Juliana Gonçalves licenciou-se em Química pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) em 2011 e doutorou-se em Química Biológica em 2018 na Universidade de Copenhaga, sob orientação do químico dinamarquês Morten Meldal, um dos galardoados com o prémio Nobel da Química de 2022.

O seu projeto de doutoramento visou o desenvolvimento e caracterização in-vitro de agonistas seletivos para o recetor de melanocortina 4. Para este projeto, o trabalho merecedor do prémio Nobel deste ano foi crucial. Após a síntese de péptidos em fase sólida, estes mesmos foram ciclizados utilizando a química de “clique”.

As reações de “clique”, termo introduzido por Barry Sharpless (um dos co-vencedores do prémio Nobel, juntamente com Morten Meldal e Carolyn Bertozzi), visam a interação de um grupo funcional azida e de um grupo funcional alcinos, de modo específico, estável e com elevado rendimento. A descoberta deste tipo de reações foi uma revolução para a química, pois permite desenvolver um sem número de novas moléculas e de interações específicas, que até então não era possível.

Ainda hoje as reações de “clique” são inspiração para novas moléculas e novos projetos no laboratório liderado por Morten Meldal, na Universidade de Copenhaga. Além de um excelente químico, o dinamarquês é também um inventor bastante dedicado. Já em 1994, desenvolveu um polímero biocompatível que poderia ser utilizado para a síntese de péptidos em fase sólida, a resina PEGA (polietilenoglicol poliacrilamida).

Quem frequenta os corredores do Instituto de Química da Universidade de Copenhaga, sabe que é comum encontrar Morten Meldal no laboratório, debruçado nas suas experiências, ou a partilhar a sua experiência com o seu grupo. No escritório de Meldal pode ainda encontrar-se uma guitarra, que o premiado Nobel toca com mestria (hobby que curiosamente também partilha com Carolyn Bertozzi).

Juliana Gonçalves encontra-se na Alemanha desde 2018 a fazer um pós-doutoramento no Instituto de Patologia da Universidade Técnica de Munique, onde, juntamente com a médica Kristina Schwamborn, pretende responder aos enigmas histopatologicos do cancro e facilitar o seu diagnóstico clínico.

Para atingir este objetivo, a alumna da FCUP faz análise do conteúdo proteico de diversas amostras de cancro utilizando imagem por espectrometria de massa, associado a algoritmos de machine learning.