Investigar as capacidades, dificuldades e necessidades das famílias adotivas portuguesas é o objetivo do AdoPt – Follow-up em pós-adoção, um projeto liderado pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) e que irá decorrer ao longo dos próximos três anos.

Este projeto, que tem como investigadora principal Maria Barbosa Ducharne, docente da FPCEUP e membro do Grupo de Investigação e Intervenção em Acolhimento e Adoção (GIIAA) da U.Porto, surgiu da necessidade de encontrar uma resposta fundada na evidência científica às dificuldades com que se confrontam as famílias adotivas em Portugal. Isto porque, a par de muitas experiências positivas, a adoção também cria stress e dificuldades específicas.

Na verdade, estatísticas recentes publicadas pelo Instituto de Segurança Social mostram que, em Portugal, e só nos últimos 4 anos, 7.2% das crianças já adotadas ou em pré-adoção retornaram ao sistema de acolhimento.

Os números vão, de resto, ao encontro de dados internacionais que já haviam mostrado que cerca de uma em cada quatro adoções passa por dificuldades que ameaçam a estabilidade da família e a permanência da criança.

À procura de respostas

O que acontece às famílias no pós-adoção? Como se estabelecem/fortalecem os laços emocionais que sustentam as relações familiares em adoção? Como emergem e se desenvolvem os problemas? Quais as maiores fontes de satisfação e stress nestas famílias? Onde procuram aconselhamento/apoio? Como evoluem as famílias à medida que o adotado se aproxima da adolescência e reclama independência?

Estas são algumas questões para as quais os seis investigadores da FPCEUP – a que se juntam dois do ISCTE – envolvidos no projeto vão procurar obter respostas. Deste trabalho espera-se que resulte também a construção de um conhecimento profundo das trajetórias em pós-adoção de famílias portuguesas e o estabelecimento de bases sólidas para o desenvolvimento de serviços de pós-adoção, inexistentes e urgentemente necessários.

Mais concretamente, o projeto AdoPT vai acompanhar trajetórias em pós-adoção de 270 famílias adotivas portuguesas. A ideia passa por identificar a emergência e extensão das dificuldades, a acessibilidade e disponibilidade de recursos e apoios e estabelecer um sistema de monitorização das famílias ao longo do tempo, proporcionando um apoio eficaz e atempado.

Para atingir estes objetivos, os investigadores vão desenvolver um sistema online de monitorização e acompanhamento das famílias participantes de fácil acesso e utilização, proporcionando feedback e recursos psicoeducacionais. Serão ainda organizadas, com a colaboração do Instituto de Segurança Social, sessões anuais com profissionais da adoção para partilha de resultados e desenho de novos serviços de apoio/acompanhamento.

Uma ajuda para os profissionais da adoção

Através deste projeto, espera-se, desde logo, colmatar o “vazio” que existe em Portugal ao nível da ciência básica no domínio investigação em adoção, ainda pouco alinhada com a pesquisa internacional e na qual a perspetiva do serviço social está menos presente.

Por outro lado, pretende-se igualmente reunir informação rigorosa que permita aos profissionais da adoção estarem conscientes das necessidades destas famílias e responder eficazmente às suas dificuldades.

Atualmente, o acompanhamento em pós-adoção, em Portugal, é fragmentado e irregular. Os investigadores esperam, desta forma, disponibilizar aos profissionais da adoção um protocolo bem estabelecido, que lhes permita monitorizar as famílias, de forma a identificar e responder eficaz e atempadamente às suas necessidades.