Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS-UP) descobriram que os hidrolisados marinhos podem ser uma boa opção para melhorar as dietas vegetais de Robalo Europeu em cativeiro, aumentando o seu crescimento e resposta imunológica.

A descoberta surge numa altura em que a aquacultura pretende responder de forma eficiente às necessidades de consumo da população mundial. E se as proteínas vegetais têm sido uma tábua de salvação para a produção de espécies carnívoras – como salmão do Atlântico, robalo ou dourada – em cativeiro, elas não suprem suprem todas as necessidades nutricionais dos peixes, conduzindo a uma diminuição da resposta imunológica, bem como do seu desempenho produtivo.

Foi então em resposta à necessidade de ingredientes de origem marinha que os investigadores do CIIMAR e do ICBAS, em colaboração com a empresa peruana Austral Group, investiram esforços na investigação do potencial de valorização de subprodutos de origem marinha para fortalecer dietas de base vegetal para peixes em aquacultura.

Peixes maiores e mais resistentes

No estudo liderado pela investigadora Luísa Valente, recentemente publicado – em open access – na revista científica internacional Aquaculture, a equipa de trabalho descreve dados promissores sobre a resposta imune e melhoria do crescimento do robalo europeu (Dicentrarchus labrax) quando são utilizados hidrolisados de anchoveta peruana e lula gigante para fortalecer dietas ricas em proteínas vegetais.

O estudo teve dois grandes objetivos: por um lado, testar in vitro o potencial dos hidrolisados contra os principais agentes patogénicos de peixes. Por outro ladom procurou-se testar in vivo o impacto da sua inclusão numa dieta baseada em proteínas vegetais no crescimento, eficiência alimentar, estado imunológico e parâmetros hematológicos do robalo europeu em comparação com dietas ricas em farinha de peixe.

Os resultados obtidos pelos investigadores indicam que alguns hidrolisados obtidos a partir de protéases (enzimas que quebram ligações peptídicas entre determinados aminoácidos das proteínas gerando hidrolisados), originados da anchoveta peruana e da lula gigante, conseguiram mitigar os efeitos negativos causadas pelas proteínas vegetais na dieta dos peixes, melhorando o seu estado imunológico e promovendo o crescimento.

De acordo com os investigadores o teste in vitro mostrou que, de forma geral, todos os hidrolisados marinhos conferiam resistência contra patogénicos de peixes, em especial contra bactérias pertencentes à família Vibrionaceae.

No teste in vivo, os investigadores perceberam que a adição de 3% de certos hidrolisados marinhos poderiam substituir 12,5% de farinha de peixe em dietas vegetais, levando a uma melhoria da resposta imune e do crescimento do robalo europeu.

Este estudo apresenta assim  uma excelente opção a considerar na produção de dietas mais sustentáveis para a aquacultura. Salienta-se ainda o fato de estes hidrolisados poderem ser obtidos a partir de componentes menos nobres dos animais (subprodutos) contribuindo para a promoção de uma economia circular.