O percurso de Rita Ferreira na ginástica iniciou-se por influência de um professor de Educação Física no ensino primário. Com o decorrer dos anos, o sonho de ser médica foi crescendo em paralelo, “em especial quando comecei a ser acometida por algumas lesões e me comecei a interessar pelo modo como as mesmas poderiam ser resolvidas ou minoradas”, até se concretizar com o ingresso na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Conciliar estas duas áreas tão exigentes – como é o exemplo da ginástica e da Medicina – não é tarefa fácil. Porém, o exemplo de Rita Ferreira prova que não há impossíveis e que os muitos “esforços e sacrifícios” acabam por se traduzir em inesquecíveis recompensas.

Ao pensarmos nas cerca de 5/6 horas por dia dedicadas ao treino, as viagens entre a faculdade e o ginásio, o tempo para o estudo, as competições e os exames, os feitos alcançados pela jovem ginasta do Acro Clube da Maia são ainda mais impressionantes.

Apesar dos seus 20 anos, o palmarés de Rita Ferreira na Ginástica Acrobática já impõe respeito. Senão vejamos… Em 2014, 2016 e 2018, alcançou três pódios em três participações no World Age Group Championship (um terceiro lugar e dois primeiros lugar, respetivamente). Pelo meio, conquistou o primeiro lugar em par feminino, em 2015, no European Age Group Championship, e, em 2017, somou mais três medalhas de ouro na categoria de grupo feminino, no European Championship – WG Junior. Já fazendo par com a ginasta Ana Teixeira, em 2019 e 2020, a dupla portuguesa adicionou novas presenças no pódio ao curriculum desportivo.

Mais recentemente, no passado dia 4 de julho, a jovem ginasta natural do Porto entrou para a História do desporto nacional português, ao conquistar a primeira medalha de ouro de sempre do Campeonato do Mundo de Ginástica Acrobática, na categoria de duplas femininas. A atual bicampeã europeia em título, a base da dupla, em par com Ana Teixeira, elemento volante, arrebataram juntas a primeira posição na competição com um total de 29.120 pontos, impondo-se às congéneres norte-americanas (28.580) e à dupla russa (28.520).

Durante o confinamento, com os ginásios fechados, a dupla premiada chegou inclusivamente a mudar-se de malas e bagagens para o Acro Clube da Maia, onde passaram 15 dias no clube a treinar, isoladas dos amigos e da família. “Abdicamos de férias, fins-de-semana e feriados, de saídas e de jantares, mas, no final, a recompensa de todo este esforço é tão grande, que tudo acaba por se alinhar, balancear e harmonizar”, conclui a jovem ginasta.

– Naturalidade? Porto

– Idade? 20 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Gosto do ambiente e da entreajuda que existe entre todos. Conheci pessoas fantásticas e espero continuar a conhecer muitas mais. Gosto também das inúmeras atividades que proporcionam aos estudantes, desde as áreas musicais até às atividades desportivas.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

A pouca componente prática nos primeiros anos do curso, o que, na minha opinião, dificulta a perceção dos estudantes acerca do que realmente irão fazer na sua carreira profissional.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

No seguimento da resposta anterior, talvez a criação de unidades curriculares ou estágios em hospitais, empresas, laboratórios, entre outros, para que os estudantes tenham mais cedo a perceção daquilo que irão fazer no futuro.

– Como prefere passar os tempos livres?

Não tenho muito tempo livre, mas gosto de passar esses momentos com a família e os amigos (normalmente os mais prejudicados com a vida que tenho) e gosto muito de ir à praia, passear os meus cães e ver filmes.

– Um livro preferido?

Admito que não tenho por hábito ler muito, mas, um dos meus livros favoritos é A Culpa é das Estrelas de John Green.

– Um disco/músico preferido?

De momento, provavelmente Billie Eilish. Sempre adorei Amy Winehouse também.

– Um prato preferido?

Não tenho assim um prato favorito, mas adoro um bom peixe grelhado ou um bom marisco.

– Um filme preferido?

Adoro a saga Star Wars.

– Uma viagem de sonho? 

Já realizada: conhecer Pequim e Las Vegas. Ainda por concretizar: Tóquio e Sydney.

– Um objetivo de vida?

Neste momento, é continuar a conciliar, dentro das minhas capacidades, o desporto e o curso e acabar o Mestrado Integrado em Medicina com os melhores resultados possíveis.

– Uma inspiração?

Para mim, todos os atletas-estudantes que tentam conciliar os estudos com o desporto são grandes inspirações e ajudam-me a acreditar que é possível conseguir fazer tudo.

– O projeto da sua vida…

Um dia mais tarde vir a ser médica de um clube ou equipa desportiva (se for relacionada com ginástica melhor), pois acho que seria isso que me deixaria verdadeiramente feliz.

Qual é o próximo grande objetivo na Ginástica Acrobática?

Um grande sonho era um dia vir a representar o meu país nos Jogos Olímpicos (JO), mas, infelizmente, a ginástica acrobática não é uma modalidade olímpica. Assim, a mais importante competição para esta modalidade são os World Games, também realizados de quatro em quarto anos e, assim como os JO, com variadas modalidades em competição. Neste último Campeonato do Mundo que realizei consegui o apuramento para esta competição, de modo que conto estar, em julho de 2022, a representar da melhor forma o meu país.