O surto de COVID-19 já infetou mais de 6 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas a origem do novo coronavírus SARS-CoV-2 permanece desconhecida, embora os pangolins tenham sido sugeridos como potenciais hospedeiros. Contudo, um consórcio de investigadores, que envolve o geneticista português Agostinho Antunes do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR-UP) e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), concluiu que é pouco provável que o pangolim tenha sido o hospedeiro natural do vírus causador da COVID-19.

Publicado na última edição da revista cientifica Conservation letters, o estudo efetuou a triagem molecular de dois pangolins apreendidos na província de Guangdong, na China e revelou a presença de um coronavírus (COV) num deles.

O pangolim infetado exibia dificuldade em respirar, infeções nos pulmões, intestinos e narinas, conforme revelado por imagens de tomografia computadorizada e necropsia. Contudo, são vários motivos que levam a equipa internacional a “ilibar” o pangolim.

Um bode expiatório?

Na verdade, análises filogenéticas anteriores mostraram que o coronavírus do morcego RaTG13 está mais próximo do SARS-CoV-2 em comparação com o coronavírus do pangolim. Entre os outros motivos referidos pela equipa de investigação inclui-se igualmente o facto de mais de 20 cuidadores terem tido contacto físico próximo com o pangolim CoV-positivo, mas nenhum ter sido infetado.

Mais ainda, Agostinho Antunes e os restantes investigadores apontam para o facto de muito poucas espécies terem sido rastreadas para o novo coronavírus desde o início da epidemia.

Ainda assim, estudos recentes mostraram infeção de outras espécies como o tigre do Brinx Zoo (EUA), furões e gatos com SARS-CoV-2. Por outro lado, e apesar de se saber que outras espécies – como cães, porcos ou vacas  – são suscetíveis a COV’s, são mais de 6000 as espécies de mamíferos que continuam por testar quer para o SARS-CoV-2 como para outros coronavírus em geral.

Agostinho Antunes estudou durante mais dez anos o genoma do pangolim, o qual ajudou a descodificar. (Foto: DR)

Um mistério por desvendar

Aparentemente, os pangolins foram testados por liderarem o comércio ilegal de animais selvagens. Mas apesar de a ameaça de conservação aos pangolins ser real, tal não justifica falsas alegações não comprovadas sobre a transmissão zoonótica do SARS-CoV-2.

De acordo com os investigadores, serão necessários agora estudos não invasivos em grande escala em populações selvagens saudáveis ​​de pangolins para confirmar a prevalência e diversidade de coronavírus. Algo que até agora se mostrou impraticável visto o pangolim ser uma espécie ameaçada de extinção.

Estes e outros motivos associados à ecologia dos pangolins e à sua baixa imunidade a microrganismos patogénicos estão agora descritos no estudo “Are pangolins scapegoats of the COVID-19 outbreak-CoV transmission and pathology evidence?” publicado na revista Conservation letters.

No seu conjunto, as evidências encontraram levam então os investigadores do consórcio internacional a sugerir que é improvável que os pangolins funcionem como reservatórios naturais ou hospedeiros secundários do SARS-CoV-2. Os pangolins parecem ser, isso sim, mais uma vítima infetada por um outro coronavírus transportado por uma espécie de hospedeiro natural ainda não identificado.

Recorde-se que Agostinho Antunes é o investigador responsável pela equipa de Genómica Evolutiva e Bioinformática do CIIMARum dos responsáveis pela descodificação do genoma dos pangolins