Uma equipa internacional liderada por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO) publicou recentemente um estudo na revista Molecular Phylogenetics and Evolution que eleva ao estatuto de espécie a lagartixa-lusitânica (Podarcis lusitanicus), anteriormente descrita apenas como uma subespécie da lagartixa-do-noroeste (Podarcis guadarramae).

“Já se sabia que as duas formas [(P. lusitanicus e P. guadarramae] eram algo diferenciadas a nível genético, mas não sabíamos até que ponto concretamente. O que o nosso estudo veio mostrar é que são suficientemente distintas para serem consideradas espécies diferentes”, revela Guilherme Caeiro-Dias, o primeiro autor do artigo, antigo estudante de doutoramento no CIBIO-InBIO.

Mestre e doutorado em Biodiversidade, Genética e Evolução pela FCUP, Guilherme Caeiro Dias está atualmente a trabalhar na Universidade do Novo México, nos Estados Unidos. (Foto: DR)

O estudo tentou reconstruir a árvore evolutiva destas duas formas e de uma espécie próxima de ambas, a lagartixa-de-Bocage (P. bocagei). Esta última é uma espécie há muito considerada diferente, pois é fácil distingui-la morfologicamente. Os investigadores mostraram que a separação entre as três espécies ocorreu praticamente em simultâneo e que todas se mantiveram mais ou menos isoladas desde essa altura, o que implica que todas mereçam o mesmo estatuto.

Mas a indicação mais sólida de que estas formas são espécies distintas é o facto de estarem isoladas reprodutivamente. À medida que diferentes populações de uma espécie divergem, a capacidade de se reproduzirem entre si e produzirem híbridos viáveis vai diminuindo até ao ponto em que as populações divergentes passam a ser consideradas espécies distintas e eventualmente a reprodução entre elas cessa por completo.

“Com este estudo mostramos que não existem marcas de grande mistura genética, o que é mais uma evidencia no sentido de serem consideradas espécies diferentes”, explica Catarina Pinho, outra autora do estudo, que eleva assim para cinco o número de espécies de lagartixas do género Podarcis naturalmente existentes em Portugal.

Lagartixa-lusitânica (Podarcis lusitanicus), Couto do Penedo, Serra da Peneda. (Foto: Guilherme Caeiro-Dias)

Lagartixas “made in” Portugal

Todas as espécies mencionadas são endémicas da Península Ibérica, o que significa que não se encontram nem mais lugar nenhum do mundo. Podarcis lusitanicus ocorre numa vasta área do noroeste peninsular, tal como Podarcis bocagei. Já a distribuição de Podarcis guadarramae abrange sobretudo as montanhas do Sistema Central espanhol e áreas circundantes, estando a sua presença em Portugal restrita a uma pequena área fronteiriça do concelho de Sabugal.

Para além das três espécies focadas pelo estudo, em Portugal existem ainda a lagartixa-de-Carbonell, Podarcis carbonelli e a lagartixa-verde, Podarcis virescens, também endémicas da Península Ibérica.