Um estudo recentemente publicado na prestigiada revista Molecular Ecology, liderado pelas investigadoras Raquel Godinho e Diana Lobo, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto, e com a colaboração do investigador José Vicente López-Bao da Universidade de Oviedo em Espanha, revela que o declínio da população de lobo ibérico em meados do século XX levou a uma redução significativa da sua diversidade genética.

Após décadas de intensa perseguição pelo homem, as populações de lobo ibérico registaram um grande declínio na década de 1970, reduzindo consideravelmente a sua área de distribuição e levando à extinção desta espécie em grande parte da região centro e sul da Península Ibérica. Este declínio populacional poderá ter afetado a diversidade genética do lobo ibérico através de diferentes processos, nomeadamente a deriva genética e a dinâmica de hibridação com cães domésticos.

Através da utilização de marcadores moleculares, a equipa de investigadores analisou o genoma do lobo ibérico antes e depois do declínio populacional, revelando uma diminuição significativa na diversidade genética da população atual, evidenciando o impacto que a perseguição humana pode ter na composição genómica desta espécie.

O estudo também permitiu descobrir que os eventos de hibridação entre lobo ibérico e cão não aumentaram nos anos 70, “não estando, portanto, associados com a extinção local das populações no centro e sul da Península Ibérica”, referem as investigadoras.

No entanto, a investigação também revela que a hibridação com o cão é mais frequente em áreas onde a população de lobo está a expandir, embora a baixa frequência destes eventos sugira que a integridade genética do lobo ibérico não está ameaçada.

Lobo ibérico: uma espécie em expansão

Para a realização deste estudo foram recolhidas diversas amostras de espécimes de lobo ibérico provenientes de coleções de história natural de museus em Portugal e Espanha, abrangendo um período que se estende de 1910 até aos anos 90. Essas amostras foram posteriormente comparadas com amostras contemporâneas de lobo ibérico.

Os resultados deste estudo destacam os impactos que uma redução populacional extrema pode ter no genoma das espécies e enfatizam a importância de uma adequada gestão e conservação de espécies selvagens.

As investigadoras do BIOPOLIS-CIBIO salientam ainda que “as conclusões deste estudo são particularmente relevantes no contexto do regresso e expansão do lobo em várias regiões da Europa onde anteriormente tinha sido extinto, abrindo futuras direções no estudo dessas populações”.

Em 2022, um outro estudo publicado por cientistas do BIOPOLIS-CIBIO e da Faculdade de Ciências da U.Porto “anunciava” a presença de um exemplar de lobo ibérico na Extremadura, o que marca o regresso desta espécie ameaçada àquela região espanhola.