Depois de, na manhã do passado dia 10 de dezembro, uma Baleia-piloto-de-aleta-longa (Globicephala melas) ter arrojado na praia de Matosinhos, muitas foram as dúvidas que chegaram ao Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) sobre o que fazer quando detetamos um arrojamento na praia. A pensar nisso, a equipa do projeto CETUS  do CIIMAR – à qual coube identificar a espécie que deu à costa em Matosinhos – prontificou-se a esclarecer o público sobre as causas e procedimentos em caso de arrojamento de cetáceos.

Mas o que é afinal um arrojamento? Trata-se do fenómeno que ocorre quando um animal marinho encalha na praia e não consegue regressar à água pelos seus próprios meios.

E quais são as causas? Podem ser muitas mas, habitualmente, são acontecimentos causados por problemas de saúde dos animais, condições climatéricas ou por mesmo causas antropogénicas como atropelamento por embarcações, poluição, emanharamento em redes de pesca, entre outras.

O cenário mais comum é o arrojamento de animais mortos mas também é possível que os animais ainda estejam vivos. Nessa altura os animais apresentam comportamentos atípicos devido ao stress que o arrojamento lhes inflige.

O que devemos fazer quando encontramos um animal arrojado?

Antes de qualquer procedimento, há que garantir condições de segurança. Dado que os cetáceos são mamíferos tal como o ser humano, é de evitar tocar-lhes sem equipamento de proteção adequado. Não sabemos a causa do arrojamento do animal pelo que pode haver risco de transmissão de doenças entre nós e o animal.

Se o animal estiver na zona de rebentação, é preferível nunca interferir porque o peso do animal e a força das ondas podem provocar acidentes graves àqueles que tentarem colocar-se entre a praia e o animal.

Se o animal estiver vivo, não devemos tentar devolvê-lo ao mar mas antes protegê-lo do sol e manter a pele húmida  usando tecidos molhados em água do mar, tendo o cuidado de nunca tapar o orifício respiratório.

De seguida, é aconselhável contactar as autoridades competentes. As entidades autorizadas para mobilização e análise do animal são a Policia Maritima e, na zona norte, o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CRAM) – por e-mail [email protected] ou pelo telefone 919618705 – , respetivamente. Estas são as únicas entidades que podem agir sobre o arrojamento. Porém, o contacto com as autoridades locais ou com o CIIMAR é sempre uma mais valia para agilizar as restantes equipas.

Colaborar no registo do arrojamento

Uma vez detetado um arrojamento, é muito útil fornecer todos os detalhes sobre as características do animal, local e situação em que se encontra. Estes dados podem ser fornecidos através de um conjunto de fotografias dos aspetos mais relevantes do corpo e que permitem fornecer às equipas de salvamento uma visão global e detalhada do animal.

O conjunto dessas fotografias deve incluir: uma fotografia que apanhe todo o corpo do animal, de preferência acompanhado de um objeto de tamanho estandardizado para usar como referência para previsão do tamanho (ex, uma caneta, uma moeda, um sapato, etc.); uma fotografia da cabeça e dentes (se possível); uma fotografia da vista dorsal e respetiva barbatana; uma fotografia da vista ventral e respetiva barbatana: e uma 1 fotografia da cauda.

Estas fotografias permitem não só uma identificação inicial da espécie em causa mas também podem ajudar a perceber as possíveis causas do arrojamento, o estado de degradação do animal, entre outro tipo de informações que podem ser determinantes.

Sensibilizar e partilhar

Por fim, e porque a comunicação é chave para a sensibilização, é importante passar a palavra. A partilha destes procedimentos é de grande importância para a sensibilização das populações e permitirá que outros arrojamentos sejam devidamente acompanhados nas melhores condições de segurança.