Joana Xavier é uma presença recente no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), mas a sua relação com o Mar já remonta aos seus tempos de infância.

Crescida na zona piscatória de Caxinas, em Vila do Conde, passou a maior parte da infância e adolescência explorando a praia, as poças de maré, as suas formas de vida e a imaginar o que estaria para além daquelas linhas: a do horizonte e da superfície do oceano.

Conhecendo as esponjas

Foi precisamente a curiosidade por essas questões que motivou Joana ir estudar Biologia Marinha nos Açores e tirar o curso de mergulho. E foi assim que conheceu o mundo das esponjas: “Foi nas aulas de biologia de invertebrados que me deixei fascinar pelas esponjas marinhas, um grupo que nos pode ensinar muito sobre a história e evolução da vida nos oceanos”, recorda.

Mas a aventura no fundo do mar tinha apenas começado. Depois do curso, voou para a Holanda onde fez doutoramento sobre os padrões de diversidade e filogeografia de esponjas marinhas do Nordeste Atlântico na Universidade (e Museu Zoológico) de Amesterdão. Regressaria aos Açores em 2010 para um pós-doutoramento no CIBIO-Açores, dedicado ao estudo de esponjas de mar profundo.

A chegada ao CIIMAR

Em 2013, Joana parte novamente à aventura, desta vez para latitudes ainda mais altas, integrando uma equipa multidisciplinar dedicada ao estudo dos ecossistemas profundos da crista média do Ártico na Universidade de Bergen, na Noruega. Em 2018 vem para o CIIMAR como Investigadora Principal mantendo uma forte relação com a Universidade de Bergen, na qualidade de Professora Associada convidada.

O futuro

Hoje, Joana Xavier e os seus colaboradores dedicam-se ao estudo dos padrões de diversidade e distribuição das esponjas marinhas e os habitats que elas formam em mar profundo. “Estamos muito interessados em perceber os factores ecológicos e evolutivos que modelam esses padrões. Para isso, usamos uma abordagem integrativa que combina dados morfológicos, ambientais e moleculares com o intuito de desenvolver ferramentas de apoio à gestão e conservação destes ecossistemas vulneráveis”, explica a investigadora.

Exemplo disso é o projeto DEEPbaseline, distinguido recentemente com a maior fatia do financiamento atribuído na terceira edição do Fundo para a Conservação dos Oceanos.

Um projeto liderado pela investigadora levou a maior fatia do financiamento atribuído este ano, pelo Fundo para a Conservação dos Oceanos. (Foto: DR)

– Naturalidade? Vila do Conde.

– Idade? 40 anos

– O que mais gosta na Universidade do Porto?

Da qualidade e interdisciplinaridade da investigação que se faz e do excelente ambiente de trabalho do CIIMAR. E do facto de ser um centro que acolhe e integra muito bem novos investigadores e apoia novas ideias.

– O que menos gosta na Universidade do Porto?

A dificuldade em conseguir um contato mais próximo com os alunos e de os envolver em projetos.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Melhorar a articulação entre a investigação que se faz nas Faculdades e nos Centros de Investigação e a integração dessa mesma investigação nos planos curriculares.

– Como prefere passar os tempos livres?

A brincar e a explorar o mundo natural com os meus filhos, e a desfrutar do tempo em família.

– Um livro preferido?

“A origem das espécies” de Charles Darwin

– Um disco/músico preferido?

Gosto de muitos, mas recentemente descobri um que me arrebatou pela sua profundidade, Benjamin Clémentine.

– Um prato preferido?

Adoro (e faço com frequência) comida vegetariana, mas o empadão de vitela da minha mãe é a minha melhor memória gastronómica.

– Um filme preferido?

“Billy Elliot”, um rapaz de uma família numa Inglaterra conservadora e machista da década de 80 que descobre a sua paixão pelo ballet, e que apesar das pressões e estereótipos realiza o seu sonho. “Nós somos o melhor de nós quando fazemos o que nos apaixona” tem sido o meu “motto”.

– Uma viagem de sonho?

Os Açores estão entranhados em mim desde 1997 e vou lá quase todos os anos. Quanto às viagens por realizar, a lista é longa, mas se pudesse organizava uma viagem ou, ainda melhor, uma expedição!, a todas as ilhas da crista média atlântica, de Jan Mayen (no Norte) a Bouvet (no Sul).

– Um objetivo de vida?

Ensinar aos meus filhos valores fundamentais (bondade, solidariedade, honestidade, respeito, empatia, responsabilidade) para que se tornem cidadãos bons e ativos. É um objetivo que vou cumprindo todos os dias um bocadinho.

– Uma inspiração? (pessoa, situação, livro, …)

A jovem ativista sueca Greta Thunberg, ela é um excelente exemplo do poder do indivíduo enquanto catalisador de mudança. É extraordinária!

– O projeto da sua vida?

A nível pessoal, esforçar-me por ter uma passagem por este planeta o mais sustentável possível: tenho dado muitos pequenos passos nesse sentido. A nível profissional, explorar alguns dos ambientes mais remotos do planeta, compreender como funcionam e sensibilizar a sociedade em geral para a necessidade de os preservar.

– Que potencial vê no fundo dos Oceanos para o futuro da Humanidade?

Acho que mais do que potencial, vejo a necessidade de melhor conhecermos a diversidade e o funcionamento dessa fração gigantesca dos Oceanos que é o mar profundo, e assegurarmos o seu equilíbrio e uso sustentável. Citando a famosa investigadora e exploradora Sylvia Earl (também conhecida como “her deepness”), “No blue, No green” e eu acrescentaria “No us”.