O trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos na produção de um estômago-em-chip, um sistema de microfluídica biomimetico capaz de reproduzir a arquitetura e função do estômago humano, valeu ao investigador Daniel Ferreira, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), o prémio de melhor apresentação oral no 12.º Meeting Internacional da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular, que decorreu este mês em Braga.

A investigação apresentada por Daniel Ferreira resulta do seu projeto de doutoramento (BiotechHealth) desenvolvido nos grupos do i3S «Biofabrication», liderado por Pedro Granja, e «Expression Regulation in Cancer», liderado por Carla Oliveira, em colaboração com o grupo «Thin Film MEMS and BioMEMS», do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Microsistemas e Nanotecnologia (INESC-MN), em Lisboa, e o Cell Chip Group, da Universidade de Tecnologia de Viena, na Áustria.

A inexistência de modelos gástricos in vitro, capazes de mimetizar a arquitetura e o microambiente dinâmico da mucosa gástrica, limitam o desenvolvimento de novas ferramentas de diagnóstico e terapêutica na área do cancro gástrico.

Assim, a “tecnologia de órgão-em-chip, promete revolucionar os estudos pré-clínicos, e reduzir significativamente a dependência em modelos de experimentação animal, oferecendo uma alternativa de origem humana, para tratar uma doença humana e um passo crucial para estabelecer um modelo de medicina personalizada”, explica o investigador.

Um novo “reforço” no estudo da doença gástrica

Neste trabalho, adianta Daniel Ferreira, “descrevemos o processo de criação de um estômago-em-chip inspirado na fisiologia humana, capaz de reproduzir a arquitetura e função parcial da mucosa gástrica humana, bem como a sua natureza dinâmica, mimetizando movimentos peristálticos e fluxo intra-luminal. Estas características que são essenciais para a função de barreira gástrica, são comummente perdidas num ambiente de cultura celular 2D”.

O estômago-em-chip desenvolvido, sublinha, “representa uma ferramenta com potencial aplicabilidade num contexto de medicina personalizada, enquanto ferramenta biorrelevante para estudar a doença gástrica”.

Para o investigador, esta distinção representa “um importante reconhecimento dos resultados de um projeto ambicioso que reuniu uma equipa multidisciplinar, em torno de um problema central na área de biomedicina. É importante encontrar alternativas à experimentação animal, que repliquem a fisiologia humana e permitam uma maior taxa de sucesso na transposição de drogas e terapêuticas inovadoras para a clínica”.

Este prémio, acrescenta Daniel Ferreira, “surge no final do meu trabalho de doutoramento e servirá certamente para fortalecer a minha determinação em procurar uma carreira científica na área de biotecnologia e no desenvolvimento de novas ferramentas para o estudo dos vários aspetos da doença gástrica”.

Licenciado em Bioquímica pela U.Porto (2004) e mestre em Biologia pela Faculdade de Ciências da U.Porto (2008), Daniel Ferreira concluiu em 2021 o Programa Doutoral Internacional em Biotecnologia Molecular e Celular aplicada às Ciências da Saúde (BiotechHealth), lecionado pela Faculdade de Farmácia (FFUP) e pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da U.Porto, tendo realizado a sua investigação no i3S.