São textos inéditos de Fernando Pessoa, assinados pelo próprio ou pelos seus heterónimos, e fazem parte do “Espólio de Pessoa” – mais de vinte e sete mil documentos que o poeta português deixou numa arca, encontrada após a sua morte –, catalogado na Biblioteca Nacional de Portugal.

O Espólio de Pessoa encontra-se dividido em envelopes, contendo uma quantidade variável de documentos. Envelopes Filosóficos: Filosofia & Heteronímia, agora coeditado pela U.Porto Press e pelo Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (IFUP), dá ao leitor “a oportunidade de ler documentos filosóficos transcritos diretamente do espólio do autor, bem como de publicações que o poeta e pensador publicou durante a sua vida”, assinalam Nuno Ribeiro e Cláudia Souza, dois dos coordenadores deste novo título da coleção Transversal da Editora da U.Porto.

Como explica Maria Celeste Natário, docente do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), também coordenadora da publicação e autora do Prefácio, estes “Envelopes (…) constituíram base de reflexão para Seminários Abertos de Filosofia em Portugal, que decorreram em 2022”, na FLUP, tendo como convidados os investigadores Nuno Ribeiro, Cláudia Souza e Paulo Borges, “conhecidos hermeneutas da obra pessoana, designadamente no âmbito filosófico”.

Segundo a também coordenadora do Grupo de Investigação “Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal” do IFUP, o volume agora publicado “contribuirá para recolocar a obra pessoana no universo da Filosofia”, sendo este “o espaço, por excelência, onde o seu pensamento se inscreve”.

A seleção dos textos e coordenação da publicação ficou a cargo dos investigadores Nuno Ribeiro e Cláudia Souza (Introdução) e dos docentes Maria Celeste Natário (prefácio) e Paulo Borges (posfácio) . (Foto: U.Porto Press)

Fernando Pessoa, a Filosofia e os seus “outros eus”

Ao folhear Envelopes Filosóficos: Filosofia & Heteronímia, o leitor encontrará textos filosóficos assinados pelo próprio Pessoa, mas também por Alberto Caeiro, Ricardo Reis ou Álvaro de Campos – seus conhecidos heterónimos – e ainda “outros eus pessoanos ainda pouco divulgados”: Charles Robert Anon, Horace James Faber, Alexander Search, A. Moreira, Faustino Antunes, Frederick Wyatt, António Mora ou Raphael Baldaya.

Para além de revelar uma faceta menos conhecida da obra de Fernando Pessoa – a dimensão da sua escrita enquanto pensador filosófico – esta publicação mostra que o autor, na redação dos seus textos, “ao mesmo tempo que constrói filosofia, se desdobra noutros eus, isto é, noutras personalidades que pensam, produzem e assinam importantes reflexões filosóficas”, contam Nuno Ribeiro e Cláudia Souza.

“Fac-símile” das duas páginas do texto filosófico intitulado “Essay on Intuition” assinado por A. Moreira & Faustino Antunes [BNP/E3, 146 146 – 30]. / FOTO: DR.

Se, por um lado, a Biblioteca Particular do poeta e prosador português é prova da “multiplicidade das suas leituras, que estão na base da sua produção textual”, as suas listas de leituras de índole filosófica são, por outro lado, “testemunho do seu interesse pela Filosofia”, atestando, também, “o vasto conhecimento que tinha dos diversos autores e temas filosóficos”.

Este título está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.

Sobre os coordenadores

Nuno Ribeiro é investigador do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (IELT, NOVA – FCSH) e autor de mais de 20 edições sobre a obra de Fernando Pessoa publicadas na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos. Doutorou-se em Filosofia com uma tese sobre o espólio filosófico de Fernando Pessoa intitulada Tradição e Pluralismo nos Escritos Filosóficos de Fernando Pessoa.

Cláudia Souza é doutora em literaturas de língua portuguesa e pesquisadora do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. É autora de inúmeras edições e ensaios sobre a obra de Fernando Pessoa publicados na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos. Publicou mais de 20 edições do espólio de Fernando Pessoa.

Paulo Borges (Lisboa, 1959) é Professor no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Filosofia da mesma Universidade. Autor e organizador de 65 livros de ensaio filosófico, aforismos, poesia, ficção e teatro, publicados em Portugal, Espanha e Reino Unido.

Maria Celeste Natário é Professora Associada no Departamento de Filosofia da FLUP, onde se doutorou. Coordena o Grupo de Investigação “Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal”, no IFUP, onde tem promovido o diálogo entre Filosofia e Culturas de Língua Portuguesa, bem como o diálogo entre Filosofia e Literatura.