Comecemos por uma pequena viagem no tempo até 1978. Esta história seria completamente diferente se o primeiro impulso da sua protagonista fosse avante e a paixão pela natureza a tivesse levado, efetivamente, a ingressar no curso de agronomia. Os mais de 300 quilómetros até Lisboa, local onde era lecionado o curso, e a influência de uma amiga, que se tornou colega de profissão, acabaram por trazer Cristina Granja até à Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Finalizado o curso, foi no momento em que iria passar a vestir a bata branca com outro simbolismo e responsabilidade que a área da reanimação despertou um gatilho até então desconhecido. A escolha pela anestesiologia acabou por ser uma consequência natural e o resto da narrativa leva-nos de volta ao presente.

Da missão de salvar vidas enquanto médica à missão de ensinar outros com as mesmas competências, “nasce” a semente que, no passado mês de abril, tornou a FMUP um Centro de Treino Internacional da American Heart Association. A partir de agora, todos os estudantes de Medicina vão poder receber formação certificada e reconhecida a nível global em suporte básico e avançado de vida.

Já no passado dia 3 de julho, Cristina Granja tomou posse enquanto diretora do novo Centro Pluridisciplinar de Simulação (SIM) da FMUP. Este é um novo passo de um “embrião” que teve início há duas décadas, numa área que tem adquirido cada vez maior importância no treino e na formação de diversos profissionais.

E ainda que considere que as técnicas de suporte básico de vida estejam longe de ser algo familiar para a maioria da sociedade portuguesa, a médica Cristina Granja sublinha que há dois comportamentos que devem estar sempre presentes no caso de um dia nos depararmos com uma vítima colapsada: ligar de imediato para o 112, e fazer compressões se a pessoa não responder ou não respirar normalmente.

Afinal de contas, estas manobras são cruciais neste tipo de situações, porque os minutos de espera até à chegada de uma equipa de emergência podem fazer toda a diferença na vida de uma pessoa.

Cristina Granja coordenou a reanimação simulada que decorreu na última edição da Mostra da U.Porto. (Foto: Egídio Santos)

Idade: 63 anos

Naturalidade: Porto

– Do que mais gosta na Universidade do Porto?

Da sua diversidade, dinamismo e da interação gerada entre as várias áreas do conhecimento.

– Do que menos gosta na Universidade do Porto?

Das burocracias que nos prendem…

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Torná-la mais flexível ao nível da gestão, como os processos de contratação e de aquisição de equipamentos.

– Como prefere passar os tempos livres?

Vou ao cinema, gosto de ir a concertos e faço caminhadas na natureza.

– Um livro preferido?

“Memorial do Convento”, de José Saramago

– Um disco/músico preferido?

“Fantasia para piano a quatro mãos”, de Franz Schubert. Acalma-me bastante.

– Um prato preferido?

Cataplana de camarão.

– Um filme preferido?

Gosto muito do “Interstellar”, de Christopher Nolan.

– Uma viagem de sonho?

Uma viagem “brutal” num Citroen AX entre Hong-Kong e Pequim, realizada em 1988.

– Um objetivo de vida?

Quero continuar a sentir-me útil.

– Uma inspiração?

Papa Francisco, Gandhi e a minha mãe. Todos são uma inspiração, cada um à sua maneira.

– O projeto da sua vida…

Num âmbito pessoal, passa por manter-me saudável e útil. Numa vertente profissional, destaco o projeto do Centro de Treino Internacional da American Heart Association, que estamos a desenvolver na Faculdade de Medicina da U.Porto.