Um estudo que envolveu investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e da Universidade de Lorraine (França) comprovou que o tabagismo é responsável pelo início precoce do envelhecimento cardiovascular e por ativar vias de sinalização ligadas à inflamação, doenças cardiovasculares e cancro.

Pese embora os reconhecidos malefícios do tabaco, como o cancro do pulmão e enfarte do miocárdio, esta investigação revela agora novos dados acerca dos danos cardiovasculares, bem como de biomarcadores proteicos que regulam a inflamação, o metabolismo e processos oncológicos, entre outros.

“A lesão celular induzida pelo cigarro e a resposta imune inflamatória são os dois prováveis mecanismos que explicam o envelhecimento prematuro e o aumento da incidência de doenças crónicas em fumadores”, explica João Pedro Ferreira, da Unidade de Investigação Cardiovascular (UnIC) da FMUP e um dos autores do estudo.

Publicado na revista científica Atherosclerosis, o trabalho dos investigadores pretendeu compreender o impacto do tabaco no coração, vasos e análises ao sangue.

Após uma série de exames efetuados a uma população de mais de 1.500 fumadores, antigos fumadores e pessoas que nunca fumaram, os investigadores constataram que, apesar de serem cerca de 18 anos mais jovens, os fumadores atuais apresentavam níveis semelhantes de hipertensão, diabetes e lesão vascular (placas de colesterol e rigidez vascular) aos de pessoas mais velhas que nunca fumaram.

Deixar de fumar não reverte o dano vascular já ocorrido

“Os fumadores atuais não só expressaram níveis mais altos de proteínas associadas a processos inflamatórios, desregulação metabólica e processos oncológicos, como também a altos níveis de proteínas circulantes que têm um papel na regulação da inflamação pulmonar, levando à doença pulmonar obstrutiva crónica”, esclarece o investigador da FMUP.

Paralelamente, o tabagismo foi também associado a várias proteínas que são conhecidas por iniciar e facilitar a progressão da lesão aterosclerótica.

Quanto ao grupo de antigos fumadores, os autores descobriram um aumento da associação do tabagismo com a diabetes. De acordo com o estudo, “os dados sugerem então que os danos nos órgãos induzidos pelo tabaco não diminuem completamente após a cessação do tabagismo”.

Reconhecido como um dos fatores de risco mais importantes em doenças cardiovasculares, metabólicas, pulmonares e oncológicas, “o tabaco é responsável por mais de 6 milhões de mortes em todo o mundo a cada ano”, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

A par de João Pedro Ferreira, o estudo “Impact of smoking on cardiovascular risk and premature ageing: Findings from the STANISLAS cohort” é da autoria dos investigadores Tripti Rastogi, Nicolas Girerd, Zohra Lamiral, Emmanuel Bresso, Erwan Bozec, Jean-Marc Boivin, Patrick Rossignol e Faiez Zannad.