No âmbito do projeto HUG: Os efeitos na saúde da gentrificação, da relocalização e da insegurança residencial nas cidades: um estudo multi-coorte quase-experimental, o ISPUP está a desenvolver um estudo – coordenado pelos investigadores Ana Isabel Ribeiro e José Pedro Silva – no sentido de avaliar o impacto na saúde dos deslocamentos provocados pela gentrificação urbana, na cidade do Porto. O estudo encontra-se em fase de recrutamento de participantes.

Os investigadores procuram indivíduos adultos, maiores de 18 anos, que residiam no Porto e que, em algum momento, a partir de 2017 (inclusive) se viram “forçados” a mudar de casa (dentro do Porto ou para fora do Porto) por não conseguirem suportar o aumento da renda e/ou por não lhes ter sido renovado o contrato de habitação. A data de 2017 foi selecionada por coincidir com a aceleração dos preços da habitação no município do Porto.

Quem se incluir nestes critérios e tiver interesse em participar neste estudo, apenas tem de preencher o formulário criado para o efeito, onde irá registar os respetivos dados sociodemográficos e dar o consentimento para esta participação.

Os participantes selecionados serão depois contactados para o agendamento de uma entrevista. Poderá também partilhar esta informação com familiares, amigos ou conhecidos que tenham vivido esta situação.

Uma mudança de casa forçada pode ter impacto na saúde

A gentrificação é um processo de transformação do ambiente construído que vai ao encontro das preferências de consumo de pessoas com maior poder económico. Este processo coloca desafios às famílias que, muitas vezes, deixam de conseguir pagar uma habitação digna, o que resulta na sua relocalização e, consequentemente, numa mudança das características físicas e socioculturais dos territórios.

É sabido que a nossa saúde depende de fatores genéticos e comportamentais, mas também dos lugares onde vivemos. Logo, estes processos de transformação urbana podem trazer ganhos para a saúde da população, mas também prejuízos. Por um lado, a revitalização de territórios gentrificados pode trazer melhorias na qualidade ambiental, o que poderá ser benéfico para a saúde.

Por outro lado, estes benefícios podem não ser distribuídos de forma equitativa, e as mudanças na composição sociocultural dos territórios podem ter um impacto negativo na saúde, particularmente, na saúde mental. A mudança de casa forçada, ou até o medo de que ela possa acontecer, é, muitas vezes, uma fonte de insegurança, ansiedade e stress que pode influenciar de forma negativa a saúde, sobretudo mental, das pessoas.

Apesar de Portugal ser um país fortemente atingido pela crise habitacional, existem poucos estudos a debruçar-se sobre o impacto desta realidade na saúde da população. Neste sentido, este estudo procura conhecer melhor a forma como a deslocação indesejada afeta a vida das pessoas que a vivem, tendo em atenção potenciais consequências para o seu bem-estar e para a sua saúde.