Cerca de 50 estudantes do 5.º e 6.º anos dos dois cursos de Medicina da Faculdade de Medicina (FMUP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), – da Universidade do Porto vão engrossar, a partir desta quinta-feira, as fileiras dos profissionais de saúde que estarão de plantão no “Hospital Porto.”, o novo hospital de campanha instalado no Super Bock Arena-Pavilhão Rosa Mota, e destinado a receber doentes infetados com Covid-19, assintomáticos ou com sintomas ligeiros, mas sem possibilidade de isolamento no domicílio.

Apoiados pelas Direções das duas faculdades, os estudantes afirmam ter-se voluntariado por quererem fazer parte da solução para esta pandemia. “Foi-nos lançado este desafio e, tendo em mente que um estudante da FMUP no final do curso consegue prestar já um apoio diferenciado neste tipo de situações, não podemos ficar parados”, explica Nuno Ferreira, presidente da Associação de Estudantes da FMUP.

“Acreditamos que podemos ser uma mais valia para o hospital de campanha, enquanto aproveitamos para complementar a nossa formação e contactar com mais alguns doentes, salvaguardando sempre a segurança de todos”, acrescenta o líder da AEFMUP.

Já nas palavras de João Silva, presidente da Associação de Estudantes do ICBAS, a iniciativa foi “muito bem recebida pelos estudantes”, sendo a sua contribuição “proveitosa tanto para a comunidade como para os próprios estudantes, que adquirem competências que lhes podem valer num futuro próximo”.

O futuro médico considera ainda que “é de louvar as entidades que, neste momento de crise, unem esforços no combate a este inimigo comum, materializando o que deve ser a colaboração institucional”.

Montado em tempo recorde, o “Hospital Porto.” está equipado com 300 camas destinadas adoentes infetados com Covid-19, assintomáticos ou com sintomas ligeiros. (Foto: CMP)

Primeiro, a formação

Antes de enfrentarem os desafios da pandemia, os estudantes vão receber formação por parte da Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos. António Sarmento, diretor do Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) e professor da FMUP, é um dos responsáveis pela formação dos finalistas da FMUP e do ICBAS.

“A formação incidirá sobre as noções básicas que os profissionais de saúde devem conhecer sobre esta nova doença, os potenciais sinais de alarme de agravamento do quadro clínico dos doentes, e os cuidados específicos que deverão ter na abordagem dos doentes com covid19, com especial enfoque nos equipamentos de proteção individual e sua adequada utilização, para que a integridade de nenhum estudante seja colocada em risco”, explica a SRNOM.

Dos estudantes de Medicina é esperada uma colaboração muito semelhante à dos estágios que se realizam no 6.º ano do curso, com o trabalho médico normal de internamento, passagem de visita, avaliação dos doentes e elaboração dos diários clínicos. Os estudantes participarão ativamente, estando integrados em equipas com médicos mais velhos e experientes, capazes de os orientar.

Contributo altruísta

Ainda segundo a SRNOM, 0 contributo que será dado pelos finalistas de Medicina será “uma ajuda muito apreciada” por todos os profissionais de saúde que, “de forma absolutamente voluntária e altruísta, irão participar nesta iniciativa tão importante para aliviar a sobrecarga” que já se sente no CHUSJ e no Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP).

“O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos agradece a colaboração das Escolas Médicas e Associações de Estudantes neste processo, e “em especial aos estudantes que se voluntariaram e que demonstram que as gerações vindouras partilham do enorme espírito de solidariedade que envolve todos os profissionais de saúde nas alturas de maior dificuldade”, nota a Ordem dos Médicos.

Já o diretor da FMUP, Altamiro da Costa-Pereira, considera a iniciativa “extremamente oportuna”, acrescentando que “a participação voluntária dos finalistas da FMUP é algo que só poderá enobrecer tanto a sua formação médica como pessoal”.

Também Henrique Cyrne Carvalho, diretor do ICBAS, considera a participação dos estudantes muito enriquecedora, permitindo aos estudantes “em fase profissionalizante adquirirem competências profissionais que, seguramente, vão constituir um marco nas suas vidas”.

Estudantes protegidos

Note-se que as Direções da FMUP e do ICBAS estão a assegurar uma extensão do seguro escolar desses estudantes, “para que estejam tão protegidos quanto possível”, durante o seu trabalho voluntário dedicado à população afetada por Covid-19.

Está ainda em curso a apresentação desta ação à Comissão de Voluntariado da U.Porto para que, se aprovada, possa ser objeto de menção no suplemento ao diploma dos estudantes.

Em tempo recorde

O novo “Hospital Porto.” resulta de um esforço que envolveu várias entidades – sob a coordenação da Câmara Municipal do Porto e do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos – e que permitiu montar, em poucos dias,  uma unidade com condições muito acima de um normal hospital de campanha.

Além de 300 camas  destinadas a doentes infetados com Covid-19 e com necessidade de cuidados médicos devido a outras patologias, e a para doentes em fase de convalescença, o espaço está equipado com um refeitório, casas de banho e balneários. Foram ainda garantidas todas as condições ideias de climatização, o que permite manter uma temperatura constante e controlada durante todo o dia em todo o pavilhão.

Na prática, o novo hospital permitirá assim retirar muitos doentes dos dois hospitais centrais do Porto, possibilitando que estes possam tratar melhor mais doentes graves e a precisar de Unidade de Cuidados Intensivos.

O espaço de campanha – que deverá começar a receber doentes nos próximos dias – vai ser gerido pela Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos e é aberto à colaboração de médicos e estudantes de Medicina que se voluntariem para prestar serviço. Os interessados devem preencher o formulário disponível aqui.