O investigador português Miguel Xavier, mestre em Bioengenharia – ramo de Engenharia Biomédica – da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), foi recentemente distinguido pela Comissão Europeia com uma bolsa individual Marie Curie no valor de 160 mil euros. GASTRIC é o nome do projeto premiado, focado no desenvolvimento de um dispositivo automatizado que simula a digestão e absorção intestinal de fármacos ou suplementos alimentares ingeridos oralmente.

“A partir deste dispositivo, será possível prever se um determinado composto ativo é devidamente digerido e absorvido e se se torna disponível para atingir, por exemplo, um órgão-alvo. Com um dispositivo deste tipo, espera-se, por um lado, conseguir acelerar o tempo necessário para o desenvolvimento de novos fármacos ou suplementos e, por outro lado, reduzir a necessidade de recorrer a estudos com animais para fazer essas mesmas previsões.”, esclarece o investigador.

O projeto, a ser desenvolvido por Miguel Xavier e restante equipa de investigação no Laboratório Internacional de Nanotecnologia (INL), em Braga, conta ainda com dois parceiros no Reino Unido: a farmacêutica GlaxoSmithKline e a Universidade de Southampton, estabelecimento de ensino onde concluiu o doutoramento em 2018.

“Tinha a esperança de ser bem-sucedido”

Para Miguel Xavier, a conquista da bolsa Marie Curie constitui “um motivo de orgulho”, uma vez que se trata de um prémio competitivo e de elevada reputação. “O prestígio associado a estas bolsas e também a alta competitividade que lhes é característica motivaram-me a apresentar a minha candidatura. As expetativas foram sempre muito comedidas devido à baixa taxa de sucesso, que é normalmente abaixo dos 10%. Mas, claro, tinha a esperança de ser bem-sucedido e de conseguir financiamento para suportar a minha investigação”, revela o investigador português.

E, de facto, sucesso é algo que não tem faltado a Miguel Xavier: em março de 2017 foi distinguido no Parlamento Britânico com uma medalha de ouro no âmbito da competição “STEM for Britain”, que premeia jovens investigadores pela excelência do trabalho de investigação. Fruto do seu trabalho final de doutoramento, o projeto visou na altura o desenvolvimento de um chip de microfluídica para o isolamento de células estaminais da medula óssea.

“Olhando para trás, percebo a relevância deste projeto, uma vez que no Reino Unido já são utilizadas células da medula para promover a regeneração óssea no contexto de cirurgias de colocação de prótese total da anca. A taxa de sucesso destas cirurgias é muito elevada, mas, em pacientes com idade mais avançada, quando a capacidade de regeneração óssea já é mais reduzida, pode haver problemas na integração da prótese na matriz óssea. E é aí que o tratamento com células estaminais da medula do próprio paciente pode ser revolucionário.”, admite Miguel Xavier.

Agora, com um projeto de grande envergadura e 160 mil euros na mão, o futuro avizinha-se promissor para o investigador e alumnus da FEUP. “O próximo passo, e o mais importante, é executar este projeto com sucesso. Vou ainda procurar cimentar as relações profissionais que criei no Reino Unido, aproveitando também para aprender novas técnicas e obter conhecimento que me poderão ajudar mais tarde”, conclui.