Uma equipa internacional acaba de publicar um artigo científico no qual descreve oito espécies de esponjas marinhas, uma das quais foi “batizada” em homenagem à investigadora Joana Xavier, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP). Esta espécie foi descrita com base num exemplar recolhido pela cientista da U.Porto numa gruta subaquática em Tenerife em 2007, quando ainda estava a fazer o seu doutoramento.
Apesar de estarem interessados em esponjas das ilhas Baleares no Mediterrâneo, os investigadores do Centro Oceanográfico das Baleares e do Museu da Evolução da Universidade de Uppsala acabaram por comparar amostras com outros locais e encontrar oito novas espécies para a ciência. Uma vez que uma delas tinha sido recolhida pela investigadora do CIIMAR Joana Xavier, e em reconhecimento da sua dedicação a avançar o conhecimento de espécies em mar profundo, resolveram atribuir-lhe o seu nome – Caminus xavierae.
Segundo Joana Xavier, “apesar de nessa altura mergulhar muito para recolher amostras para o meu doutoramento, não era costume fazer mergulhos em grutas. E este mergulho em específico foi feito precisamente para recolher um exemplar daquela que julgávamos ser Caminus vulcani, a pedido do meu colega Paco Cárdenas, último autor deste artigo, e que na altura também estava a fazer o seu doutoramento sobre a sistemática e evolução deste grupo taxonómico.”
Hoje, passados vários anos, e no seguimento da recolha de novas amostras nas Baleares pelos investigadores envolvidos neste estudo, percebeu-se que afinal esta amostra correspondia na realidade a uma nova espécie para a ciência que agora puderam descrever.
Um novo olhar sobre Caminus xavierae
A Caminus xavierae é uma esponja marinha em forma de almofada de cor castanha clara, e que possui um ósculo central (por onde sai a água) com margens elevadas, e inúmeros poros mais pequeninos (por onde entra a água) que formam um padrão estrelado na superfície da esponja.
Os elementos estruturais que constituem o seu esqueleto, são espículas siliciosas com morfologias distintas: algumas de maiores dimensões (estrôngilos e ortotrienas) e outras de menores dimensões (esterrasters, oxyasters e esférulas) que formam um córtex, uma espécie de “casca” superficial.
Para já, esta espécie só é conhecida desta gruta em específico pelo que seria importante perceber quão restrita é a sua distribuição.
Um novo nome
Atribuir o nome de alguém a uma espécie é uma prática relativamente comum entre a comunidade de taxonomistas. Contudo, nunca estas escolhas são casuais.
“É obviamente uma grande honra termos uma espécie cujo nome nos é dedicado. É uma forma de homenagear alguém que admiramos pelas contribuições que têm feito neste campo do conhecimento – a taxonomia – que é tão importante e no entanto tão pouco valorizado” refere Joana Xavier, que já conta com mais duas espécies a ela dedicadas: a primeira – Calthropella (Calthropella) xavierae van Soest, Beglinger & de Voogd 2010, foi “batizada” pelo seu orientador de doutoramento, Rob van Soest. do Museu Zoológico de Amesterdão; e a segunda – Hymedesmia (Hymedesmia) xavierae Goodwin, Picton & van Soest 2011, por uma colega irlandesa, Claire Goodwin, também investigadora neste grupo.
Avançar o conhecimento sobre esponjas marinhas
Joana Xavier coordena a equipa de Biodiversidade e Conservação do Mar Profundo no CIIMAR que se dedica ao estudo de padrões de diversidade, distribuição e conectividade de espécies e habitas bentónicos de mar profundo, em particular os que são dominados por esponjas marinhas.
A equipa tem de momento a decorrer projetos dedicados a esta temática, que vão desde o desenvolvimento de uma base de conhecimento sobre as esponjas e corais da plataforma e talude de Portugal continental em colaboração com comunidades piscatórias locais no projeto o DEEPbaseline, ou a identificação dos principais hotspots de biodiversidade de espécies e habitats de esponjas em todo o Atlântico e Mediterrâneo no projeto SponBIODIV.
Dentro de alguns meses, abraçará mais três projetos que permitirão expandir estes estudos, nomeadamente para o desenvolvimento e aplicação de metodologias de baixo custo para melhor mapear, monitorizar e até restaurar estes habitats.