Um consórcio internacional liderado pelo Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), da Universidade do Porto, conseguiu produzir o primeiro genoma da cavala de elevada fidelidade. A descoberta acaba de ser revelada num artigo publicado na revista científica Gigabyte e só foi possível graças à utilização de tecnologias de nova geração para a sequenciação de genoma.

A cavala é um dos peixes mais comuns na costa portuguesa, numa distribuição geográfica que abrange todo o Atlântico Nordeste e Mar Mediterrânio. Com um padrão azul esverdeado inconfundível, este peixe tem ganho cada vez mais atenção junto dos consumidores portugueses. Os seus níveis elevados em ácidos gordos essenciais, vitaminas e minerais, componentes muito importantes numa dieta equilibrada, fazem com que seja uma alternativa cada vez mais válida à sardinha.

Ora, foi precisamente a partir de um estudo sobre a biologia da sardinha feito em 2018, do qual resultou a produção do primeiro genoma de referência para a espécie, que a equipa do CIIMAR conseguiu produzir aquele que é o primeiro genoma da cavala de elevada fidelidade. Um recurso que constitui uma ferramenta essencial para estudar a dinâmica populacional da espécie e regular a sua exploração de forma sustentável.

O genoma da cavala em livro aberto

Para Filipe Castro , investigador do CIIMAR-UP e da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), e um dos cientistas seniores envolvidos neste trabalho, os resultados agora revelados representam um “instrumento muito relevante para melhorar o nosso conhecimento sobre a biologia da cavala”, ou não se tratasse do “primeiro genoma de grande qualidade em espécies deste género taxonómico!”

O investigador salienta ainda que este recurso tecnológico, para além de “um primeiro olhar global sobre o genoma da cavala”, permitirá “avaliar a diversidade genética dos stocks selvagens de cavala. Isto permitirá não só avaliar o impacto local das práticas de pesca, mas também perceber como potenciar os mecanismos naturais de recuperação das populações”.

Numa altura em que o impacto do homem nos stocks de recursos marinhos é agravado pelas alterações globais, o estudo agora publicado mostra também como a genética pode abrir uma nova perspetiva sobre as adaptações das espécies a novas condições climáticas.

“É um exemplo claro do poder que abordagens genómicas têm na monitorização e conservação dos recursos biológicos”, realça André Machado, investigador do CIIMAR-UP e autor principal do trabalho que “permitiu, por exemplo, estudar os genes criticamente envolvidos na resposta às alterações globais em curso, o famoso Antropoceno”.