Filosofia “pretende, à sua maneira, ser uma introdução à filosofia (…)”. É desta forma despretensiosa que Paulo Tunhas – filósofo, escritor, ensaísta, antigo docente do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e investigador do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (IFUP), falecido em maio passado –, definiu esta sua obra, logo nas primeiras linhas.
Filosofia é, assim, publicado a título póstumo, numa coedição do IFUP e da U.Porto Press, passando a integrar a coleção Transversal da Editora da Universidade do Porto.
Como confidencia Diogo Pires Aurélio, um dos editores da obra, quando esta lhe chegou às mãos “Paulo Tunhas ainda fervilhava de ideias (…) e, como sempre, trabalhava, trabalhava muito, fazia horas a todos os títulos extraordinárias”. E continua, explicando que “tinha na forja (…) um outro livro. Entretanto, escrevera este: Filosofia. Sem mais”.
Os sistemas filosóficos e a diversidade das maneiras de pensar
Uma leitura mais atenta desta obra revela, contudo, que Paulo Tunhas não se ficou por uma introdução à filosofia. Partindo da ideia de que a filosofia pode ser concebida como uma atividade, como uma “busca de saber, como algo que é ensinável, algo de sistemático” – e referindo-se a este último como a um “pensamento que procura organizar-se como um todo coerente” –, Paulo Tunhas chega à ideia de sistema filosófico, algo que não deriva apenas da busca pela coerência. Algo que implica “procurar esgotar a totalidade do pensável”.
Nas suas palavras, os sistemas filosóficos procuram “construir um mundo integralmente coerente que seja habitado por tudo aquilo que podemos pensar, sem que nada lhe escape e sem que nada se encontre fora do lugar que essa coerência da totalidade exige”.
Sobre o ato de pensar, Paulo Tunhas coloca-o como a questão central da filosofia, para a qual todas as outras remetem. Considera “perfeitamente aceitável” concebê-lo como “um diálogo silencioso da alma consigo mesma”, embora acrescentando que esse diálogo obedece a regras distintas conforme o objeto em causa.
Na opinião do filósofo e ensaísta, “não pensamos todos os objectos da mesma maneira”, definindo “três grandes tipos de objectos aos quais correspondem três maneiras de pensar distintas”: os do domínio da natureza, os do campo da beleza e os do domínio da liberdade.
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Sobre Paulo Tunhas
Paulo Jorge Delgado Pereira Tunhas (1960-2023) concluiu a licenciatura em Filosofia na U.Porto e doutorou-se, também em Filosofia, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, com a tese Abîmes, Passages, Limites. Système et pré-système chez Kant (1998), que permanece inédita.
Foi Professor Auxiliar do Departamento de Filosofia da FLUP e Investigador Principal do IFUP. Antes de ingressar na U.Porto, foi professor na Universidade Fernando Pessoa (1997-2008) e Pesquisador Visitante no Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (2016).
Também filósofo, participou regularmente em encontros de filosofia e debates públicos. Os seus trabalhos encontram-se dispersos por inúmeras obras coletivas ou revistas, no país e no estrangeiro.
Publicou os livros O essencial sobre Fernando Gil (INCM, 2007), O pensamento e os seus objectos. Maneiras de pensar e objectos de pensamento (FLUP, 2012) e As questões que se repetem. Uma breve história da filosofia (com Alexandra Abranches/D. Quixote, Lisboa, 2012).
Publicou, ainda, dois livros de poesia e um romance em fascículos, que terão reedição próxima, bem como comentário político, tendo colaborado em suplementos culturais de jornais diários.
Faleceu em abril de 2023, aos 62 anos, vítima de morte súbita.