A incidência real de tuberculose em Portugal pode ser maior do que a incidência reportada pelos principais sistemas de vigilância epidemiológica (SVE) nacionais. A conclusão é de um estudo internacional liderado por Carlos Carvalho, investigador da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica (UMIB), estudante de doutoramento e docente convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), e que contou ainda com a participação dos investigadores Guilherme Gonçalves (UMIB e ICBAS) e Raquel Duarte, do EPIUnit do Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP).

Os sistemas de vigilância epidemiológica (SVE) são essenciais para estimar a incidência de uma doença e a sua variação, nomeadamente ao longo do tempo. Por sua vez, estas estimativas são vitais para monitorizar o impacto de estratégias de luta contra a tuberculose.

No estudo recentemente publicado na prestigiada revista científica The International Journal of Tuberculosis and Lung Disease, os investigadores usaram os métodos de inventário e de captura-recaptura para comparar e avaliar três SVE estavam ligados entre si: o Sistema de Vigilância da Tuberculose (SVIG-TB), o sistema nacional de vigilância de doenças (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica SINAVE) e a base de dados nacional de altas hospitalares (Grupos de Diagnósticos Homogéneos GDH).

A equipa, que envolveu outros cientistas nacionais e internacionais, concluiu então que os dados reportados podem não espelhar a verdadeira realidade da tuberculose em Portugal. Independentemente da precisão das estimativas disponíveis, a prioridade deverá passar por “manter (e se possível melhorar) a tendência de diminuição da incidência de tuberculose” no nosso país.

É necessário melhorar vigilância da tuberculose

Na verdade, e apesar do declínio constante nas últimas décadas, Portugal continua a ser o país da Europa Ocidental com as taxas de notificação de tuberculose mais elevadas. O estudo defende, por isso, uma melhoria dos sistemas de vigilância epidemiológica e uma interpretação prudente dos valores de incidência.

Os investigadores admitem, porém, que são necessários mais estudos para se fazer o “retrato” completo da tuberculose no nosso país. Esse é, de resto, o objetivo do projeto de doutoramento que Carlos Carvalho está a desenvolver atualmente a partir do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) em Estocolmo (Suécia). Deste trabalho deverá resultar um conjunto de recomendações para ações práticas de saúde pública.

Para além dos três investigadores da U.Porto, o estudo contou ainda com a participação de investigadores ligados ao Instituto Real Tropical da Holanda, ao Serviço Nacional de Infeção de Saúde Pública de Inglaterra, ao Instituto de Saúde Global de Inglaterra, ao Departamento de Controlo de Tuberculose do Serviço Regional de Saúde Pública (GGD) de Groningen e ao Grupo do Centros de Saúde de Braga (Cávado I) da Administração Regional de Saúde do Norte de Portugal.