Os investigadores Luís Miguel Cardoso e Ana Sofia Macedo, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, foram recentemente distinguidos pela Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) pelos seus trabalhos nas áreas da tireoide e da hipófise. Os prémios – a que correspondem duas bolsas no valor total de 17.500 euros – foram atribuídos durante o Congresso Português de Endocrinologia.

O projeto «Molecular Characterisation of Corticotroph Adenomas in a Portuguese Cohort», proposto pelo investigador Luís Miguel Cardoso, foi premiado com uma Bolsa SPEDM/HRA Pharma Iberia na área de Síndrome de Cushing, no valor de dez mil euros. A equipa, da qual também fazem parte os investigadores Paula Soares, Leonor Gomes e Isabel Paiva, pretende identificar fatores biomoleculares que permitam compreender melhor a patogénese da doença, tornar o processo de decisão clínica mais eficaz e individualizado, bem como identificar novas oportunidades terapêuticas.

A Doença de Cushing (DC) caracteriza-se, na maioria dos casos, pela presença de pequenos tumores (microadenomas) na hipófise, que resultam na produção excessiva de uma hormona, a ACTH que, por sua vez, leva a uma exagerada produção de cortisol pela glândula suprarrenal. Estes doentes, explica Luís Miguel Cardoso, mesmo após tratamento cirúrgico, “apresentam uma alta taxa de recidiva, conduzindo a várias comorbilidades e risco aumentado de morte”. Principalmente porque o tratamento médico tem uma eficácia limitada e os mecanismos biomoleculares da doença permanecem largamente por esclarecer.

“O nosso objetivo é investigar a prevalência de mutações somáticas numa coorte portuguesa de DC e avaliar associações com variáveis biológicas, bioquímicas, clínicas, radiológicas, histológicas e terapêuticas”, especifica o investigador.

Peixe-zebra vs cancro da tireóide

O projeto apresentado pela investigadora Ana Sofia Macedo, por seu lado, recebeu uma bolsa de investigação da SPEDM no valor de 7.500 euros. Intitulado «Fishing endocrine disruptors contribution to cancer», este trabalho centra-se na influência dos Disruptores Endócrinos (EDCs) no funcionamento da tireoide e no risco de desenvolver cancro da tireoide.

Os disruptores endócrinos, explica Ana Sofia Macedo, “são produtos químicos libertados para o meio ambiente e que podem mimetizar o efeito de hormonas ou interferir na regulação hormonal. Um número crescente de casos de cancro tem sido associado a vários fatores ambientais, incluindo a exposição ao longo da vida a estes desreguladores”.

A equipa de investigadores, composta por Ana Sofia Macedo, Elisabete Teixeira, Miguel Melo e Paula Soares, vai recorrer a um modelo transgênico de peixe-zebra, com uma mutação oncogénica na tireoide, para testar a influência de três compostos que já se sabem que causam disrupção endócrina.

“A nossa hipótese é que, no contexto de uma mutação oncogénica, a exposição contaminante a fatores ambientais com capacidade de interferir sobre o sistema endócrino (como os disruptores endócrinos) pode induzir ou promover o desenvolvimento de neoplasias da tiróide”, explica Ana Sofia Macedo.

Paula Soares, líder do grupo Cancer Signaling and Metabolism, ao qual pertencem os investigadores distinguidos, refere que “estas bolsas são um importante reconhecimento do trabalho do grupo em patologia endócrina” e realça o “relevante papel da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) no apoio à investigação nesta área”.