Ficções botânicas são, como o próprio nome indica, exercícios de ficção, mas todos, sem exceção, têm por base factos muito concretos. São uma espécie de Romance Histórico que atribui às plantas e fungos dos matos, bosques e mares a responsabilidade do papel principal. A autora destas “Cartas Ficcionadas” chama-se Cristiana Vieira e é a curadora das coleções do Herbário do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP).
Todos os dias que abre a porta do Herbário, aguardam-na as histórias que ainda estão por contar. Ou não falássemos de um território fértil à imaginação com “camadas de informação científica e histórica”, fotografias, ilustrações e espécimes de plantas, fungos, algas, sementes e frutos colhidos de norte a sul do país, mas também fora dele. Cada gaveta esconde centenas de coleções para investigar e comunicar a investigadores, docentes e ao público em geral. Ao todo, estamos a falar de um universo de mais de 150 mil exemplares, sendo que 30 mil representam grupos botânicos como algas, fungos, líquenes, briófitas (entre as quais os conhecidos “musgos”) e pteridófitas (nomeadamente os conhecidos “fetos”).
Enquanto curadora do Herbário, Cristiana Vieira assume como missão partilhar “a beleza e os segredos” que estão “escondidos entre papeis”. Foi assim que nasceu o Podcast “Ficções Botânicas”, disponível na plataforma da Casa Comum, que a também antiga investigadora do CIBIO-InBIO alimenta com “histórias de vida de botânicos portuenses que mantiveram redes de contacto nacionais e internacionais muito intensas, mesmo sem computadores (nem podcasts)”.
Licenciada e doutorada em Biologia pela Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), Cristiana Vieira foi recentemente distinguida com uma das dez bolsas concedidas pela International Association for Plant Taxonomy no âmbito do programa “Small Collections Grants” destinado, precisamente, à promoção de coleções de herbário em todo o mundo. Para solidificar esta promoção, está a ser construída uma base de dados com viagens, respetivos protagonistas, espécies recolhidas e informações sobre as colheitas. Dado o elevado número de duplicados, está também em curso um programa de permuta de espécimes entre herbários nacionais e estrangeiros.
Naturalidade? Porto, Portugal
Idade? 42 anos
– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Da possibilidade de aceder a todos os campos de conhecimento e da sua longa história que permite muitos pontos de contacto com outras academias e contextos, dentro e fora de Portugal.
– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Do vinculo inseguro em que a Universidade do Porto ainda mantém muitos dos seus melhores docentes, técnicos e investigadores.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
A promoção de eventos formais ou informais interdisciplinares que liguem as pessoas e as ideias, estudantes e profissionais, para evitar as divisões profissionais e geográficas do nosso Campus multipolar, que compartimentam, historicamente, pessoas e áreas do conhecimento.
– Como prefere passar os tempos livres?
Ao ar livre, em contacto com a Natureza, ou com família e amigos em torno de um lanche partilhado.
– Um livro preferido?
Os cães de Babel, de Carolyn Parkhurst.
– Um disco/músico preferido?
“Acústico”, álbum de Tiago Bettencourt com colaborações de outros músicos.
– Um prato preferido?
Um doce. Bolo de maçã e nozes feito pela minha Mãe.
– Um filme preferido?
Bienvenue chez les Ch’tis, de Dany Boon.
– Uma viagem de sonho?
Uma viagem sem destino e sem data de fim, por Portugal. Que inclua as ilhas.
– Um objetivo de vida?
Aprender e ensinar qualquer coisa todos os dias.
– Uma inspiração?
O meu Avô, que sabia viver com calma e com pouco.