A investigadora Maria João Azevedo, que está a desenvolver parte do seu trabalho de doutoramento no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi recentemente distinguida com uma bolsa da Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ESCMID), no valor de 20 mil euros. O valor será aplicado num estudo pioneiro sobre interações entre bactérias e fungos existentes entre mães e filhos.

A antiga estudante da Faculdade de Medicina Dentária da U.Porto (FMDUP) e atual estudante do Programa Doutoral em Ciências da Saúde Oral, na Vrije Universiteit Amsterdam – ACTA (Países Baixos) junta-se assim ao grupo restrito de 15 cientistas de toda a Europa galardoados pela ESCMID. Estes prémios têm como principal objetivo apoiar jovens cientistas europeus que desenvolvem investigação de excelência nos campos da microbiologia clínica e das doenças infeciosas.

Intitulado “Maternal mycobiome dysbiosis and its Influence on the mycobiome of the child», o projeto agora premiado foca-se no estudo do micobioma humano, ou seja, a componente fúngica dos ecossistemas do corpo humano. Mais concretamente, o objetivo do trabalho passa por caracterizar o micobioma oral e intestinal da mulher grávida, avaliar o perfil de transmissão entre mãe e filho até aos seis meses de vida e perceber o impacto da obesidade, diabetes gestacional e hipertensão arterial materna neste processo.

“O nosso objetivo é aumentar a literacia sobre o micobioma humano e, consequentemente, fornecer recursos para diagnosticar e identificar o risco de doença desde a infância. Os resultados deste projeto permitirão identificar potenciais alvos fúngicos associados a doenças cardiometabólicas, que poderão posteriormente ser manipulados precoce e preventivamente”, projeta Maria João Azevedo.

Segundo a jovem investigadora, o projeto “será pioneiro na avaliação da transmissibilidade do micobioma oral e intestinal entre pares mãe-filho numa população portuguesa, assim como na sua associação a doenças cardiovasculares e metabólicas maternas”. Por outro lado, “trata-se de um tema muito pouco estudado apesar das infeções fúngicas serem frequentes durante a gravidez e a infância”.

“Esperamos esclarecer quais os mecanismos de transmissão, colonização e maturação fúngica durante a infância, compreender o papel do componente microbiano fúngico na saúde das crianças e o impacto da obesidade, diabetes gestacional e hipertensão arterial na transmissão precoce do micobioma”, acrescenta Maria João Azevedo, que contará com a orientação das investigadoras Benedita Sampaio-Maia (i3S/FMDUP), Carla Ramalho (i3S/FMUP) e Egija Zaura (ACTA).

Recrutamento em curso

O projeto será desenvolvido com amostras e dados clínicos obtidos no âmbito da coorte dos projetos «OralBioBorn – O microbioma oral ao longo do primeiro ano de vida e a influência de fatores maternos na aquisição do microbioma oral do recém-nascido numa população portuguesa», que é o projeto da tese de doutoramento da investigadora, e «PERIMYR – Remodelagem cardíaca e “recuperação” na gravidez como modelo de compreensão dos mecanismos da doença cardiovascular».

Uma vez que estes resultados serão integrados nos do projeto OralBioBorn, a investigadora acredita que “este estudo fornecerá ainda informações valiosas sobre as interações entre bactérias e fungos em pares mãe-filho, na saúde e na doença”.

O recrutamento da coorte de participantes, explica Maria João Azevedo, “está a decorrer no Centro Hospitalar Universitário de São João, Unidade Local de Saúde de Matosinhos, ACES Maia-Valongo e ACES Porto Oriental, assim como, online, através do website dos projetos”.

As amostras necessárias, nomeadamente saliva e fezes da grávida/futura mãe e filho, “estão a ser recolhidas na FMUP e o seu processamento será executado no i3S. A análise fúngica será realizada por métodos tradicional de cultura no i3S e por sequenciação de nova geração no ACTA [Academisch Centrum Tandheelkunde Amsterdam], que resulta da parceria da Vrije Universiteit Amsterdam e da University of Amsterdam”, acrescenta.

Portugal no mapa da micologia

Relativamente à bolsa atribuída pela ESCMID, Maria João Azevedo considera que “representa o reconhecimento e a valorização a nível internacional da investigação científica que eu, as minhas orientadoras e os grupos de investigação a que pertenço – Nephrology & Infectious Diseases R&D (i3S) e Preventive Dentistry (ACTA) – exercemos na área do microbioma humano na saúde e na doença e, em particular, do micobioma humano”.

Apesar de a investigação na área do microbioma ter crescido exponencialmente nos últimos 15 anos, o micobioma humano continua ainda pouco explorado. Neste sentido, sublinha a investigadora , esta bolsa representa também a “oportunidade de desenvolver uma investigação translacional inovadora e desafiante, que irá contribuir para colmatar lacunas e aprofundar o conhecimento científico na área da micologia”.

Em suma, a ESCMID Research Grant “oferece-nos a possibilidade de contribuir para uma melhoria na saúde materna e infantil, assim como melhorar a prática clínica dos profissionais de saúde”.