Um grupo de cientistas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa), todos eles membros do CENTRA – Centro de Astrofísica e Gravitação, está a participar no desenvolvimento do METIS (Mid-infrared ELT Imager and Spectrograph), um poderoso instrumento que vai equipar o maior telescópio do mundo – o Extremely Large Telescope (ELT).

Em construção nas instalações do European Southern Observatory (ESO), no Chile, o ELT será o maior telescópio terrestre no ótico e infravermelho quando der início às suas operações, prevista para meados desta década. Com o seu espelho primário de 39 metros de diâmetro e sistemas de ótica adaptativa avançados, o telescópio será capaz de ver detalhes seis vezes mais finos do que o Telescópio Espacial James Webb e 20 vezes mais finos do que o Telescópio Hub.

O METIS irá detetar radiação invisível ao olho humano, radiação que se “sente” sob a forma de “calor”. O instrumento – cujo desenho já está concluído, sendo agora necessários cerca de sete anos para terminar a respetiva construção e instalação no ELT – irá tirar total partido do espelho primário gigante do ELT para estudar uma enorme quantidade de tópicos científicos, desde objetos do nosso sistema solar até galáxias ativas distantes, com uma precisão revolucionária.

Made in Portugal

O custo total do MITES ronda os 95 milhões de euros e a sua massa é de cerca de 12 toneladas (equivalente a um autocarro de dois andares). A participação portuguesa no desenvolvimento do instrumento tem lugar em várias frentes, entre as quais se inclui a construção da estrutura mecânica de suporte.

“A estrutura de suporte tem requisitos extremos. Por um lado deve posicioná-lo com uma estabilidade de 10 milionésimos de uma rotação e 100 milionésimos do metro. Por outro, deve resistir a um grande terramoto, mantendo a integridade do instrumento, sendo capaz de suportar uma massa equivalente de 40 toneladas!”, explica Mercedes Filho, gestora do projeto em Portugal, no CENTRA e professora do Departamento de Engenharia Física (DEF) da FEUP,

Já António Amorim, responsável pela participação portuguesa no projeto e professor do Departamento de Física (DF) da Faculdade de Ciências da ULisboa, nota que “participar no desenvolvimento do METIS tem sido um gigantesco teste das nossas capacidades de inovação, simulação e construção de instrumentos para a Astrofísica”.

“Coloca-nos na linha da frente como professores, investigadores, engenheiros físicos e estudantes abertos ao mundo do desenvolvimento e da produção industrial, promovendo ainda o nosso acesso a observações realizadas com um instrumento científico de topo que nos transporta para o futuro da Astrofísica”, afirma o também coordenador do grupo SIM do CENTRA.

A revisão de design preliminar do METIS decorreu em maio de 2019, no ESO em Garching. (Foto: DR)

Um universo de potencialidades

Na verdade, são muitas as descobertas científicas que estão a ser preparadas em detalhe, dado o elevadíssimo custo e competição pela infraestrutura. Como explica Paulo Garcia, investigador do CENTRA e professor do DEF FEUP: “o METIS permitirá um estudo sem precedentes da gravidade na proximidade do buraco negro supermassivo no centro da nossa galáxia. Os avanços estão ligados à sua capacidade de detetar novas estrelas em órbitas mais próximas do buraco negro do que as atualmente conhecidas, como também no estudo do seu movimento”.

O METIS tem igualmente potencial para detetar diretamente exoplanetas terrestres em torno das estrelas mais próximas e permitirá o estudo das estrelas em momentos primordiais, quando têm um milésimo da sua vida total. “É neste primeiro milésimo que se encontram as grandes incógnitas sobre a formação estelar e planetária”, projeta André Moitinho, investigador no CENTRA e professor do DF Ciências Lisboa

Na equipa portugusa envolvida na preparação científica desta iniciativa incluem-se ainda a investigadora Koralika Muzic, do CENTRA, e Alexandre Correia, professor do Departamento de Física da Universidade de Coimbra.