Num artigo publicado na prestigiada revista Biology Letters, uma equipa internacional, liderada pelas investigadoras do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO), Raquel Godinho e Rita Gomes Rocha, revela que a população do lobo africano (Canis lupaster), recentemente reconhecido como uma nova espécie, sofreu uma expansão populacional significativa durante a revolução neolítica – também conhecida por Revolução Agrícola – no Norte de África. As alterações demográficas deixam uma assinatura no DNA de todas as espécies, e foi essa propriedade que a equipa usou para inferir a demografia populacional desta espécie.

O lobo africano é uma espécie de canídeo que se distribui atualmente de uma forma ampla pelo norte e leste de África. Através da utilização de marcadores moleculares, a equipa de cientistas mostrou que esta espécie pode ter aproveitado as suas características de generalista e oportunista para usufruir da transformação agrícola da paisagem e se expandir nesta região.

A explosão das práticas pecuárias no período Neolítico – entre 10.000 a.C. e 4.000 a.C – levou a um aumento abrupto de animais domésticos que provavelmente se traduziu numa grande disponibilidade de presas para esta espécie oportunista. A predação de animais domésticos poderá assim ter sido facilitada pela perda das estratégias anti-predatórias e pela seleção de animais dóceis que decorreram no processo de domesticação.

A hipótese levantada pelas investigadoras do CIBIO-InBIO, de que a maior disponibilidade de recursos domésticos que surgiu no advento do Neolítico poderia levar a um aumento populacional de carnívoros selvagens oportunistas, foi assim confirmada com este estudo. Apesar de tudo, e surpreendentemente, esta hipótese tem sido pouco explorada.

Sobre as autoras

Bióloga, doutorada em Biologia Evolutiva pela Universidade de Lisboa, Raquel Godinho lidera o Grupo de Investigação EcoGenomics no CIBIO-InBIO e é Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). Especialmente interessada na compreensão da história evolutiva e de processos adaptativos de populações animais, tem também dedicado grande atenção ao desenvolvimento e aplicação de abordagens moleculares não invasivas para investigar a diversidade e a demografia de espécies animais e monitorizar grandes espécies de carnívoros na Europa e em África.

Raquel Godinho e Rita ROcha são investigadoras do grupo EcoGenomics do CIBIO-InBIO. (Fotos: DR)

Rita Gomes Rocha é bióloga doutorada em Biologia pela Universidade de Aveiro. Atualmente, é investigadora no grupo EcoGenomics do CIBIO-InBIO, onde se dedica ao estudo da história evolutiva, demografia e genética populacional de diversas espécies de mamíferos. Tem como interesse compreender as respostas evolutivas e ecológicas às mudanças ambientais passadas e atuais.