António Gil Azevedo, finalista do Mestrado Integrado em Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS-UP), foi recentemente distinguido com um apoio monetário de 15 mil euros pela Fundação Professor Ernesto Morais. O valor será aplicado num projeto de investigação que tem como objetivo contribuir para a melhoria dos cuidados de saúde das pessoas com demência.
Denominado “Padrões da neuro-inflamação na doença de Alzheimer, demência com corpos de Lewy e casos de patologia mista”, o estudo premiado vai incidir sobre os padrões de neuro-inflamação no cérebro de doentes com sobreposição de patologias associadas a tipos comuns de demência (em particular doença de Alzheimer e Demência de corpos de Lewy). O objetivo passa por caracterizar estes padrões, quer pela sua neuro-inflamação em doentes com patologia neuro-degenerativa mista, quer por comparação com doentes com apenas uma patologia neuro-degenerativa, e com indivíduos sem demência.
Na prática, a equipa de investigação liderada pelo investigador Ricardo Taipa, docente, investigador, médico neurologista e neuropatologista no Centro Hospitalar Universitário do Porto e no ICBAS, vai utilizar amostras de cérebros humanos doados à ciência, em particular do Banco Português de Cérebros. Ali, vão estudar amostras de diferentes áreas cerebrais mais afetadas pelas doenças descritas em termos de histologia e em particular de neuro-inflamação. Será igualmente estudada a associação dos achados a variantes genéticas já descritas como associadas à neuro-inflamação. Os dados serão posteriormente analisados em conjunto com os dados clínicos dos doentes para uma melhor interpretação dos resultados.
Desta forma, pretende-se que a investigação ajude a melhorar a compreensão da heterogeneidade clínica substancial que existe nestas doenças. Os investigadores pretendem igualmente promover o desenvolvimento de novos biomarcadores que permitam terapias mais dirigidas e ajustadas a diferentes grupos de doentes, melhorando os cuidados de saúde das pessoas com demência.
O projeto torna-se particularmente importante – e urgente – num contexto em que estão a ser avaliadas novas terapias promissoras para doenças neuro-degenerativas baseadas na modulação da neuro-inflamação. Uma melhor compreensão da biologia da neuro-inflamação nos doentes com patologia mista poderá ajudar a melhor ajustar estas terapias para maximizar o benefício para estes doentes.
Um “forte estímulo para continuar a fazer sempre mais e melhor”
Para António Gil Azevedo, o apoio atribuído pela Fundação Professor Ernesto Morais constitui “o reconhecimento do mérito do trabalho de investigação proposto e da linha de investigação” que a equipa de Ricardo Taipa tem vindo a desenvolver.
“Com o envelhecimento da população existe um número crescente de pessoas a sofrer com doenças neurodegenerativas muito debilitantes que carecem de melhores cuidados de saúde ainda por desenvolver. Fico muito grato por esta oportunidade sem a qual o nosso de trabalho de investigação em doenças neurodegenerativas não seria possível”, nota o estudante e jovem investigador.
Reconhecendo que este apoio “é também uma grande responsabilidade” e que pretende “fazer o máximo de avanços possível com os fundos concedidos”, António Gil Azevedo encara o desafio como “um novo e forte estímulo para continuar a tentar fazer sempre mais e melhor para promover a saúde humana e melhores cuidados de saúde.” Por outro lado, “é uma grande oportunidade que me poderá ajudar a ganhar a experiência necessária para desenvolver projetos com cada vez mais impacto na melhoria dos cuidados de saúde dos doentes.”
Ricardo Taipa, orientador do trabalho nomeado, não esconde por sua vez o “prazer e orgulho” por ver premiado “o esforço efetuado pelo António Azevedo no processo de candidatura ao Apoio Monetário da FPEM. (…) O António mostrou o espirito inquieto que se deseja no estudante universitário e conseguiu através de uma pergunta de investigação ligada às demências neuro-degenerativas, desenhar um plano de investigação e que será possível colocar em prática agora”, destaca.
O docente e investigador do ICBAS acrescenta ainda que, “se todo o processo de candidatura já foi excelente para o crescimento académico do António, ser possível transformar o plano teórico em algo palpável nos laboratórios do Banco Português de Cérebros e do ICBAS será extraordinário”.
Também o Diretor do ICBAS, Henrique Cyrne Carvalho, enalteceu o trabalho premiado. “Estamos muito orgulhosos do António que, com o seu esforço e com o apoio do seu orientador, tem feito um trabalho notável que contribui também para o reconhecimento do ICBAS”.
Para Cyrne de Carvalho, “a estreita ligação dos estudantes da formação pré-graduada à investigação é uma mais-valia que queremos muito valorizar e este apoio é muitíssimo importante, não só para a concretização dos trabalhos, como também para o estímulo à exploração da vertente da investigação já na formação inicial. É, por isso, para nós uma grande satisfação ver estes apoios, vindos de uma Fundação que muito estimamos, atribuídos a estudantes do ICBAS.”
Já para o Presidente da Fundação Professor Ernesto Morais, Coronel Henrique Morais, o “apoio monetário atribuído pela FPEM ao estudante António Azevedo surge, por força estatutária, como incentivo à investigação científica, já que o Professor Ernesto Morais, enquanto professor da cadeira de Patologia Geral (hoje desdobrada em Imunologia e Genética) sempre procurou transmitir aos seus alunos a necessidade permanente de eles fomentarem o “espirito de curiosidade científica”.
O responsável salienta ainda que esta é uma “procura de ir ao encontro da forma de sentir, pensar e ensinar do Professor Ernesto Morais, tornando-se inquestionável a(s) razão(ões) da atribuição de um apoio monetário que permitisse o desenvolvimento e aprofundamento de qualquer tipologia de investigação nestas áreas de estudo, tão caras ao professor Morais como o eram a Imunologia e a Genética.”
Presentes na cerimónia estiveram ainda o Instituidor da Fundação Professor Ernesto Morais (FPEM) – José Manuel Morais, a Presidente do Conselho Científico (CC) da FPEM – Helena Alves e, ainda, Manuel Vilanova e Rui Henrique, membros do CC da FPEM e docentes do ICBAS.
Sobre a Fundação Professor Ernesto Morais
A FPEM foi criada em 2007, como homenagem a Ernesto Morais (1905-1986), médico e professor universitário catedrático de Patologia Geral da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP).
Entre as iniciativas da fundação inclui-se o apoio monetário aos estudantes das duas escolas médicas – ICBAS e FMUP – com trabalhos de investigação científica (não de revisão bibliográfica) promissores nas áreas da Genética ou da Imunologia. Podem também ser considerados projetos de Imuno-oncologia, Imunogenética das doenças crónicas e doenças autoimunes, Imunogenética da inflamação das doenças crónicas.