Foram o andebol, que praticou enquanto estudante, e a paixão pela investigação, que descobriu nos corredores e laboratórios do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), que levaram Andreia Cerejo Ramos a destinos mais longínquos. Mais concretamente até Macau, na China, onde vive há 11 anos.
Alumna da Licenciatura em Ciências do Meio Aquático e posteriormente do Mestrado de Ciências do Mar – Recursos Marinhos, ambos do ICBAS, Andreia Cerejo Ramos, 37 anos, iniciou a sua aventura além-fronteiras na Escola Portuguesa de Macau. Até que surgiu a oportunidade de colaborar com o Instituto de Ciência e Ambiente da Universidade de São José, onde está atualmente com uma bolsa de pós-doutoramento, em colaboração com a Universidade de Macau.
Em Macau, a cientista portuguesa tem desenvolvido a sua investigação na área do comportamento e fisiologia animal, ao mesmo tempo que desenvolve vários projetos na área ambiental junto dos alunos da Escola Portuguesa de Macau. Entre eles inclui-se o Projeto Educativo de Literacia do Oceano, desenvolvido pelo CIIMAR – CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da U.Porto, e que pretende levar para Macau.
A importância do ICBAS
Há mais de uma década longe da família, dos amigos e de Portugal, Andreia Cerejo Ramos reconhece que a “ótima experiência” vivida no ICBAS teve uma influência positiva e marcante no seu trajeto. Afinal, foi ali que “tive a oportunidade de trabalhar com excelentes professores e colegas de curso que sem dúvida deixaram uma marca importante e extremamente positiva no meu percurso profissional e pessoal”, recorda.
Dos tempos da faculdade, recorda ainda que as turmas de CMA eram compostas por poucos estudantes, o que “ajudou a fortalecer relações entre todos, discentes e docentes”. Também por isso, continua a manter contacto com os “bons amigos de curso”, os quais faz questão de reencontrar, sempre que vem a Portugal.
O desporto foi outra das vertentes que marcou a passagem de Andreia Cerejo Ramos pela Universidade. No andebol, modalidade que praticou enquanto atleta de alta competição, aprendeu muito sobre o “saber trabalhar em equipa, saber lidar com pessoas muito diferentes umas das outras, mas com um objetivo comum”. Sempre conseguiu conciliar o desporto de alta competição com os estudos e, posteriormente, com o mundo profissional, sendo a gestão do tempo outra capacidade que o desporto lhe trouxe.
Nos tempos livres, gosta de estar com os amigos, que considera como “a família de Macau”. Como boa desportista, mantém os hábitos desportivos fazendo algumas atividades, como corrida, dança ou pilates. A leitura também faz parte do seu dia-a-dia.
Para trás ficaram os primeiros tempos de uma adaptação difícil ao novo país. Confessa que estranhou, mas depois entranhou-se na cultura local, recheada de “imensos apontamentos portugueses que nos fazem sentir em casa”. Quanto ao regresso a Portugal, Andreia Cerejo Ramos não esconde a vontade de voltar, “mas ainda sinto que tenho alguns projetos pendentes a fazer ‘por aí”.
– O que a motivou a ir para fora de Portugal e mais concretamente para Macau?
Sempre tive uma grande vontade de viajar e conhecer outras culturas. Fui jogadora de andebol de alta competição durante muitos anos, o que me possibilitou fazer inúmeras viagens alimentando cada vez mais essa “sede” de viajar. Curiosamente acabou por, em parte, ser o andebol a levar-me a Macau. A oportunidade apareceu através de uma amiga e antiga treinadora, que me contactou e desafiou a ir para a Escola Portuguesa de Macau, para fazer a gestão dos laboratórios e dar aulas de Ciências Naturais. Na altura, a minha bolsa de investigação da Faculdade de Ciências de Universidade de Lisboa tinha terminado e tinha sido contratada para ir jogar para uma equipa no Algarve. Não hesitei, assim que recebi a proposta, fiz as malas e aqui estou eu…
– Como foi a adaptação? há quantos anos está em Macau?
Estou em Macau há 11 anos e não nego que a adaptação foi difícil. Durante o primeiro ano não gostei especialmente de cá estar. Decidi tentar mais um ano e já passaram 11… Apesar de conviver maioritariamente com portugueses, tudo é muito diferente, e especialmente muito longe de Portugal, sendo difícil aguentar as saudades. Primeiro estranha-se depois entranha-se…
– Como surgiu a oportunidade de trabalhar na Universidade de São José?
Quando fui para Macau, o Instituto de Ciência e Ambiente da Universidade de São José estava em grande fase de desenvolvimento e apresentava-se com um excelente grupo de investigadores, maioritariamente portugueses, na área das Ciências Marinhas e Biológicas. Comecei a colaborar com a equipa e posteriormente ganhei uma bolsa de doutoramento ficando a tempo parcial na escola e na universidade. Encontro-me agora com uma bolsa de pós-doutoramento no mesmo Instituto, em colaboração com a Universidade de Macau.
– Tem estado a ajudar a estabelecer uma plataforma sino-portuguesa para a educação científica, quer explicar-nos do que se trata?
A minha intervenção no estabelecimento destas plataformas para a educação científica e ambiental está maioritariamente relacionada com o meu trabalho ao nível da Escola Portuguesa de Macau. A Direção da Escola tem uma grande abertura para este tipo de iniciativas e temos desenvolvidos projetos ambientais e sustentáveis com algumas entidades portuguesas e locais. Temos tido muito apoio da companhia de seguros FIDELIDADE, que tem sido uma excelente parceira; fomos finalistas do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, somos membros da Associação Nacional de Coberturas Verdes; desenvolvemos um projeto em colaboração com a Universidade de Macau e com o programa de Ciência Viva de Portugal. Temos tido bastante apoio de entidades locais que ajudam no financiamento dos projetos e conseguimos implementar, no ano passado, três jardins verticais na Escola. Tudo isto com o intuito de aumentar a literacia ambiental dos nossos alunos. Neste momento estamos a estudar a melhor forma de criar uma ponte entre o CIIMAR e entidades educativas em Macau para a implementação do interessantíssimo Projeto Educativo de Literacia do Oceano.
– De que forma a Universidade do Porto teve impacto no seu percurso?
A Universidade do Porto, nomeadamente o ICBAS, representam mais do que uma base de formação que me permitiu crescer em termos profissionais e pessoais. Fui aluna da Licenciatura de Ciências do Meio Aquático e do Mestrado de Ciências do Mar – Recursos Marinhos e representei a Universidade do Porto na seleção de andebol universitário. Todos os conhecimentos que me foram transmitidos, durante esses anos, serão sempre uma importante parte da minha vida e, sem eles, teria sido difícil alcançar muitas das metas que foram atingidas até então. Tive a oportunidade de trabalhar com excelentes professores e colegas de curso que sem dúvida deixaram uma marca importante e extremamente positiva no meu percurso profissional e pessoal.
– Do que é que gosta mais em Macau, em geral? E menos?
Menos é certamente a distância a Portugal. Gosto de muitas coisas em Macau. A gigante diferença cultural, mas com imensos apontamentos portugueses que nos fazem sentir em casa. É especial andar nas ruas de Macau e ver os nomes escritos em português com tradução em chinês. Ouvir macaenses a falar português e vê-los a dançar o nosso rancho folclórico.
Para além da parte cultural, Macau está bastante bem posicionada em termos geográficos o que facilita a exploração deste lado do Mundo. Sem dúvida esse é também um dos fatores muito atrativos para cá estar, o conhecer novas culturas.
– Um conselho para quem visita Macau?
Quem vier visitar Macau tem de se deixar perder nas suas sinuosas ruas e ruelas. Sem dúvida é a melhor forma de conhecer este local. A cada canto um altar ou templo, idosos a jogar Mahjong ou fazer Tai-Chi, os cheiros, a confusão dos mercados de rua, os antiquários…
– Do que é que sente mais falta em Portugal?
Da família e dos amigos. Sem dúvida as pessoas são de quem mais sinto saudade.
– Pensa voltar para Portugal?
Penso voltar a Portugal sim, mas não sei quando. Ainda tenho vontade de “desbravar” muitos locais antes de me estabelecer em Portugal. Quero voltar, mas ainda sinto que tenho alguns projetos pendentes a fazer “por aí”. Penso, em breve, pelo menos, aproximar-me de Portugal.
-Onde se vê daqui a dez anos?
É uma pergunta muito difícil de responder. Existem ainda muitos projetos que quero concretizar e por isso, daqui a 10 anos poderei estar em sítios muitos distintos, nomeadamente Portugal…