Directo e Verdade o Cinema vai levar-nos até aos anos 1950 e 1960 do século passado. A proposta é do  KINO-DOC, núcleo de cinema de cursos de documentário presenciais e online. Uma sessão de cinema, na Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto, todas as sextas feiras, até ao final do mês de janeiro. Sempre às 21h30. E com entrada livre.

As câmaras portáteis e leves tornam-se comuns depois da 2.ª Grande Guerra. Os 16 mm de película foram-se impondo, descartando a necessidade do tripé e de uma equipa técnica. Assim ganha terreno a máxima de “uma câmara na mão e uma ideia na cabeça”, como escreveu Glauber Rocha e começam a proliferar as aventuras de câmara na mão de Cassavetes, Godard e Coutard.

Cinema Direto e Cinema Verdade

Neste ciclo de cinema, vamos poder assistir a documentários que nos ajudarão a perceber dois conceitos gémeos: “Direct Cinema” e “Cinéma Vérité”. São duas expressões éticas e filosóficas que surgiram nos anos 1950 e 1960 do século passado. Não só exploram a relação do cinema com a realidade como, fundamentalmente, trouxeram o documentário para a rua.

Com o “Cinema direto” o cineasta comporta-se como uma mosca na parede, ou seja, a relação que estabelece com a realidade é de observador.

Com o “Cinema Verdade”, pelo contrário, a revelação cumpre-se através da intervenção de quem filma sobre o que está a filmar (o cineasta como uma mosca que caí na sopa do Vérité). Duas práticas que correspondem a dois “credos” que continuam a ser essenciais no entendimento do documentário contemporâneo.

O que vamos poder ver

Na década de 1950, para além do que ia surgindo na Europa, foi no Canadá, com o  National Film Board (NFB), que se manifestam as novas formas expressivas do documentário moderno de câmara à mão. É, precisamente, com duas produções do NFB que se compõe a primeira sessão do ciclo, marcada para dia 12 de janeiro.

Vamos assistir a Police (1958), um episódio da série televisiva The Candid Eye, realizado por Terence Macartney-Filgate, e Pour la suite du monde (1963), um filme de Pierre Perrault, Marcel Carrière e Michel Brault que, com Gilles Groulx, revelou uma técnica inovadora de movimento de câmara perante os seus pares franceses, mesmo aqueles que,  como Raoul Coutard, já colocavam a câmara ao ombro.

Dia 19 de janeiro serão exibidos Portrait of Jason (1967), de Shirley Clarke, e Noite de Natal Em St. Pauli (1968), de Klaus Wildenhahn. São exemplos de “Vérité” na América e de “Direct Cinema” na Europa, ambos sob o signo da expressão latina “in vino veritas”, atribuída ao poeta Alceu de Mitilene, uma antiga máxima que já respondia ao “problema da verdade”.

Portrait of Jason (1967), passa dia 19 de janeiro, na Casa Comum. (Foto: DR)

A última sessão, agendada para a noite de 26 de janeiro, é composta por diversos filmes, desde a origem do cinema, em finais do século XIX, até à primeira metade da década de 1950, anunciando os vindouros “cinemas direto e verdade”, pela escolha da observação como ato cinematográfico ou, por outro lado, pela interação verbal de cineastas com protagonistas, ou ainda pela mobilidade da câmara. A exceção é introduzida com o “primeiro filme da História do Cinema”, La sortie de l’usine Lumière à Lyon (1895), de Louis Lumière.

Incluída nesta sessão apresenta-se a releitura (realizada pelo KINO-DOC) de Divine Horsemen: the Living Gods of Haiti, de Maya Deren, que filmou de câmara à mão a dança e as possessões do vudu haitiano entre 1947 e 1951, um filme montado e tornado público muitos anos após a morte da autora. Fazem parte ainda desta sessão, montagens curtas de filmes maiores, também realizadas pelo KINO-DOC. São os casos de The Memphis Belle, Alemanha 1945 e Atrocidades Nazis.

As sessões têm entrada gratuita até ao limite da lotação da sala.