Da elegância concreta da pedra à flamejante e quase etérea sumptuosidade da arte déco, com direito a esticar as pernas até à beira-mar. Passa por aqui a proposta da Universidade do Porto para o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios 2021, que se comemora este domingo, dia 18 de abril. E para que não perca nada, decidimos estender as “festividades” ao longo de um fim de semana que vai querer terminar com um lápis na mão

O programa arranca já este sábado, dia 17, pelas 11h00, no edifício histórico da U.Porto (à Praça de Gomes Teixeira), com uma visita guiada – presencial – ao encontro Da Pedra: Experiências Técnico-Poéticas de um Escultor, a exposição que assinala 60 anos de vida e 35 de atividade artística do alemão Volker Schnüttgen, há muito radicado em Portugal. As peças em pedra Lioz, que vai encontrar numa das galerias da Casa Comum, serão o pretexto suficiente para a curadora, Helena Pereira, falar do fascínio do escultor pelas pedreiras de Portugal. Uma paixão que o levou a percorrer o país desde Viana do Alentejo e Trigaches (Beja) até ao Minho.

Esta visita guiada às galerias da Casa Comum terá lotação máxima de 10 participantes e não é sujeita a inscrição prévia.

Vá com tempo e fique um pouco mais: vamos passar um vídeo sobre a história do edifício que acolhe hoje a Reitoria da U.Porto. E não, não era para ir já embora. A história da “casa mãe” da Universidade não deixa a tinta secar. Caso ainda não conheça, tem à sua espera o recém-inaugurado Laboratório Ferreira da Silva. No ano em que a U.Porto celebra o 110.º aniversário, o Museu de História Natural e da Ciência oferece uma viagem no tempo até aos primórdios da Química em Portugal. Com entrada pelo Jardim da Cordoaria.

Sinta o toque das bancadas de lava esmaltada, resistente aos reagentes que escapavam da mão dos estudantes, e aproveite para espreitar a caixa de alcaloides. Foi utilizada por Ferreira da Silva na investigação de casos como o de Urbino de Freitas, mais conhecido por “Crime da Rua das Flores”. Mas atenção. Só poderá fazê-lo das 10h00 às 13h00, tanto no sábado como no domingo. A entrada é livre (ainda que limitada a 10 pessoas) e gratuita.

Laboratório Ferreira da Silva / Foto: Egidio Santos/U.Porto

Se não teve tempo de ir, pelo próprio pé, ao Laboratório Ferreira da Silva e subir, degrau a degrau, a escadaria que dá corpo e estrutura a todo o esplendor do estilo arte déco de inícios do século XX, ainda lhe oferecemos outra opção: uma visita virtual, de 360º, que pode fazer sem sair do sofá. Já foi buscar os auscultadores?

À descoberta do Jardim Botânico

Ouvir ao fundo o chilrear dos pássaros e tecer de pétalas rosa e folhas verdes o tapete que o vai levar pelas horas do dia… É proposta que lhe agrade? Então, acorde connosco, domingo, dia 18. Sabe onde deixou os auscultadores? Ouve melhor o som dos pássaros e as histórias de luz e sombra que vegetam entre o Jardim dos Anões, o roseiral, o arboreto, a estufa dos catos e o jardim do “Rapaz de Bronze”, como no conto de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Já descobriu para onde o estamos a levar? Depois de entrar, difícil vai ser sair do Jardim Botânico do Porto. Pensámos nisso. Que tal entrar, precisamente, na casa onde a escritora viveu durante a infância?

Está feito o convite para uma visita guiada gratuita, online, às 14h30, à Galeria da Biodiversidade. Basta enviar um e-mail para [email protected].

Se preferir, pode também pôr os pés ao caminho e fazer-nos uma visita “em carne e osso”. A Galeria da Biodiversidade estará aberta, durante o fim-de-semana, das 10h00 às 13h00. Se chegar uma hora antes (a partir das 9h00), poderá deixar-se “perder” pelos encantos do Jardim Botânico do Porto.

O Jardim Botânico do Porto e a Galeria da Biodiversidades vão estar de portas e ouvidos abertos durante o fim-de-semana. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Um passeio à beira-mar

Não muito longe, bastaria descer a Rua do Campo Alegre e virar à direita para a zona da Pasteleira para lá chegar. Paredes meias com a Fundação de Serralves fica a Escola Francesa do Porto, construída na década de 1960. Projetada por Manuel Marques de Aguiar, Carlos Carvalho Dias e Luiz Cunha é um exemplo bem-sucedido de cooperação entre as comunidades francesa e portuguesa. Mas como é que se entra numa escola ao domingo? Pela voz de Paula Abrunhosa em mais um podcast da Casa Comum: Escritos Escolhidos.

Claro que pode ouvir em casa, lá está, sem sair do sofá. Só que, desta vez, não. Vamos sugerir que saia de casa. Que vá dar um passeio à beira-mar. Que desça até à Avenida do Brasil, enquanto fica a saber mais sobre Manuel Marques de Aguiar, o arquiteto que pensou a marginal da Foz do Douro.

Este podcast é um projeto da Casa Comum, em parceria com a Fundação Marques da Silva que, neste Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, revela ainda um desenho inédito da autoria de Manuel Marques da Aguiar. “Pertence a uma geração de arquitetos do Porto para quem o desenho constitui uma ferramenta privilegiada de pensamento”, escreveu Marta Aguiar no programa da exposição que Serralves dedicou ao arquiteto, em 2018. O traço abriu caminho até à cidade de Espinho, onde Manuel Marques de Aguiar também desenhou a orla marítima.

“Um médico que só sabe medicina nem medicina sabe”

Dissemos que ia querer terminar o fim de semana com um lápis na mão. Será porque o exercício do desenho é o melhor treino do olhar? Ajudaria a simplificar a complexidade de tudo o que vemos? E se ouvíssemos Mário Bismarck? Ele é professor da Faculdade de Belas Artes (FBAUP) e vai estar à conversa com outro professor, mas da Faculdade de Arquitectura (FAUP), Vítor Silva, a propósito, claro está, do desenho. A conversa, informal, será transmitida em direto, a partir das 16h00, no Instagram da Casa Museu Abel Salazar, e terá como ponto de partida a exposição Desenhos em Desaparecimento, de Mário Bismarck, patente na Casa Museu Abel Salazar até 24 de abril.

O desenho de figura humana no corpo criativo do artista, a relação com o legado gráfico de Abel Salazar e a importância de estabelecermos um diálogo entre as práticas artísticas contemporâneas e o património histórico serão alguns dos temas em discussão. Terá o exercício do desenho ajudado Abel Salazar ao estudo e à prática da medicina?

Casa-Museu Abel Salazar (Foto: CMAS)

Já que está por estas bandas, não deixe escapar a vertente plástica do homem que deu nome ao Instituto de Ciências Biomédicas. Através de pequenos vídeos, o Museu Num Minuto vai mostrar-lhe a outra faceta do clínico que celebrizou a frase “Um médico que só sabe medicina nem medicina sabe”. Os planos aproximados fazem adivinhar a orientação e a espessura da tinta no pincel. E só lhe pede um minuto. Se conseguir esticar os ponteiros do relógio, acompanhe esta visita virtual à Casa Museu Abel Salazar.

Sobre o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios

O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios (DIMS) foi criado pelo Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS) a 18 de abril de 1982, e aprovado pela UNESCO no ano seguinte, com o objetivo de sensibilizar os cidadãos para a diversidade e vulnerabilidade do património, bem como para a necessidade da sua proteção e valorização.

Ao adotar o tema Passados Complexos: Futuros Diversos para a edição deste ano, a Direção-Geral do Património Cultural explora “a ideia de reconciliação – mas também de contestação e discussão – e o desejo de construir um futuro mais justo, mais participado e mais variado, destacando o papel fundamental do património enquanto factor de identidade e agregação de grupos e de comunidades, nas relações entre culturas e na responsabilização colectiva para a protecção e salvaguarda dos atributos, dos significados e valores que constituem a nossa herança comum”.

Tecemos de pedra, lava esmaltada, de sol, no jardim e à beira-mar, e de desenho os minutos que o vão levar pelos nossos passados complexos, com os quais estamos a construir futuros diversos. Todas as propostas são gratuitas. Tenha um bom fim de semana!