As crianças que vivem nas cidades e que estão expostas a ambientes com mais espaços verdes, no entorno das suas escolas, apresentam melhor função pulmonar do que as que estão rodeadas por ambientes mais construídos. A diferença pode estar associada a alterações na atividade do sistema nervoso autónomo, segundo sugere um estudo coordenado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e que contou com a participação de vários investigadores da U.Porto.

“Com este trabalho, quisemos perceber de que forma é que o ambiente exterior influencia a função pulmonar das crianças e a atividade do seu sistema nervoso autónomo, o qual regula muitas das funções das vias aéreas”, explica Inês Paciência, primeira autora do estudo, coordenado pelo investigador do ISPUP, André Moreira, e recentemente publicado na revista “Scientific Reports”.

“Optámos por avaliar a influência dos espaços existentes ao redor das escolas na função pulmonar das crianças, uma vez que estas passam a maior parte do seu tempo dentro ou perto do recinto escolar”, acrescenta.

Os investigadores avaliaram a saúde respiratória de 701 crianças, que frequentavam os 3º e 4º anos de ensino, de 20 escolas primárias da cidade do Porto, através da aplicação de um questionário e de avaliações físicas e clínicas.

Também o espaço em redor das escolas foi analisado, sendo consideradas para estudo as áreas que se localizavam a uma distância de 500 metros de cada escola.

A este nível, foi possível verificar que as zonas com mais espaços verdes têm um efeito positivo na função pulmonar das crianças e que esse efeito pode ser mediado pelo sistema nervoso autónomo.  “Constatámos também que a maior exposição a espaços construídos está associada a alterações no sistema nervoso parassimpático das crianças, o que, por sua vez, pode conduzir a uma diminuição da sua função respiratória”, refere Inês Paciência.

Construir áreas verdes para prevenir a doença

Para a investigadora, este artigo vem sublinhar a importância de se promover “a construção de áreas verdes ao redor das escolas”. Segundo Inês Paciência, estas áreas “podem estar associadas a uma diminuição dos riscos que advêm da exposição a ambientes urbanos. Trata-se, no fundo, de uma forma de prevenir a doença, com vista a alcançar ganhos futuros em saúde”.

O artigo, intitulado School environment associates with lung function and autonomic nervous system activity in children: a cross-sectional study, é também assinado pelos investigadores João Cavaleiro Rufo, Diana Silva, Carla Martins, Francisca Mendes, Tiago Rama, Ana Rodolfo, Joana Madureira, Luís Delgado, Eduardo de Oliveira Fernandes, Patrícia Padrão, Pedro Moreira, Milton Severo, Maria de Fátima Pina, João Paulo Teixeira, Henrique Barros, Lasse Ruokolainen e Tari Haahtela.

Para além do ISPUP, participaram na investigação as faculdades de Medicina (FMUP e de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP) da U.Porto, o  INEGI o I3S, a Fundação Oswaldo Cruz, o INSA, e a Universidade de Helsínquia.

O estudo foi desenvolvido ao abrigo do projeto ARIA: “Como a qualidade do ar pode influenciar asma e alergia nas crianças”. Este projeto de investigação científica abrange as áreas da saúde e ambiente interior, com foco na qualidade do ar interior e na saúde em escolas do ensino básico da cidade do Porto.