Estela Rocha Oliveira, estudante da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), foi a grande vencedora do Prémio da Fundação Ernesto Morais, no valor de 15 mil euros.

Atualmente a frequentar o 5.º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIMED), a estudante de 22 anos de idade, oriunda de Penafiel, recebeu a distinção durante uma cerimónia realizada no dia 3 de novembro, na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos.

“É com enorme sentido de responsabilidade que encaro este apoio, que representa não só um incentivo para intensificar a minha atividade científica, mas também um reconhecimento de todo o trabalho feito até à data. É muito importante que os estudantes de Medicina com interesse em fazer investigação possam ter acesso a apoios como este, dada a dificuldade geral e crescente em obter financiamento com este fim”, reage Estela Rocha Oliveira.

Orientada por Francisco Vasques-Nóvoa, professor da FMUP e investigador da Unidade de Investigação & Desenvolvimento Cardiovascular (UnIC@RISE), a jovem estudante entende que “os médicos devem procurar conciliar a investigação com a prática clínica” e que este tipo de apoio “estimula o desenvolvimento do espírito crítico e a aquisição de competências do foro científico, pouco abordadas durante o curso”.

O galardão distingue o trabalho de investigação de translação intitulado “O papel do ácido hialurónico na fisiopatologia e progressão da insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada”. Esta entidade representa mais de 50% dos casos de insuficiência cardíaca, uma das principais causas de mortalidade a nível global, observando-se um aumento preocupante da sua prevalência devido ao envelhecimento da população.

“Este tipo de insuficiência cardíaca é muito característico de uma faixa etária mais avançada e está a associado à presença de comorbilidades cardiovasculares, nomeadamente a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, a obesidade e a doença coronária”, explica a estudante de Medicina.

Desenvolver o estudo da insuficiência cardíaca

Apesar da sua elevada prevalência, a insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp) constitui ainda “uma síndrome extremamente heterogénea, existindo atualmente um grande interesse em descobrir subgrupos/fenótipos distintos de doença tendo por base diferentes mecanismos fisiopatológicos, aos quais possa estar subjacente uma resposta a novas terapêuticas dirigidas” realça o orientador.

Um dos objetivos é estudar o papel do ácido hialurónico, um dos constituintes do glicocálice e da matriz extracelular do miocárdio, na ICFEp, nomeadamente o seu impacto na regulação permeabilidade microvascular, na inflamação e no edema miocárdico.

Utilizada amplamente na cosmética pelo seu efeito hidratante, esta substância naturalmente presente no organismo tem uma elevada capacidade de se ligar à água, o que lhe confere propriedades bem conhecidas na pele. Essa capacidade pode ser crucial para o controlo da quantidade de água retida no interstício miocárdico, existindo evidência que o seu excesso (edema) pode tornar o tecido cardíaco mais rígido e prejudicar o bom funcionamento do coração.

A investigação irá recorrer a modelos experimentais de ICFEp e a amostras biológicas de um estudo de coorte constituído por mais de uma centena de doentes com diagnóstico de ICFEp.

No futuro, os resultados deste estudo poderão contribuir para a utilização do ácido hialurónico como um biomarcador de disfunção cardíaca na ICFEp e também como um potencial novo alvo terapêutico, através da modulação da atividade das enzimas responsáveis pela sua produção ou degradação.