Chama-se AWARE, acrónimo de “Aquaponics from WAstewater REclamation”, o projeto-piloto instalado na estação de tratamento de águas residuais de Castellana Grotte, em Bari, no sudeste de Itália. O principal objetivo é criar uma quinta que combina a reutilização de águas residuais com aquacultura e a hidroponia (cultivo de plantas fora do solo) e o processo já arrancou: foram cultivados legumes como a alface no mesmo espaço onde vivem peixes (tilápia). Até 2026 são esperados resultados sobre a sustentabilidade do processo, de acordo da equipa de investigação envolvida no projeto, na qual se incluem cientistas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Na opinião de Olga Nunes, investigadora do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da FEUP, e Célia Manaia. da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, há vantagens neste tipo de abordagem. Desde logo por “possibilitar a reutilização de água residual, um processo imprescindível no futuro próximo devido à escassez de água doce, principalmente em países do sul da Europa”.

“Adicionalmente, esta tecnologia permite a recirculação de nutrientes, atendendo a que os detritos produzidos pelos peixes podem servir de fertilizante para a produção vegetal. De uma só vez, fertilizam-se os vegetais e limpa-se a água onde crescem os peixes”, avançam as investigadoras, acrescentando que a ideia de colaborar num projeto desta natureza partiu das potencialidades de tratar as águas residuais e “dar-lhes uma nova vida”.

“Quando falamos em tratar águas residuais para níveis de qualidade muito elevada, falamos de remover contaminantes químicos como os produtos farmacêuticos e de higiene. Mas também de microrganismos patogénicos ou outros potencialmente perigosos, designadamente bactérias resistentes a antibióticos”, explicam Olga Nunes e Célia Manaia.

Juntamente com a Universidade de Vigo e de Santiago de Compostela que também integram o consórcio, a FEUP e a UCP – Porto vão dedicar-se à parte da bacteriologia: estudar os perigos microbiológicos, a sua presença nas águas e possível acumulação nos vegetais e nos peixes e ainda explorar as potencialidades do microbioma do peixe. Investigadores da Universidade Rey Juan Carlos (Madrid) estarão dedicados por sua vez ao tratamento avançado de águas residuais.

A coordenação deste consórcio europeu está a cargo de Fábio Ugolini (Innova SRL, Itália), um entusiasta da inovação, que conseguiu juntar um consórcio de 20 instituições académicas e empresas que acompanham o projeto desde a engenharia às ciências da nutrição, passando pelo marketing.