Manuel Ferreira-Pinto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), é o vencedor da edição 2021 do Prémio JCW Sheperd (2021), atribuído anualmente pela Universidade de Basileia (Suíça) ao autor do melhor artigo científico publicado por um estudante de doutoramento daquela instituição, na área das Ciências da Vida.

O prémio incide sobre o artigo científico “Functional diversity for body actions in the mesencephalic locomotor region”, que Manuel Ferreira-Pinto escreveu quando fazia o doutoramento na Universidade de Basileia, sob orientação de Silvia Arber.

“Foi uma enorme honra e satisfação receber esta distinção, que vem reconhecer todo o esforço e trabalho que dediquei ao meu doutoramento durante os últimos anos, bem como a excelente qualidade da equipa em que estive inserido”, reage o docente da FMUP.

Um novo impulso no combate às doenças neurodegenerativas motoras

Neste artigo científico, publicado na prestigiada revista “Cell”, descreve-se os circuitos do tronco cerebral implicados no controlo da execução de movimentos. Os autores concluíram que um núcleo do tronco cerebral denominado região locomotora mesencefálica (MLR) apresenta subpopulações distintas de neurónios responsáveis pelo controlo, não apenas da locomoção (como se acreditava previamente), mas também da postura corporal e movimentos de destreza manual fina.

De acordo com o estudo, “a perturbação da sua função normal afeta o estado motor global, nomeadamente produzindo estados hipercinéticos (de movimentos descontrolados e anárquicos) e acinéticos (de congelamento total de todos os movimentos corporais)”.

Como explica o professor da FMUP, “este núcleo (o MLR) tem sido estudado como potencial alvo de estimulação cerebral profunda para tratar doentes com Parkinson com incapacidade de caminhar normalmente, sem produzir, no entanto, os resultados desejados”.

“Ao permitir compreender a fundo o funcionamento e organização deste núcleo (ao nível da atividade de neurónios individuais), o nosso trabalho vem explicar a provável razão da falha deste tratamento em produzir resultados eficazes, uma vez que a estimulação cerebral profunda, ao aplicar uma corrente elétrica, vai interferir com a atividade de todas estas populações com funções distintas, produzindo efeitos imprevisíveis”.

Desta forma, diz Manuel Ferreira-Pinto, “torna-se necessário o desenvolvimento de ferramentas (provavelmente genéticas) que nos permitam, futuramente, manipular individualmente cada uma destas populações de neurónios, a fim de podermos tratar os sintomas específicos dos doentes com patologias neurodegenerativas motoras”.

Trabalho em curso no Porto

Atualmente, a equipa da FMUP e também do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) prossegue com o estudo de circuitos neuronais e da atividade cerebral relacionada com o controlo da execução de movimentos.

“Mais concretamente, estamos a realizar registos da atividade cerebral de doentes com doença de Parkinson tratados com estimulação cerebral profunda do núcleo subtalâmico, procurando encontrar, na atividade desse núcleo, assinaturas fisiológicas de diferentes estados de (bom ou mau) controlo da doença”, esclarece Manuel Ferreira-Pinto.

O objetivo é “entender o padrão específico de doença de cada paciente e utilizar esse conhecimento para desenhar padrões de tratamento individualizados às necessidades específicas de cada doente”, remata.