Pela primeira vez em 107 anos de história, na Galeria de Doutores Honoris Causa da Universidade do Porto vai passar a constar o nome de um Secretário-Geral das Nações Unidas. António Guterres será brevemente distinguido com aquele título honorífico, depois de o Reitor da U.Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, ter assinado ontem o respetivo despacho de concessão.
Um “extraordinário percurso de vida” dedicado à “defesa da dignidade humana e na promoção da paz no Mundo” são as razões invocadas pela Universidade do Porto para a atribuição do título de Doutor Honoris Causa a António Guterres.
No despacho de concessão, Sebastião Feyo de Azevedo relembra os cargos desempenhados por António Guterres nas Nações Unidas, “ao serviço da Democracia Plural, da Causa Pública e da Humanidade”, salientando o seu “imenso contributo para a consolidação do modelo democrático em Portugal e para o desenvolvimento de uma Europa social e universalista” enquanto Primeiro-Ministro de Portugal e membro do Conselho Europeu.
Em suma, o Reitor da Universidade do Porto considera que “o trabalho que António Guterres desenvolve à escala global, e particularmente dos valores que defende e transmite, muito tem beneficiado a Universidade do Porto, na justa medida dos valores humanistas e universalistas que a Universidade igualmente persegue na prossecução da sua missão”.
Uma consideração que havia sido já secundada por unanimidade pelo Senado da Universidade do Porto, que deu parecer favorável à proposta de atribuição da Faculdade de Engenharia da U.Porto, cujo Conselho Científico havia já aprovado, também por unanimidade.
António Manuel de Oliveira Guterres nasceu a 30 de abril de 1949, em Lisboa, onde se viria a licenciar em Engenharia Eletrotécnica (1971), no então Instituto Superior Técnico. No entanto, a sua carreira profissional acabaria por ser dominada pela participação política ativa após o 25 de abril de 1974. Foi eleito deputado à Assembleia da República nas primeiras legislativas realizadas em democracia em Portugal, tendo servido como parlamentar ao longo de 17 anos, até à sua eleição como Primeiro-Ministro, em 1995.
Enquanto Primeiro-Ministro dos XIII e XIV governos constitucionais, entre outubro de 1995 e abril de 2002, António Guterres destacou-se internacionalmente pela liderança no processo de resolução da crise de Timor-Leste. Foi também sob a sua liderança, durante a presidência portuguesa da União Europeia no ano 2000, que os então 15 estados-membros acordaram a Agenda de Lisboa como estratégia de crescimento e de criação de empregos. Foi também neste período que se realizou a primeira cimeira UE-África.
Depois de se retirar das funções governativas em Portugal, António Guterres acabaria por exercer dois dos mais importantes cargos públicos internacionais. Entre 2005 e 2015 serviu como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, tendo sido depois eleito como o 9.º Secretário-Geral das Nações Unidas, cargo que ocupa desde 1 de janeiro de 2017 até aos dias de hoje.
A cerimónia de atribuição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto irá realizar-se em data a anunciar futuramente.