Um estudo desenvolvido por investigadores das Faculdades de Medicina (FMUP), Desporto (FADEUP) e Farmácia (FFUP) da Universidade do Porto comprovou que a prática de futebol é uma estratégia “eficaz” para melhorar os fatores de risco cardiovascular e metabólico em crianças com excesso de peso.

As conclusões do projeto, publicadas na revista internacional Progress in Cardiovascular Diseases, dão conta que as crianças que frequentaram um programa extracurricular de futebol ao longo de seis meses melhoraram não só os indicadores nutricionais, como a redução do índice de massa corporal e a percentagem de massa gorda, como também os indicadores metabólicos, nomeadamente a tensão arterial, o perfil da insulina e os níveis de glicose.

“Este projeto pretendeu alertar para a importância da prática do exercício físico como intervenção terapêutica da obesidade, sobretudo para os benefícios decorrentes da prática do futebol”, esclarece Carla Rêgo, médica pediatra e professora da FMUP.

Financiado pela UEFA, o projeto recrutou 40 crianças com excesso de peso acompanhadas em dois hospitais de referência da cidade do Porto. Divididos em dois grupos, metade dos jovens frequentou três sessões extracurriculares de futebol, enquanto a outra metade praticou diversas atividades de pavilhão, como jogos tradicionais, corrida e ginástica.

Os resultados mostraram que o grupo que praticou futebol, comparativamente aos outros desportos, apresentou uma “eficácia superior nos diferentes parâmetros cardiovasculares e metabólicos avaliados”.

14% das crianças portuguesas são obesas

Na opinião de Carla Rêgo, o facto de o futebol “ser um jogo popular, de fácil acesso e sem grandes custos associados, potencia uma ótima adesão por parte das crianças e dos adolescentes”.

Segundo a também investigadora do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, o futebol reúne os “ingredientes” certos que fazem deste desporto uma “receita ideal para combater a obesidade” num contexto, como o português, em que “32% das crianças têm excesso de peso, das quais 14% são obesas”.

Uma surpresa para os investigadores foi também a associação entre as crianças que praticaram futebol com melhorias apresentadas nos indicadores comportamentais, nomeadamente a autoestima e a autoimagem.

“Estamos a falar de um desporto coletivo, o que é extremamente importante na adolescência porque permite desenvolver competências formativas entre os jovens, como a partilha de responsabilidades, o saber ganhar e perder em equipa e aprender a respeitar o espaço do adversário”, conclui a investigadora.

Além de Carla Rêgo, participaram neste estudo os investigadores André Seabra, João Brito, Pedro Figueiredo, Liliana Beirão, Ana Seabra, Maria José Carvalho, Sandra Abreu, Susana Vale, Augusto Pedretti, Henrique Nascimento e Luís Belo.