O hidrogénio e as tecnologias associadas às pilhas de combustível e dos electrolisadores vão estar em destaque de 16 a 18 de junho, no âmbito da International Summer School in Hydrogen & Fuel Cells Technology, uma Escola de Verão Internacional organizada pelo Centro de Estudos de Fenómenos de Transporte (CEFT) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP).
A decorrer em formato online, a iniciativa vai reunir um conjunto de investigadores, estudantes de doutoramento e mestrado, industriais do setor e personalidades internacionais com trabalho desenvolvido nesta área. Juntos, vão começar por debater a ciência de base destas tecnologias, passando depois à produção e armazenamento do Hidrogénio (H2) e às questões sobre segurança, para, no último dia, as atenções se centrarem nas aplicações/usos finais do hidrogénio com a participação de várias empresas (ver programa).
Com mais de 180 participantes inscritos, esta Summer School pretende assim ser um fórum aberto, no qual o o principal objetivo passa por “transmitir conhecimento aos que desejam iniciar o seu percurso nesta área, mas também a todos os que por motivos pessoais ou profissionais pretendam aprofundar e sistematizar o saber adquirido neste domínio”, apresenta Alexandra Pinto, responsável pelo grupo de investigadores de energia do CEFT.
A também docente da FEUP chama particular atenção para o terceiro dia do evento, marcado pelas “intervenções por parte de algumas empresas com um papel importante a desempenhar (no curto/médio prazo) na integração destas tecnologias no caminho que levará à descarbonização do país em 2050”.
Caminho rumo à neutralidade carbónica “é obrigatório”
Na Faculdade de Engenharia, Alexandra Pinto desenvolve investigação nesta área desde 2005, embora os projetos de maior dimensão tenham surgido na última década. Dois exemplos são o projeto nacional UnirCell e o projeto Europeu Hylantic que terminam em breve: o primeiro foca-se no desenvolvimento de um sistema combinado de célula de combustível (FC)/electrolisador (EL), chamado Unitized Regenerative Fuel Cell, URFC, que inclui no mesmo dispositivo um EL que converte energia elétrica em H2 e uma FC que produz eletricidade usando o gás armazenado. O projeto pretende desenvolver uma nova geração de materiais de elevado desempenho, baixo custo e ambientalmente sustentáveis.
O segundo projeto, designado por HYLANTIC, procura estabelecer uma rede de excelência para o avanço da I&D rumo à produção, implementação e comercialização de hidrogénio renovável, através de um sistema de armazenamento seguro, proporcionando soluções de eficiência energética para setores estratégicos na região do Atlântico, como o transporte, marítimo, o abastecimento de edifícios e aplicações portáteis e estacionárias.
“As alterações climáticas e os seus impactos, especialmente visíveis e preocupantes nos últimos anos, chamam o país para uma resposta coletiva forte, cuja necessidade o contexto da pandemia causada pela COVID-19 reforçou. Entre várias estratégias e caminhos, aquele que leva a uma economia e sociedade neutras em carbono é obrigatório, para promover o crescimento económico e melhorar a qualidade de vida”, concretiza a investigadora do CEFT.
Quando a importância do uso de recursos renováveis e intermitentes para a produção de energia aumenta em todo o setor, desenvolver uma forma de armazenar com eficiência e baixo custo os seus excedentes, torna-se uma necessidade urgente, pedindo o desenvolvimento das chamadas tecnologias facilitadoras. Surge aquele que é chamado de conceito Power-to-X (PtX), onde a energia renovável pode ser usada para produzir um transportador (ou vetor) de energia que pode ser armazenado e transportado (como o H2) ou reconvertido para a rede quando necessário (a abordagem Power-to-H2-to Power). O hidrogénio é considerado um vetor energético com grande potencial, sobretudo se for produzido a partir de eletricidade renovável (Hidrogénio verde)”, concretiza Alexandra Pinto.
Os temas abordados na International Summer School in Hydrogen & Fuel Cells Technology cobrem precisamente quer as tecnologias de armazenamento e transporte do Hidrogénio quer dos dispositivos que o permitem produzir a partir de água e energia elétrica ou reconverter em energia elétrica.
Dependendo do sucesso desta edição, a iniciativa poderá ser reeditada, beneficiando do enorme interesse que estas tecnologias têm atualmente em Portugal, em particular a utilização do hidrogénio (especialmente do tipo verde) como parte integrante do plano estratégico económico português.
A participação na Summer School é gratuita, mediante inscrição prévia aqui.
Mais informações aqui.
Os investimentos nacionais no Hidrogénio
A Estratégia Nacional para o hidrogénio (EN-H2) delineou o caminho para atingir a descarbonização total do país em 2050 e vai dando alguns passos necessários para o efeito, através da publicação de legislação indispensável, reunindo empresas nacionais em torno do H2, e lançando a primeira chamada para projetos. Estão anunciados investimentos elevados, na ordem dos 900 milhões de euros até 2030 e a criação de milhares de novos empregos. Estamos perante uma oportunidade única de modernização da economia e qualificação/requalificação dos recursos humanos.
Neste contexto é fundamental que o estado da arte das tecnologias apresentadas na Summer School, o seu potencial para a resolução de vários problemas e os desafios a ultrapassar sejam divulgados à sociedade.
É igualmente importante a aproximação entre Universidade e Indústria e o fortalecimento da ligação entre as atividades de I&D e as necessidades regionais e nacionais.