Uma estratégia inovadora que conduz a droga diretamente ao alvo: a célula tumoral. É assim que Celso Reis e Joana Gomes, investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) descrevem a nanopartícula recentemente desvendada num estudo publicado na revista internacional Acta Biomaterialia, e que tem como objetivo encapsular os fármacos e conduzi-los diretamente às células do cancro gastrointestinal, contribuindo para atenuar o crescimento dos tumores.

Ao direcionar os fármacos para o tumor, esta espécie de “cápsula” permite “aumentar a eficiência e reduzir os efeitos secundários tão indesejados que muitas vezes constituem limitações ao próprio tratamento”, revela Celso Reis, líder do grupo «Glycobiology in Cancer», no i3S, e docente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Desenhada e desenvolvida pela equipa do i3S, esta estratégia foi concretizada num trabalho de doutoramento do ICBAS, realizado pela estudante Francisca Diniz, em colaboração com o grupo do i3S liderado pelo investigador Bruno Sarmento.

De acordo com Celso Reis, o nanossistema “tem como grande arma a utilização de partículas que carregam as drogas modificadas e são revestidas com anticorpos direcionados para as alterações presentes no cancro gastrointestinal”, revelando-se por isso uma estratégia promissora num tipo de cancro muito desafiante para a ciência.

“O cancro gastrointestinal tem uma incidência relativamente alta no mundo, nomeadamente em Portugal, e infelizmente tem um prognóstico muito negativo, principalmente se for detetado em estadios avançados”, reconhece o investigador.

Os resultados em modelos animais permitiram verificar uma maior eficiência do fármaco quando encapsulado na nanopartícula, se comparado com a sua administração não direcionada.

“Em estudos clínicos, esta droga revelava-se bastante citotóxica, causando efeitos secundários adversos”, afirma Joana Gomes, investigadora responsável pelo estudo.

Os ensaios laboratoriais permitiram ainda verificar uma redução significativa na proliferação dos tumores tratados através deste método, já que, nos modelos animais estudados, verificou-se um menor crescimento tumoral, conforme confirmou a investigadora.

Um trabalho de anos, um futuro à espera

Esta estratégia inovadora resulta de largos anos de investigação na identificação das modificações moleculares que ocorrem no cancro, realizada pelo grupo Glycobiology in Cancer. “Nós sabemos que a glicosilação é muito  importante na resistência à terapia.

A utilização destas moléculas como alvo nas células tumorais e a possibilidade de libertar drogas de forma controlada, abre um leque de possibilidades terapêuticas inovadoras”, afirma Joana Gomes.

Com os resultados obtidos a nível experimental, o projeto encontra-se  numa fase de valorização da tecnologia e captação de financiamento com vista a possíveis ensaios clínicos.