Repetindo a receita de sucesso iniciada em 2018, a Fundação Amadeu Dias (FAD) voltou a aliar-se à Universidade do Porto com o objetivo de investir em tecnologias inovadoras geradas no seio da U.Porto. No total, a edição deste ano do programa BIP Proof vai atribuir 40 mil euros, montante que as quatro equipas vencedoras* vão poder utilizar no desenvolvimento de provas de conceito para validação da sua investigação.

Uma nova esperança contra o cancro

No primeiro lugar da tabela ficou o projeto ACTONP53, desenvolvido por Lucília Saraiva, docente e investigadora da Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP) e do LAQV/REQUIMTE, e pela sua estudante de doutoramento, Helena Ramos. O trabalho premiado foca-se na proteína p53, que é essencial para a reparação do nosso ADN. Sem ela, a frequência de mutações celulares aumenta, levando à formação de tumores. A pensar nisso, a equipa da FFUP desenvolveu uma nova pequena molécula que reativa a proteína p53 mutada, restabelecendo a sua atividade normal.

“O cancro é uma das principais causas de mortalidade e morbilidade no mundo”, lembram as investigadoras, acrescentando que apesar de existirem notórias evoluções no tratamento desta doença, continua a ser “uma prioridade encontrar estratégias terapêuticas mais eficazes e menos evasivas”.

Os testes já realizados em modelos animais e em células tumorais de pacientes “comprovam o potencial terapêutico desta molécula”, a qual “representa uma nova esperança no tratamento personalizado de doentes oncológicos”, dizem Lucília Saraiva e Helena Ramos. Nesse sentido, o financiamento de 10 mil euros garantido através do BIP Proof  será uma mais-valia para prosseguir com a investigação. Com efeito, o montante atribuído ao projeto ACTONP53 será utilizado em “estudos de determinação do perfil farmacocinético do composto in vitro e in vivo, assim como na liquidação de custos associados ao processo de pedido de patente para proteção da tecnologia”, concluem as investigadoras.

Para Helena Ramos e Lucília Saraiva, é “uma prioridade encontrar estratégias terapêuticas mais eficazes e menos evasivas” contra o cancro. (Foto: FFUP)

Do mar para o corpo

O Cyanocare, projeto em desenvolvimento no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), também foi escolhido nesta ronda de financiamento. Baseia-se num polímero produzido naturalmente, e em grandes quantidades, por uma cianobactéria marinha – o Cyanoflan. Devido às suas propriedades naturais, esta matéria-prima pode ser utilizada em diferentes indústrias, como a biofarmacêutica. “O Cyanoflan pode ser utilizado em produtos cosméticos e de higiene corporal, possibilitando a substituição de compostos sintéticos por produtos naturais renováveis”, refere Rita Mota, investigadora responsável pelo projeto.

Para a investigadora, que já levou o projeto CyanoCare à Escola de Startups da UPTEC e à competição ClimateLaunchpad Portugal (tendo ficado em 3º lugar), o apoio do BIP Proof será fundamental. “Vamos poder aprofundar a aplicação do Cyanoflan na área da cosmética em colaboração com parceiros industriais. O apoio vai incluir serviços de consultoria com uma empresa de renome, mas também a realização de um rastreio da atividade biológica do Cyanoflan para verificar se este poderá ser também utilizado como ingrediente ativo”, refere Rita Mota.

Além disso, a equipa do i3S vai dar início também aos testes toxicológicos. O objetivo, segundo a investigadora, é, no final do projeto, terem um “ingrediente 100% natural capaz de ser incorporado em produtos de diferentes indústrias permitindo atingir consumidores ecologicamente conscientes”, conclui.

Rita Mota é a investigadora responsável pelo projeto CyanoCare. (Foto: i3S)

Contra as infeções hospitalares

Também da Faculdade de Farmácia, foi escolhido o projeto IR Bactyping, atualmente em desenvolvimento pelas investigadoras Ana Freitas, Ângela Novais, Luísa Peixe e Teresa Ribeiro. Trata-se de uma solução que “permite a identificação e diferenciação de tipos bacterianos dentro de uma espécie, em tempo real”, referem as cientistas. Além da ótima performance, a solução também é de fácil implementação, rápida e menos dispendiosa que os métodos competidores.

Na prática, a implementação do IR Bactyping na rotina de um hospital vai permitir apoio aos “serviços de microbiologia clínica e de controlo de infeção, melhorando os índices de infeção hospitalar e, consequentemente, o cuidado prestado aos pacientes”.

Encarando este grant de 10 mil euros como um reconhecimento importante, o quarteto de investigadoras pretende agora utilizar o valor para alavancar a “implementação de estudos piloto em hospitais de referência a nível ibérico”, experiência essa que vai permitir avaliar o impacto do IR Bactyping numa rotina hospitalar. Além disso, vão investir também em consumíveis e serviços para validar e otimizar a metodologia, bem como nas vertentes comercial e de credibilização da tecnologia, através da construção de um website.

Ana Freitas, Ângela Novais, Luísa Peixe e Teresa Ribeiro são os “cérebros” por detrás do projeto IR Bactyping. (Foto: FFUP)

Diagnóstico de sistemas eletrónicos

Entrando agora nas engenharias, também a tecnologia C4MiR foi selecionada para este financiamento. Trata-se de uma invenção desenvolvida por investigadores do INESC TEC e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e os 10 mil euros serão importantes para desenvolver um novo protótipo, tornando a tecnologia “mais visível para potenciais entidades interessadas na sua adoção”, refere Miguel Velhote Correia, um dos inventores.

O C4MiR é uma tecnologia de teste e diagnóstico de sistemas eletrónicos. Como referem os inventores, as suas aplicações “centram-se no domínio das redes de sensores e Internet das Coisas (IoT), com o propósito de promover a utilização dos canais de comunicação para fins de teste e diagnóstico do sistema”. Este método permite reduzir custos no desenho e produção dos sistemas eletrónicos e também aumentar a confiabilidade das aplicações. Para o desenvolvimento do protótipo, a equipa INESC TEC/FEUP vai utilizar o financiamento para recursos humanos especializados.

Parceria para continuar

Para Helder Vasconcelos, vice-reitor da Universidade do Porto com os pelouros das relações com empresas, inovação e empreendedorismo, esta parceria com a Fundação Amadeu Dias constitui um apoio “inestimável”, uma vez que permite que a U.Porto Inovação – responsável pela iniciativa BIP Proof – continue a trabalhar no “desenvolvimento de ações que visem demonstrar a viabilidade tecnológica e comercial de tecnologias no âmbito da investigação de translação da U. Porto.

Já do lado da FAD, João Marinho Gonçalves lembra que “a Fundação Amadeu Dias tem direcionado a sua atividade mecenática principal no apoio a programas focados na transferência do conhecimento, na inovação e no empreendedorismo, desenvolvidos essencialmente em ambiente universitário”. E nesse sentido, não hesita em classificar a U.Porto como um “parceiro fundamental e de enorme prestígio para a atividade desenvolvida pela fundação”.

João Marinho Gonçalves deixa ainda elogios ao BIP Proof, um programa de “natureza inovadora e arriscada que, pelas suas características, sempre esteve na primeira linha dos programas da U.Porto a apoiar”.

* A atribuição do quarto projeto, também no valor de 10 mil euros, será anunciada em breve.