Rafael Cardoso, antigo estudante da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) e atual investigador no prestigiado Centro Alemão de Investigação do Cancro (DKFZ), é um dos vencedores da edição 2022 do Prémio de Prevenção do Cancro Colorretal, o galardão atribuído anualmente pela Fundação LebensBlicke (Alemanha) aos autores de trabalhos científicos de excelência no campo do rastreio e deteção precoce do cancro colorretal.

O trabalho premiado foi desenvolvido no âmbito do doutoramento de Rafael Cardoso e teve como base um dos estudos mais completos alguma vez feitos na Europa sobre os efeitos do rastreio do cancro colorretal (também conhecido como cancro do intestino) a nível populacional.

Partindo da análise das diversas estratégias de rastreio do cancro colorretal implementadas em 21 países (incluindo Portugal), o investigador português procurou avaliar a eficácia das mesmas desde o ano 2000, altura em que os programas começaram a ser implementados um pouco por toda a Europa. Mais concretamente, “estudámos o progresso atingido nos últimos 20 anos pelos 21 países europeus ao nível da incidência da doença, da sua distribuição por estadio e da mortalidade, à luz das características e parâmetros dos vários programas em vigor”, explica.

O estudo – publicado em maio do ano passado na revista científica The Lancet Oncology, com o título “Colorectal cancer screening and progress in cancer control in European countries” – permitiu identificar, por exemplo, “grandes diferenças em alterações de incidência que acompanharam os diferentes níveis de implementação e utilização de rastreio”.

Já ao nível da mortalidade, Rafael Cardoso revela que “os países com programas de rastreio, particularmente aqueles cuja implementação teve lugar há mais tempo, atingiram reduções duas a três vezes mais acentuadas do que os países sem oferta deste tipo de programas”.

A importância de travar o cancro colorretal

O resultado deste trabalho, que envolveu mais de 50 investigadores – incluindo da U.Porto – dos 21 países estudados constitui então um dos retratos mais extensivos algumas vez feitos sobre o combate ao cancro colorretal a nível europeu. “Que tenhamos conhecimento, o nosso estudo fornece a evidência mais robusta em termos de efeitos dos programas de rastreio do cancro colorretal a nível populacional, ou seja na “vida real”, na Europa”, enaltece o jovem investigador.

Rafael Cardoso espera, por isso, que o trabalho “encoraje fortemente os países com rastreio para intensificarem os seus esforços e, particularmente, que motive os decisores dos países sem oferta de rastreio para planear e implementar programas organizados para fazer face ao inquietante aumento da incidência e progresso limitado na redução da mortalidade”.

Uma opinião partilhada por Hermann Brenner, professor e investigador do DKFZ, e supervisor do projeto de Rafael Cardoso, para quem o trabalho agora premiado mostra “de forma notável a influência dos muito diferentes programas de rastreio no desenvolvimento da incidência e mortalidade do cancro colorretal na Europa”.

O Prémio de Prevenção do Cancro Colorrectal 2022 consiste num prémio monetário de 4 mil euros e será entregue no próximo mês de março, na cidade alemã de Ludwigshafen.

Um trampolim para o mundo

Natural de Baião, Rafael Cardoso, 29 anos, licenciou-se em Ciências da Nutrição pela FCNAUP, em 2014. “A Universidade do Porto e, particularmente a FCNAUP, marcaram-me de uma forma muito especial, quer a nível pessoal quer a nível intelectual. Na FCNAUP, tive a oportunidade e o privilégio de presidir a associação de estudantes e, portanto, esses anos foram muito intensivos em termos de aprendizagem e relacionamento pessoal”, recorda.

Após a conclusão do curso, o investigador partiu para Dinamarca para realizar um estágio no gabinete europeu da Organização Mundial da Saúde. Regressou a Portugal, mas por pouco tempo. Em 2016, o “crescente entusiasmo por estudar e fazer face a problemas globais” levou-o até à Universidade de Maastricht (Países Baixos), onde, um ano depois, completou o mestrado em Saúde Global .

A viver desde junho de 2018, em Heidelberg (Alemanha), Rafael Cardoso é estudante do doutoramento em Epidemiologia na Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg, estando a desenvolver o seu trabalho de investigação na equipa liderada por Hermann Brenner no DKFZ.