal e foi essa variedade que se quis demonstrar.
Ver, querer ver, dar a ver / Desenhar entre fronteiras na Universidade do Porto vem relevar como, afinal, tantas vezes, é através do desenho que pensamos. É ele que nos ajuda a ver, perceber e resolver. Primeiro para nós e depois na partilha com o outro. É uma chamada de atenção, afirma Mário Bismarck, “para um dispositivo de visualização que ajuda a pensar o que é confuso. É um apelo à espacialidade da imagem e do pensamento”. Nas situações onde a palavra não é suficiente “um diagrama ajuda ao raciocínio”. Daí a expressão: “Queres que te faça um desenho?!”
Balanço feito, assumindo formas diversas, o desenho funciona não apenas como ferramenta de aprendizagem, mas também como plataforma de comunicação. De partilha de conhecimento. Responde a três necessidades concretas: clarifica informações complexas (biologia, química, cartografia, etc.); organiza e comunica pensamentos e torna visível o que não é. Isto porque ainda não existe (projeto: engenharia e arquitetura), porque já não existe (arqueologia) ou porque simplesmente nunca existiu (especulações).
Do real ao imaginário
Dividida em quatro módulos, a exposição faz um percurso pelo património do real e do imaginário representado. O real, que existe materialmente, obriga à observação e interpretação do mundo visível.
Desenhar o que ainda não existe implica projetar, designação comum em arquitetura ou engenharia. Configura um processo visual de resposta a problemas complexos.
O que já não existe impõe a reconstituição visual de um tempo ou lugar através de vestígios (arqueologia, geologia, mapas históricos, paleontologia, etc.). Atribui sentido à ruína.
Desenhar o que nunca existiu é visualizar e esboçar esquemas, gráficos, tabelas e hipóteses. Estamos no domínio da Hipotetigrafia, onde as formas não visíveis são figuradas visualmente.
O estado da arte
Feito o levantamento e diagnóstico do uso do desenho nas diversas unidades orgânicas, laboratórios e centros de investigação da U.Porto há que perceber de que forma se pode fortalecer a robustez do traço nas mãos de quem pode desenhar para melhor entender. E aprender. Daí que esteja na calha, já para o próximo semestre, a realização de workshops, dirigidos a estudantes, para a promoção da literacia visual na Universidade do Porto.
Esta exposição é o lado visível de um projeto de investigação Desenho na Universidade Hoje – Os usos do desenho enquanto investigação, criação e pedagogia na Universidade do Porto, sediado no I2ADS (Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade) e que pretende desenvolver um estudo crítico sobre os diversos usos do desenho nas unidades orgânicas, laboratórios e centros de investigação da U.Porto. Para além de Mário Bismarck, são também curadores da exposição Sílvia Simões, Vitor Silva e Vasco Cardoso, docentes da U.Porto.
Com entrada livre, Ver, querer ver, dar a ver / Desenhar entre fronteiras na Universidade do Porto poderá ser visitada durante a semana, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 17h30, e aos sábados das 15h00 às 18h00. Ficará patente nas Galerias da Casa Comum, no edifício histórico da Reitoria da Universidade do Porto, de 15 de julho a 25 de setembro de 2021.