Bárbara Parente tem 28 anos está sempre a pensar em “novos desafios”. Saiu de Portugal em 2015, pouco tempo depois de ter terminado o mestrado em Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Hoje, vive e é Embaixadora da U.Porto em Bruxelas, na Bélgica.

“Nascida e criada na bela Invicta”, Bárbara “não podia ter ficado mais contente” quando, em 2009,  ingressou na licenciatura na licenciatura em Sociologia da FLUP. Seguiram-se cinco anos – repartidos entre a licenciatura e o mestrado – recheados de experiências que se viriam a revelar “peças essenciais e marcantes na formação pessoal e profissional”.

Uma dessas experiências foi o período de mobilidade que realizou em Barcelona através do programa Erasmus, para onde partiu movida pela vontade de explorar o mundo além-fronteiras. “Teve um enorme impacto pessoal e acabou por influenciar a minha decisão de trabalhar fora de Portugal”, recorda. Tanto que, já formada, voltaria à Ciudad Condal, desta vez para trabalhar na área da Gestão de Recursos Humanos no setor da tecnologia.

Prevista para durar seis meses, a estadia em Barcelona acabaria por se estender por três anos. Até que o destino voltou a fazer das suas. De Barcelona a Bruxelas são pouco mais de 1300 quilómetros, que não fizeram Bárbara pensar duas vezes quando, em 2018 surgiu uma nova oportunidade de trabalho na capital belga. Ali, encontrou um verdadeiro “melting pot”, onde podes ser “tu mesmo” e “há espaço para a diferença”. Pelas experiências que tem vivido, tem a sorte de ter amigos em várias partes do mundo, com quem faz questão de viajar.

Atualmente, trabalha na área do recrutamento para instituições europeias, como a Comissão Europeia e Parlamento Europeu. Voltar a Portugal não está nos planos de Bárbara a “curto, médio prazo”, mas diz-se de “braços abertos no que toca à novidade e ao desconhecido”.

A residir e a trabalhar em Bruxelas desde 2018, Bárbara Parente é uma das Embaixadoras Alumni da U.Porto na Bélgica. (Foto: DR)

– Como surgiu esta oportunidade de partir para Bruxelas, “o centro” da Europa?

A entrada em Bruxelas foi fácil. Antes, tive uma experiência durante quase três anos em Barcelona, para onde fui em 2015. Trabalhei em startups ligadas à área do digital e da tecnologia. Candidatei-me a uma posição como Talent Acqusition and Mobility Specialist para uma empresa que trabalha com as Instituições Europeias na área da tecnologia de informação.

– De que forma a Universidade do Porto teve impacto neste processo?

Depois de uma Licenciatura e Mestrado em Sociologia pela Faculdade de Letras da U.Porto, penso que as competências transversais que se adquirem são o mais importante e o que determina o caminho de cada um. A curiosidade pelo que está além das fronteiras portuguesas ganhou força quando realizei o programa de intercâmbio Erasmus+, em 2013, durante seis meses, na Universidade Autonoma de Barcelona.

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Bárbara Parente (em baixo, à esq.) foi uma das dinamizadoras do 1.º Encontro Alumni U.Porto Benelux, realizado em fevereiro de 2019. (Foto: U.Porto)

– O que a motivou a ir para fora?

Quando me mudei para Barcelona, em 2015, Portugal estava a atravessar um período complicado para quem queria entrar no mercado de trabalho. As oportunidades eram escassas ou inexistentes e a vontade de iniciar uma carreira profissional sem a sombra da precariedade foi determinante para a aventura fora do país. Para além disso, a ânsia de conhecer outras realidades, culturas e pessoas, sem dúvida que ajudou à minha saída de Portugal.

– Há quanto tempo está fora de Portugal?

Saí de Portugal em setembro de 2015 rumo a Barcelona com o intuito de ficar 6 meses a trabalhar. Acabei por ficar até fevereiro de 2018. No mesmo mês mudei-me para Bruxelas para abraçar um desafio ligado às Instituições Europeias, onde me encontro até ao dia de hoje.

– Como foi a adaptação?

A adaptação a Barcelona foi imediata! Já conhecia a cidade e língua devido ao intercâmbio realizado na cidade, dois anos antes da mudança. No entanto, tive de criar a minha rede de amigos desde o zero. Sendo uma cidade multicultural e com pessoas de todas as culturas, religiões e feitios, é fácil conhecer alguém que está na mesma situação.
Já Bruxelas é uma cidade que tem que ser descoberta… não é de fácil entendimento como Barcelona. O processo de adaptação é diferente. Trata-se de uma cultura um pouco mais distante da realidade Portuguesa, mas penso que o desafio se encontra exatamente nas diferenças.
Neste momento, encontro-me a estudar Francês para facilitar as interações diárias, como ir a um supermercado ou um departamento público como a Comune (o equivalente à Junta de Freguesia).

– O que gosta mais? E menos?

O que mais gosto é o crescimento pessoal que cada experiência me proporciona. Devido à minha profissão, estou em contacto contínuo com pessoas de todo o mundo. O que significa que cada interação é diferente, não há uma repetição de situações. Tenho uma certa aversão à monotonia. O que menos gosto? O facto de não poder estar em dois sítios ao mesmo tempo. A saudade é um sentimento que está sempre presente.

– Um conselho para quem visita Bruxelas?

O conselho que daria é ser “sê tu mesmo”. A cidade acolhe mais de 180 nacionalidades, há espaço para a diferença.

Bárbara vive em Bruxelas desde 2018.

– Principais experiências em Barcelona e Bruxelas?

A nível profissional, os últimos quatro anos foram bem desafiantes. Em Barcelona passei por três startups ligadas ao mundo do digital e tecnologias de informação, sempre na área de recrutamento. Atualmente, em Bruxelas, encontro-me a trabalhar numa empresa de consultoria de recursos humanos na área da tecnologia para as Instituições Europeias, nomeadamente a Comissão Europeia, o Conselho e o Parlamento Europeu.
Posso dizer que por todas as empresas por onde passei, aprendi sempre. Nenhuma experiência foi igual e as pessoas com as quais me cruzei nesse percurso fizeram a diferença. As responsabilidades foram aumentando consoante os projetos . Neste momento, sou responsável pelo recrutamento de profissionais de tecnologia de informação para a Bélgica, Luxemburgo, Holanda, França, Suécia e Suíça.
Se compararmos as duas cidades… ambas transbordam “expats”. Na minha opinião, em Barcelona o ambiente é mais relaxado. Uma vez que trabalhei em empresas mais pequenas, a hierarquia era inexistente e a capacidade de arranjar soluções era altamente valorizada devido à alteração constante de circunstâncias. É um mercado altamente volátil graças à forte concentração de empresas na área da tecnologia. No entanto, penso que Bruxelas é mais desafiante a nível profissional. A cidade é um “melting pot”, que nos permite ser quem queremos ser: é uma cidade aberta à diferença. O mercado de trabalho é altamente competitivo, qualquer profissional fala três a quatro línguas, a um nível fluente, e toda a gente se encontra num estudo contínuo, seja a aprender uma nova língua, tirar uma nova certificação ou adquirir uma nova competência que possa ser um elemento diferenciador do resto da população.

– E a nível pessoal…

Longe de casa, os amigos são a nova família. Tive a sorte de encontrar amigos que posso dizer que são para a vida. Estas duas cidades deram-me a conhecer um pouco do mundo através das pessoas com quem convivo.
O meu grupo de amigos é composto essencialmente por “expats”, pessoas que já passaram por dois ou mais países por motivos profissionais. Desde que saí de Portugal, um dos meus principais passatempos é conhecer novas cidades, com as pessoas que vou conhecendo “por essa vida fora”. Adoro viajar e fazê-lo com alguém que conhece a cidade como a palma da sua mão… considero um luxo!
Bruxelas será a minha morada mais uns tempos, mas já penso no próximo desafio. Estou sempre de braços abertos no que toca à novidade e ao desconhecido.

Os amigos são a “família” de Bárbara desde que saiu de Portugal. (Foto: DR)

– De que sente mais falta? Pensa em voltar a Portugal?

Obviamente a família e amigos são os elementos que mais sinto falta. É difícil aceitar que não faço parte do dia-a-dia das pessoas que me são mais próximas. Parece que há sempre uma divisão e “organização” dos momentos como se houvesse um antes e depois de sair de Portugal.
Voltar a Portugal? Ainda não tenho resposta para essa pergunta. Eventualmente penso que sim mas não está nos planos a curto nem médio prazo.