Myotis alcathoe. Ou simplesmente morcego-de-bigodes de Alcathoe. Assim se chama o novo membro da lista de – agora – 27 espécies de morcegos conhecidas em Portugal continental. A descoberta, que acaba de ser publicada na revista Biodiversity Data Journal, foi realizada por uma equipa de investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), da Universidade do Porto, no âmbito do projeto InBIO Barcoding Initiative Database: Portuguese Bats (Chiroptera), que tem como objetivo a divulgação de dados de códigos de barras de ADN de morcegos de Portugal.

A aplicação da técnica conhecida por Código de Barras de ADN ou DNA Barcoding a amostras de 25 espécies de morcegos, recolhidas entre 2005 a 2018, revelou, surpreendentemente, que afinal a coleção de dados escondia uma nova espécie para Portugal continental.

O Myotis alcathoe foi anteriormente identificado como um morcego-de-bigodes (Myotis mystacinus) dadas as grandes semelhanças que apresentava do ponto de vista morfológico.

“É uma espécie críptica, de difícil identificação morfológica e que passou despercebida aos investigadores durante muito tempo. Tem vindo a ser descoberta em vários países, mas em Portugal ainda não existiam registos” explica Vanessa Mata, uma das coordenadoras do estudo.

Descrito pela primeira vez em 2001, o Myotis alcathoe tem vindo a ser identificado em diversos pontos da Europa, (Foto: DR)

Repositórios de biodiversidade desconhecida

Esta nova espécie de morcego corresponde a um individuo capturado em 2005 no Parque Nacional da Peneda-Gerês, mas cuja identidade passou despercebida até os investigadores realizarem o estudo agora publicado.

A descoberta vem demonstrar também a capacidade e a importância do DNA Barcoding para desvendar nova informação sobre a biodiversidade que possa estar “escondida” em coleções biológicas.

A técnica DNA Barcoding ou “código de barras” de ADN corresponde a uma metodologia molecular que recorre a segmentos curtos de ADN para distinguir diferentes espécies. Para a identificação de um organismo é realizada a comparação dos “códigos de barras” com uma base de dados na qual diferentes espécies estão catalogadas.

O estudo, coordenado pelos investigadores Vanessa Mata e Hugo Rebelo, foi desenvolvido no âmbito dos projetos EnvMetaGen e PORBIOTA, mais precisamente na iniciativa IBI: InBIO Barcoding Initiative, que consiste na construção de uma biblioteca de “códigos de barras” de ADN focada especialmente em invertebrados, mas que inclui agora também quase todos os quirópteros portugueses.

“É útil do ponto de vista de monitorizações não invasivas, permitindo a identificação das espécies sem recurso à sua captura, através por exemplo da identificação do guano (excrementos de morcego) de abrigos e outros locais “diz Vanessa Mata, referindo-se à importância da existência deste tipo de bibliotecas.

Uma espécie que se vai descobrindo…

Descrita pela primeira vez na Grécia e Hungria em 2001, a espécie de Myotis alcathoe tem vindo a ser identificada em diversos pontos da Europa, encontrando-se classificada na categoria “Informação Insuficiente” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Com esta descoberta é também obtido o registo mais ocidental para esta espécie. As observações mais próximas foram realizadas no norte da Galiza, sendo possível que a sua distribuição em Portugal não se restrinja apenas ao Gerês, mas sim a toda uma região norte em locais com floresta madura madura e pequenas galerias ripícolas com vegetação densa.

“É uma espécie rara em toda a sua distribuição e da qual sabemos muito pouco. Está, no entanto, associada a florestas maduras com a presença de rios e ribeiras, habitat pouco extenso em Portugal e na Europa. Uma melhor prospeção destes locais poderá ajudar numa fase inicial no conhecimento da distribuição da espécie o que será importante para a conservação da espécie e de outras associadas aos mesmos habitats” remata a autora.